Jamais um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) havia recebido tamanha carga de trabalho simultânea. Somente nesta terça-feira, uma semana após o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, submeter à Corte 320 procedimentos, o relator da Lava-jato, Edson Fachin, deve começar a analisar os documentos.
Enquanto ainda aguardava a remessa das petições ao gabinete, Fachin trabalhou na segunda-feira em outros processos e recebeu cinco advogados de envolvidos na Lava-Jato. A demora para receber o material de Janot ocorre por conta da vasta dimensão do conteúdo das delações da Odebrecht. São 11 caixas de papelão, contendo envelopes para cada fato narrado pelos 78 executivos da empreiteira.
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Servidores do tribunal consumiram os últimos dias trabalhando na catalogação e digitalização de todas as petições, o que não havia sido concluído até o final da tarde desta segunda-feira. Só após esse serviço caberá ao ministro decidir sobre os 83 pedidos de inquérito, 211 declínios de competência, sete aquivamentos e 19 outras previdências.
– O gabinete já estava cheio de processos e agora recebe um volume ainda maior – comenta um interlocutor do ministro.
Para dar celeridade ao trabalho, Janot procurou ser didático. Cada petição traz uma síntese das circunstâncias em que cada político teria cometido os supostos atos criminosos. O procurador relata ainda a particição de eventuais cumplíces e informa o trecho específico no qual o caso é delatado pelos executivos da empreiteira. Dessa forma, Fachin pode certificar-se assistindo às gravações em vídeos dos depoimentos.
Desde que assumiu a relatoria das investigações, em 2 de fevereiro, o ministro tem se preparado para este momento. Uma de suas primeiras iniciativas na função foi pedir para mudar de gabinete. Até então instalado no quinto andar do edifício anexo à sede da Corte, Fachin se transferiu para o antigo gabinete de Teori Zavascki, mais amplo e situado dois andares abaixo.
Fachin também mantém o maior número de juízes-auxiliares entre todos os ministros da Corte. Estão lotados no seu gabinete os juízes federais Camila Plentz Konrath e Ricardo Rachid de Oliveira, além do magistrado catarinense Paulo Marcos de Farias, até janeiro um dos principais assessores de Teori na relatoria da Lava-Jato. Considerado um julgador implacável, Farias é egresso do Tribunal de Júri de Floranópolis, onde conquistou o primeiro lugar em eficiência em 2014 sob o lema "justiça tardia é injustiça qualificada".