Quarto assessor especial a deixar o governo Michel Temer, oficialmente, nesta terça-feira (23) – desde março ele já estaria despachando de fora do Planalto por ameaças de se tornar alvo da Lava-Jato –, Sandro Mabel (PMDB-GO) justificou que atendeu a um pedido da família. Em entrevista ao Timeline, da Rádio Gaúcha, o ex-deputado e amigo pessoal de Temer disse que vinha pedindo para voltar a Goiás desde setembro e que não considera este um mal momento para desembarcar do governo.
– No governo, acontece problema todo dia. Se ficar esperando ficar tudo bem pra sair, você não sai nunca.
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Mabel – que nunca foi oficialmente nomeado assessor especial – contou que não recebia salário pela função de intermediar as negociações do governo com o Congresso, pois era um "colaborador" do governo e amigo do presidente há mais de 20 anos. Afirmou que sua saída estava programada desde a semana passada, quando "tudo estava uma beleza", se referindo aos anúncios de melhora na Economia.
– Eu estava ali para ajudar o Brasil, para gente conseguir ressurgir a economia. Ajudei na montagem da equipe do governo. Ele foi pedindo para eu ficar mais, o tempo foi passando e minha família pressionando muito pra que eu voltasse. Aí chegou em um ponto que estava insustentável para mim. Falei para ele: "presidente, eu não consigo mais, eu tenho que ir embora".
Questionado sobre o momento da saída, em meio à repercussão das delações da JBS, que atingiram em cheio o presidente, provocando pedidos que vão de renúncia a impeachment, além da saída de outros três assessores – um deles, Tadeu Fillippeli, preso, nesta terça-feira (23), – Mabel minimizou, dizendo que a imagem de Temer não está desgastada, porque "tudo isso passa", e que o presidente segue tendo muito apoio.
– O clima de solidariedade é muito grande. Muita gente ligando, muita gente indo lá. a base ainda é muito forte.
O ex-assessor afirmou, ainda, que sua saída nada tem a ver com a inclusão de seu nome nas investigações da Lava-jato. Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito para investigar supostos repasses via caixa 2 à campanha de Mabel a deputado federal em 2010. Dois delatores da Odebrecht relataram que o peemedebista teria recebido R$ 100 mil e outro mencionou R$ 140 mil.
Ao Timeline, Mabel confirmou que recebeu funcionários da empresa em seu gabinete, mas disse que acreditava que a doação seria legal. Alegou que, no momento em que soube que seria caixa 2, rejeitou a doação.
– Em 2010, eu fui o campeão nacional de gastos. Não é que minha campanha foi a mais cara, é que declarei tudo. Não aceitei dinheiro por fora – disse.
O ex-deputado disse que considera "normal" ser investigado, já que isso acontece com todos os citados em delações.
– Meu imposto de renda é R$ 1 bilhão. Não tenho preocupação com R$ 100 mil – afirmou, rindo.
Em abril, a Procuradoria-Geral da República remeteu petição para que ele fosse investigado na Justiça Federal de Goiás. Segundo delatores da empreiteira, ele teria recebido R$ 10 milhões para ajudar a Odebrecht e a Andrade Gutierrez a vencer a licitação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. Sobre isso, Mabel não falou durante a entrevista.