A Justiça Federal divulgou os vídeos do depoimento do ex-governador gaúcho Tarso Genro, testemunha do ex-presidente Lula em processo resultante da Operação Lava-Jato. O petista falou durante uma hora e 10 minutos por videoconferência na tarde de quinta-feira. Durante 20 minutos respondeu a perguntas do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro, por cinco minutos respondeu ao Ministério Público Federal e durante 45 minutos tirou dúvidas dos advogados de Lula.
O ex-presidente é acusado de receber propina através de empreiteira no caso do triplex do Guarujá, no litoral paulista. Durante o depoimento, o ex-ministro de Lula explicou como ocorriam as negociações políticas dentro do governo federal. Tarso ainda afirmou que não acreditava que o ex-presidente tenha recebido propina.
Confira, na íntegra, os vídeos com o depoimento do ex-governador – a Justiça Federal divulgou as imagens em três partes:
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Tarso Genro disse ainda que avisou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – no início do seu segundo mandato – sobre uma ofensiva da Polícia Federal (PF) que pegou o irmão do petista, Genival Inácio da Silva, o Vavá, alvo da Operação Xeque-Mate - deflagrada em 2007 para combater esquema de jogos ilegais em Mato Grosso do Sul.
Um dos defensores de Lula indagou do ex-ministro se tinha conhecimento de algum ato do petista relacionado a irregularidades. Tarso lembrou que Lula era enfático no sentido de combater a corrupção. Neste momento, relatou a Moro como soube da ação da PF que pegou Vavá e como avisou o então presidente:
– Eu tinha assumido recentemente o Ministério da Justiça e chegando de uma viagem ainda na Base Aérea (em Brasília) estava lá me aguardando o chefe da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e o diretor de Inteligência da Polícia Federal, me disseram: "Olha, ocorrerá uma diligência amanhã pedida pelo Ministério Público e determinada à Polícia Federal na casa de um irmão do presidente, nós queremos lhe avisar". Eu digo: "Está tudo regular? Tem ordem escrita? Tem orientação? Então que se proceda."
Naquela mesma noite, segundo Tarso, ele foi ao encontro de Lula.
– Cumprindo minhas obrigações como ministro procurei o presidente Lula, já era depois da meia noite. "Presidente, queria lhe informar que amanhã cedo vai ocorrer uma diligência na casa do seu irmão". O presidente me perguntou: "Está tudo legal, tudo regular?" Eu disse: "Sim, está tudo legal, tudo regular". Ele disse: "Então, que se proceda essa diligência, te agradeço por informar" – relatou Tarso.
Na manhã de 4 de junho de 2007 agentes da PF vasculharam a residência de Vavá, em São Bernardo do Campo (SP). Ele foi indiciado por tráfico de influência. Outros 100 investigados foram enquadrados na Operação Xeque-Mate. Sete anos depois, a Justiça arquivou a investigação.
Ainda na audiência com Moro, nesta quinta-feira, o ex-ministro contou que depois de ter avisado Lula ficou sabendo que Vavá foi conversar com o irmão presidente. Segundo ele, teria ocorrido este diálogo:
– Ô Lula, tu soubestes antes e não me avisou, eu sei que o Tarso te avisou.
– O Tarso, o ministro da Justiça, avisou o presidente da República e não o teu irmão – respondeu Lula, segundo o ex-ministro.
Na avaliação de Tarso, a diligência na casa de Vavá, "uma pessoa ingênua, foi desnecessária, arbitrária, num assunto que não tinha nada a ver".
– Foi feita (a operação) certamente para causar algum tipo de constrangimento ao presidente – disse.
Tarso reafirmou que Lula jamais fez qualquer interferência para barrar ações contra atos ilícitos.