Pressionado pelo depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) de José Yunes, amigo e ex-assessor especial do presidente Michel Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, garante que não sairá do governo. O peemedebista está em licença médica para uma cirurgia.
Em entrevista exclusiva à colunista Carolina Bahia, o ministro disse que pretende retornar ao trabalho em 6 de março e decidiu, em comum acordo com Temer, não comentar as declarações de Yunes. Advogado, o amigo do presidente alega ter sido usado como "mula involuntária" do gaúcho, que lhe pediu para receber em seu escritório, em São Paulo, um pacote de Lúcio Funaro, doleiro ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A versão de Yunes à PGR corrobora parte da delação do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. O executivo relatou que a empreiteira repassou na última eleição presidencial R$ 10 milhões a pedido de Temer para financiar campanhas, sendo que Padilha teria ficado com a missão de tratar de R$ 4 milhões. Um dos endereços da entrega do dinheiro era o escritório de Yunes.
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Licenciado da Casa Civil para cirurgia na próstata, que deve ser realizada na segunda-feira no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Padilha tem falado por telefone com Temer. A interlocutores, não escondeu a irritação com o "fogo amigo" de Yunes. O movimento do advogado colocou o gaúcho no centro de mais um capítulo da crise política e alimentou comentários sobre sua saída definitiva do governo. De quebra, Padilha é visto como provável alvo da Lava-Jato, dentro da nova leva de pedidos de abertura de inquéritos que a PGR fará ao Supremo Tribunal Federal (STF) decorrentes da delação da Odebrecht, aguardados para março.
– Talvez o Yunes tenha tentado convencer os procuradores de que ele é uma alma ingênua, que recebeu um pacote no escritório. Yunes conhece política e campanha, coordenou a campanha da Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo – relata um ministro.
Em Brasília, políticos alinhados ao governo e de oposição tentam entender a estratégia do advogado, que pediu demissão da assessoria especial de Temer em dezembro, após o vazamento da delação de Melo Filho. Uma das versões aponta a tentativa de vincular seu caso a um político com foro privilegiado, a fim de assegurar eventual investigação no STF e manter distância do juiz federal Sergio Moro. O sucesso da manobra, que amplia o desgaste de Temer por enfraquecer seu braço direito, depende da permanência do ministro no cargo.
– Não é interessante para ninguém o Padilha sair. Se sair, a casa cai. E a casa é fraca – afirma uma fonte do Planalto.
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A relação de décadas de Yunes com Temer faz com que assessores acreditem que o presidente sabia do depoimento espontâneo à PGR, prestado em 14 de fevereiro, conforme a revista Veja. Na oportunidade, com a justificativa de que pretende desfazer o estrago provocado pela delação em sua biografia, Yunes se apresentou como "mula" de Padilha e negou ter operado dinheiro para o PMDB, versão repetida em entrevistas concedidas a partir de quarta-feira. Na quinta, Yunes esteve com Temer. Depois, passou a tentar indicar que no pacote recebido de Funaro não haveria dinheiro.
Quando Yunes decidiu falar com a imprensa, Padilha já estava afastado da Casa Civil. Na segunda-feira, em Brasília, ele foi internado no Hospital do Exército com quadro de obstrução urinária provocada por hiperplasia prostática benigna. Exames confirmaram aumento da próstata e a necessidade da cirurgia, que o ministro vinha adiando.
Pessoas próximas ao peemedebista relatam que ele sentia fortes dores para urinar e chegou a ter hemorragia. Ano passado, Padilha, 71 anos, precisou ser internado no Moinhos de Vento para sondagem que desobstruiu a uretra. A repetição do problema gerou a recomendação para retirada da próstata.
O ministro discutiu a licença médica com Temer na quarta, seguindo para Porto Alegre. Recebeu amigos, distribuiu mensagens por WhatsApp e alinhavou a cirurgia com o urologista Claudio Teloken. Monitorou de casa a repercussão das falas de Yunes. Já Temer, afirmou, em nota, que o PMDB recebeu R$ 11,3 milhões da Odebrecht em 2014, valor declarado à Justiça Eleitoral. Sobre Padilha, em reuniões com outros ministros, minimizou o estresse:
– Ele não poderia adiar a cirurgia.
A saúde do gaúcho preocupa o núcleo do Planalto. Em 2016, ele precisou de atendimento médico por pico de pressão e crise de labirintite. Descrito como metódico e detalhista, costuma esticar o expediente além das 22h. Amigos relatam que o ministro tem dado sinais de desânimo com os rumos do governo. Um dos episódios que o contrariou foi a escolha de Alexandre de Moraes para o STF. Soma-se o desgaste pelas menções na delação da Odebrecht, que podem atrapalhar os planos de concorrer ao Senado em 2018.
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