Um dia após a aprovação da indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Michel Temer escolheu o novo ministro da Justiça. Assumirá o cargo o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O nome ganhou força nos últimos dias, por ter apoio da bancada do PMDB da Câmara e de parte do PSDB.
Primeira opção de Temer para suceder Moraes, o ex-ministro do STF Carlos Velloso recusou o convite. A desistência recolocou Serraglio no páreo. Na manhã desta quinta-feira, o presidente se reuniu com o ministro da Secretaria de Governo, Anthonio Imbassahy (PSDB-BA), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir a troca na Justiça e o futuro da liderança do governo na Câmara, que atualmente está sob responsabilidade de André Moura (PSC-SE).
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A escolha tenta sustar as críticas recebidas pelo governo da bancada do PMDB, que cobra mais espaço na Esplanada. Essa pressão foi decisiva para sacramentar a nomeação. Além da chancela dos colegas de partido, pesou a favor de Serraglio sua formação jurídica. Professor universitário, ele é mestre em Direito pela PUC/SP e tem especialização em processo civil pela Universidade Paranaense (Unipar).
Serraglio nasceu em Erechim, em 23 de maio de 1948. Em Tapera, estudou no seminário Sagrado Coração de Jesus. Aos 15 anos, junto com os pais e quatro irmãos e uma irmã, mudou para o Paraná, onde fez sua carreira jurídica e política. Formou-se em Direito na década de 1970, foi professor em curso de técnico de contabilidade e presidente da Associação dos Professores do Estado do Paraná.
Advogado, Serraglio filiou-se o MDB em 1978 e seguiu no partido após a mudança do nome para PMDB. Foi assessor jurídico de prefeituras no Noroeste do Paraná, até ser eleito vice-prefeito de Umuarama em 1992. Ficou no cargo até 1996. Dois anos depois, elegeu-se para o primeiro dos cinco mandatos consecutivos de deputado federal. Ano passado, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
Com experiência limitada no Executivo, o peemedebista assume o cargo com o desafio de controlar a crise da segurança pública, que teve chacinas em presídios e protestos de policiais militares pelo país. Serraglio terá de tirar do papel o controverso Plano Nacional de Segurança, lançado por Moraes. Outro desafio trata de conter a insatisfação da Polícia Federal, que aponta movimentos para barrar a Operação Lava-Jato.
Na Câmara, o novo ministro não estava entre os nomes de maior influência política dentro do PMDB. Seu momento de maior destaque ocorreu entre 2005 e 2006, quando foi relator da CPI dos Correios, que abriu as apurações sobre a compra de apoio parlamentar ao governo Lula, no escândalo do mensalão. À época, teve a postura elogiada por parlamentares.
- Ele é uma pessoa muito educada, às vezes não se tem ideia do que ele é capaz. Mas ele foi decisivo para a CPI dos Correios, que teve o resultado que teve - afirma o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, que fez campanha por Serraglio na Justiça.
Terra acredita que o novo ministro terá pulso para dar seguimento à Operação Lava-Jato, apesar da cúpula do PMDB estar implicada no escândalo da Petrobras. Um dos envolvidos é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antigo aliado de Serraglio. Em 2016, o deputado teve o apoio do então presidente da Câmara para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Contudo, na discussão sobre a cassação do ex-parlamentar, o colegiado tomou decisões contrárias aos interesses de Cunha.
A proximidade que teve com o ex-presidente da Câmara é lembrada por desafetos de Serraglio. Colega de partido e conterrâneo, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) criticou a escolha de Temer. Para ele, o novo ministro da Justiça fará um trabalho no mesmo nível do que é realizado por Ricardo Barros (PP-PR) à frente da Saúde.
- É o fim do mundo, aliado de Eduardo Cunha no Ministério da Justiça. Está à altura do conjunto da obra do governo Temer - diz Requião.
Em novembro de 2016, já com Temer no Planalto e Cunha cassado, Serraglio foi um dos deputados que votou a favor do abuso de autoridade juízes e promotores, na sessão que desfigurou o projeto das medidas de combate à corrupção.
Ainda na Câmara, o peemedebista relatou a PEC 215. A proposta de emenda à Constituição dá ao Congresso a palavra final sobre as demarcações de terras indígenas, atualmente definidas pelo governo federal, sendo que os processos passam pelo Ministério da Justiça.
No início da noite desta quinta-feira, após boa parte da imprensa ter noticiado o nome de Osmar Serraglio como novo ministro da Justiça, o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, confirmou a informação oficialmente.
Segundo ele, o presidente Michel Temer expressou "plena confiança" na capacidade de Serraglio para conduzir os trabalhos da pasta.