Com a possibilidade de o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, estender a licença médica e ainda sem clareza sobre o efeito das falas de José Yunes, que alega ter sido "mula involuntária" do peemedebista gaúcho, o presidente Michel Temer decidiu ampliar sua participação nas negociações com o Congresso. O movimento tenta acalmar a base e evitar atrasos na aprovação das reformas, tendo as mudanças na Previdência como prioridade.
Antes de ser submetido a uma cirurgia de retirada da próstata, realizada com sucesso na segunda-feira no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Padilha afirmou a Zero Hora que pretendia voltar aos trabalhos em 6 de março, na próxima segunda. Contudo, no Palácio do Planalto acredita-se que será difícil o retorno na data prevista. Nos bastidores, permanecem comentários sobre uma licença por tempo indeterminado, o que amplia as especulações sobre o futuro do ministro, provável alvo na Lava-Jato de pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). A solicitação teria como base as delações da Odebrecht.
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Oficialmente, a assessoria de Padilha garante que a intenção é encerrar a licença na segunda-feira, mas que a decisão levará em conta a orientação médica. Responsável pela cirurgia, o urologista Claudio Telöken informou à colunista Carolina Bahia que o peemedebista estaria liberado em 10 dias, ou seja, por volta da próxima quinta-feira. Amigos de Padilha especulam um regresso somente a partir do dia 13, já que ele tem 71 anos e a retirada da próstata foi feita a "céu aberto", que no jargão médico indica uma incisão na parte baixa do abdômen.
– Seria recomendável parar por umas duas semanas, mas Padilha sempre foi um sujeito inquieto. Acredito que ele só ficará em Porto Alegre se houver uma recomendação explícita do médico para não viajar – afirma um aliado do peemedebista.
Com o plano de retomar as atividades na Casa Civil na próxima semana, Padilha desejava participar da reunião do Conselhão, programada para a terça-feira, dia 7. Seria uma forma de demonstrar força diante do desgaste provocado pelas declarações de Yunes, amigo há décadas de Temer e ex-assessor especial do presidente.
Em depoimento espontâneo à PGR, Yunes afirmou que foi usado como "mula" por Padilha, ao receber em 2014, em seu escritório de advocacia, um pacote entregue por Lúcio Funaro, operador ligado ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Funaro contesta a versão de Yunes.
Na sua delação, o ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, relatou que Padilha tratou do recebimento de R$ 4 milhões repassados pela empreiteira ao PMDB na última eleição presidencial, sendo que um dos endereços para entrega do dinheiro foi o escritório de Yunes. Com versões conflitantes sobre o caso, a defesa de Funaro pediu à Procuradoria-Geral da República para que ele deponha sobre o episódio e solicitou uma acareação com Yunes, Padilha e Melo Filho.
Com as dúvidas sobre o destino do chefe da Casa Civil, a saída desenhada no Planalto para manter a base parlamentar coesa, em especial num momento de apreensão com o possível fim do sigilo de parte das delações da Odebrecht, passa por uma participação mais ostensiva de Temer nas negociações com o Congresso. No momento, o principal ponto de preocupação está na Câmara, onde tramitam as reformas da Previdência e trabalhista.
Pelas previsões feitas por deputados do PMDB, o relatório das mudanças nas aposentadorias só deve ser votado na comissão especial da Câmara no final de abril, ou seja, haveria tempo para Padilha se recuperar da cirurgia e para sair a nova lista de políticos investigados na Lava-Jato. Assim, o Planalto poderia avaliar o ambiente político antes de tomar decisões mais duras, a exemplo de uma saída em definitivo do gaúcho.
Aliados de Padilha acreditam que ele permanecerá no cargo, pois fora da Esplanada perderia o foro privilegiado. Na base do governo, também existe a convicção de que a ausência do ministro nas tratativas com o Congresso só poderá ser suprida por Temer. Antes da cirurgia, Padilha deixou com o presidente um mapa dos cargos na máquina federal e os respectivos padrinhos, material que vai auxiliar o Planalto a cobrar fidelidade dos parlamentares nas votações das reformas.
A estratégia de ampliar a presença de Temer partiu do diagnóstico de que deputados e senadores enxergam em Padilha um interlocutor direto do presidente, ao contrário do que ocorre com o ministro da Secretaria de Governo, o tucano Antonio Imbassahy, responsável pela articulação do palácio com parlamentares. Já o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, não dispõe do mesmo trânsito de Padilha no Congresso.
– O presidente Temer já definiu a linha de corte sobre os ministros: denunciado é afastado e réu sai em definitivo. Diante do que tem hoje sobre o Padilha na delação, o ideal é que ele se recupere e ajude o governo – afirma Carlos Marun (PMDB-MS), presidente da comissão especial da reforma da Previdência.