A nova etapa da Lava-Jato que foi às ruas nesta terça-feira é fruto de parte do material enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda lista de Janot. Autorizada pelo relator da Lava-Jato na Corte, ministro Edson Fachin, a operação tem base em ações cautelares solicitadas pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, a partir do conteúdo das 78 delações premiadas dos executivos da Odebrecht.
Embora as 11 caixas contendo todo o material da segunda lista de Janot só tenha chegado ao gabinete de Fachin no início da tarde desta terça-feira, o procurador-geral pode usar as informações dos delatores porque o acordo de delação premiada já havia sido homologado pelo Supremo no final de janeiro. Dessa forma, Janot pediu prioridade para realizar diligências em inquéritos em tramitação no tribunal.
– O ministro Fachin priorizou o mais urgente, como diligências em investigações já em andamento – afirma um integrante da força-tarefa da Lava-Jato.
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Esses despachos não tem relação com os pedidos de abertura de novos 83 inquéritos, sobre os quais Fachin só irá se debruçar a partir desta terça-feira. Um dos alvos da PF na operação de hoje é Mário Beltrão, suposto operador do líder da oposição no Senado, Humberto Costa (PE). Até o mês passado, Humberto Costa exibia otimismo nos corredores do Congresso. Depois de um ano e meio de investigações, a Polícia Federal (PF) não havia encontrado indícios do envolvimento do senador na Lava-Jato e havia pedido em agosto de 2016 o arquivamento do inquérito aberto contra ele em março de 2015. No entanto, o procurador-geral da República discordou da posição da delegada da PF Graziela Machado da Costa e Silva e pediu a prorrogação das apurações por mais 90 dias.
No dia 16 de fevereiro, o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, atendeu à solicitação de Janot. Na manhã desta terça-feira, também com diligências autorizadas por Fachin, a PF foi às ruas de Recife cumprir mandatos contra Beltrão, que foi chamado nos depoimentos anexados ao inquérito de "PC Farias do Humberto Costa".
Beltrão já havia sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como operador de Humberto Costa na Petrobras. Paulo Roberto teria repassado a Beltrão R$ 1 milhão que seriam destinados à campanha do petista ao Senado em 2010. O dinheiro foi descontado da propina de 1% que o PP recebia porque o partido apoiou o candidato do PT na disputa. A suspeita de Janot é de que a propina repassada a Humberto Costa tenha sido paga pela empresa White Martins.
De acordo com depoimentos colhidos pelo procurador-geral, Humberto Costa tenha recebido outros recursos ilícitos em 2006, quando concorreu ao governo do Estado. Um gerente da Petroquímica Suape que havia sido nomeado por Paulo Roberto Costa, Carlos Alberto Ferreira, disse aos procuradores ter repassado R$ 14 milhões à campanha de Humberto Costa ao governo de Pernambuco em 2010. Mais uma vez, o repasse teria sido feito por intermédio de Mário Beltrão, amigo de infância e operador do petista na Petrobras.
Os recursos teriam sido desviados contratos da Petroquímica Suape com a Odebrecht e da Companhia Têxtil de Pernambuco (CITEPE) com a Schahin Engenharia "a pretexto de financiamento de campanha política de Humberto Costa". Os R$ 14 milhões teriam sido pagos à Schaim e à Odebrecht em dois cheques nominais, no valor de R$ 6 milhões e R$ 8 milhões.
Em nota, Humberto Costa disse que "tem contribuído com as autoridades em todos os esforços necessários à elucidação dos fatos" e que não há "qualquer elemento que desabone a sua vida pública".