Não vem de hoje nem de ontem a rede de influências tecida pela maior empreiteira do país para conquistar esse lugar no pódio do empresariado nacional. A Odebrecht começou a comprar políticos e governos ainda na década de 1940, conforme confessou em delação Emílio Odebrecht, cérebro do grupo fundado pelo patriarca, Norberto, já falecido, e herdado pelo neto, Marcelo, também delator da Lava-Jato. Além dos cabeças do conglomerados, os mais de 850 depoimentos prestados por 78 dirigentes da Odebrecht tornam possível listar alguns métodos usados pela empreiteira para obter dividendos.
Prospecção dos melhores contratos
Servidores públicos eram subornados para informar a Odebrecht, antes da concorrência, quais as obras estavam no horizonte. Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, foi um desses colaboradores sistemáticos. A empresa calcula ter gasto R$ 194,8 milhões com esses pagamentos (veja exemplos no mapa).
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Financiamento a políticos promissores
O relacionamento siamês com raposas da política fazia com que diretores da Odebrecht recebessem indicações de jovens com futuro promissor. Segundo contam os delatores, o então governador gaúcho Tarso Genro (PT) recusou polidamente recursos da empreiteira, mas recomendou o correligionário e então prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT). Também segundo as delações, a ex-ministra e deputada federal Maria do Rosário (PT), quando candidata a prefeita de Porto Alegre, chamou a atenção dos dirigentes da empresa, que a ajudaram na campanha.
Aluguel de contribuições
Quando a Odebrecht atingiu o teto de doações legais permitidas em 2014, não hesitou em "alugar" serviços da cervejaria Itaipava. A Itaipava doou a políticos amigos – mas o dinheiro era, na realidade, da empreiteira.
Simbiose entre empresa e governos
O governo ajuda a empresa que ajuda os políticos. Esse foi o mantra da Odebrecht desde a década de 1940. Em 2005, por exemplo, Marcelo Odebrecht pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que reconhecesse o papel do então presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, como "pacificador e líder regional", e fizesse referência às ações realizadas por empresas brasileiras em Angola, com destaque para a Odebrecht.
O recado foi transmitido por e-mail (agora em poder da Polícia Federal) enviado ao ex-diretor Alexandrino de Alencar, com sugestões a serem repassadas a Lula por meio do ex-ministro Gilberto Carvalho na véspera de um encontro entre os presidentes brasileiro e angolano.
No dia seguinte, Lula disse em discurso que Eduardo dos Santos "soube liderar Angola na conquista da paz" e elogiou a sua "perseverança e visão de futuro". Também mencionou o projeto da central hidroelétrica de Capanda, referido no e-mail de Marcelo como exemplo da cooperação binacional.
Bônus para dirigentes corruptores
Como grandes empresas costumam fazer, a Odebrecht pagava bônus pelo desempenho de seus diretores. E alguns dos mais polpudos iam para os que sujavam as mãos no Setor de Operações Estruturadas. Fernando Migliaccio, que gerenciou o "departamento de propina", contou que os executivos teriam recebido entre US$ 5 milhões e US$ 8 milhões após as eleições de 2014, fruto dos resultados obtidos na campanha. Grande parte desses recursos oriunda de caixa 2 e lavada no Exterior.
CONTRAPONTOS
Todos os políticos citados nessa reportagem não comentaram ou negam as acusações dos delatores da empreiteira.