Ex-líder de um nutrido grupo de parlamentares que até setembro decidia os destinos da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vai passar o fim do ano atrás das grades. Como refeição, arroz, batata, bife e legumes. Espumante, nem como consolo. Visita íntima? Também não.
Cunha é mais um entre políticos, empresários e criminosos de colarinho branco que tiveram o destino virado de ponta-cabeça pela Operação Lava-Jato. Até meses atrás bajulado por um séquito de parlamentares, está só numa cela do Complexo Médico-Penal de Pinhais (CMP), na Região Metropolitana de Curitiba. É um período de cautela e adaptação, maior ainda porque o ex-presidente da Câmara fez muitos inimigos no meio político. Mas logo terá de dividir seu espaço de quatro metros de comprimento por três de largura com companheiros de cárcere.
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Os presos da Lava-Jato são 18 em Curitiba, mais alguns espalhados Brasil afora. Nove estão na sede da PF na capital paranaense e nove no CMP de Pinhais, uma prisão para os que precisam de cuidados de saúde. Foi escolhida para abrigar os engravatados como precaução. As autoridades temem extorsões ou até sequestros que poderiam ser feitos por criminosos comuns, num Estado em que 80 cadeias estão sob influência de uma facção paulista.
O CMP abriga 640 presos e não está lotado. Os nove detentos da Lava-Jato, abrigados no Pavilhão 6, partilham quatro celas: duas com três pessoas cada, uma com duas, e Cunha sozinho na última. Cada cela tem vaso sanitário e pia. O banho é coletivo, seis presos a cada vez, em banheiros situados no corredor da galeria.
A sexta-feira, véspera do último dia do ano, será especial. Os presos do CMP – incluindo os da Lava-Jato – terão direito a três horas de visita.
– É uma benesse, por conta da emotividade que essa época desperta nos apenados. O corriqueiro é no máximo uma hora, uma vez por semana – informa o delegado da Polícia Civil Luiz Alberto Cartaxo de Moura, que ocupa o cargo de diretor do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen).
Os familiares poderão levar alguns alimentos, como bolachas e pães. Será permitido um panetone por preso. Mas tudo será revistado, inclusive desmanchado, em busca de possíveis objetos escondidos.
Dirceu tem pressão alta e Vaccari, diabetes
A vida na cadeia tem rituais. Às 6h, os presos são despertados para o café da manhã, que se resume a pão e café. Segue-se uma hora de sol no pátio. Às 11h30min, almoço. À tarde, pátio de novo. Às 18h, jantar. Via de regra, os detentos são orientados a dormir cedo, por volta das 21h.
É permitida uma TV por cela, desde que levada por familiares, mas tem de ser desligada às 23h, obrigatoriamente.
A prisão tem biblioteca, bênção para os entediados. Todos têm direito a ler livros, desde que sem violência e sexo como temas. O guardião da biblioteca no complexo de Pinhais é o ex-ministro José Dirceu. É ele quem percorre, com um carrinho, os corredores da prisão, levando aos detentos os livros solicitados.
Os presos têm direito a remissão (diminuição) de pena mediante leitura. Funciona assim: a obra deve ser devolvida em até 20 dias. Aí o preso tem 10 dias para fazer uma resenha do que leu. Confirmado que ele entendeu o conteúdo, tem a pena diminuída em quatro dias.
Enquanto Dirceu cuida de livros, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto está mergulhado em limpeza. Usa vassoura e rodo para assear celas e banheiros. Também distribui as marmitas com comida. A atividade compensa. Para cada três dias trabalhados (jornadas de seis a oito horas diárias), abate-se um dia da pena, conforme o artigo 126 da Lei de Execução Penal. Dirceu quase teve cortado o benefício ao ser surpreendido com pen-drives recheados de filmes. Recebeu um alerta.
Na comida, ele e Vaccari são cuidadosos. O ex-ministro tem pressão alta e ingere pouco sal. O ex-tesoureiro petista é diabético e evita carboidrato e doces.
O CMP oferece vantagens e desvantagens aos presos. Por ser um hospital, os detentos não convivem em celas infectas e superlotadas, como nos presídios comuns. Os da Lava-Jato contam ainda com outra benesse: como a maioria tem curso superior, pode usufruir de cela especial, longe da massa carcerária. Isso enquanto não são julgados. Mas, mesmo os condenados são mantidos longe dos demais, por questões de segurança. Os colarinhos-brancos ficam com ex-policiais, ex-juízes, ex-promotores e outros funcionários públicos acusados de crimes, mas que seriam alvo de represália no convívio com presos comuns. As alas 6 e 5, onde ficam os detentos da Lava-Jato, abrigam também alguns doentes crônicos e estelionatários.
A grande desvantagem, tanto no CMP quanto nas celas da Polícia Federal, é que os presos não podem receber visitantes para relações sexuais.
– É que os dois locais não são prisões comuns, não possuem locais apropriados – justifica Cartaxo.
Os apenados conversam com familiares apenas em um parlatório, sem privacidade. Uma pena adicional, uma desvantagem dos colarinhos-brancos em relação aos demais presos.
A SITUAÇÃO DE CADA APENADO
No Complexo Médico-Penal de Pinhais (CMP)
André Vargas (ex-deputado federal, eleito pelo PT): detido em abril de 2015 e condenado a 14 anos de prisão por corrupção. Passará o segundo Réveillon na cadeia.
Eduardo Cunha (ex-deputado federal do PMDB e ex-presidente da Câmara): preso em outubro por suspeita de lavar e esconder dinheiro oriundo de corrupção. Terá sua primeira virada de ano no cárcere.
Eduardo Meira (empresário): preso desde maio, acusado de pagar propinas a José Dirceu. É seu primeiro fim de ano atrás das grades.
Gim Argello (ex-senador do PTB): detido em abril, foi condenado a 19 anos por corrupção, em outubro. Passará o fim de ano na cadeia.
João Augusto Henriques (lobista): detido desde setembro de 2015 por corrupção, foi condenado em fevereiro a seis anos de prisão. Vai passar o segundo Réveillon na cadeia.
João Vaccari Neto (ex-tesoureiro do PT): detido desde abril de 2015, já foi condenado três vezes na Lava-Jato, a um total de mais de 32 anos de prisão. Ainda é réu em outro processo, em São Paulo. Será o segundo Réveillon na cadeia.
Jorge Zelada (ex-dirigente da Petrobras, ligado ao PMDB): preso em julho de 2015 por corrupção, vai passar o segundo Réveillon na cadeia de Curitiba. Foi condenado a 12 anos de prisão.
José Dirceu (ex-ministro, do PT): preso em agosto de 2015 por corrupção, foi condenado a 23 anos de prisão. Passará o segundo Réveillon na cadeia pela Lava-Jato, embora já tenha cumprido pena pelo mensalão.
Luiz Argôlo (ex-deputado federal do Solidariedade): preso em abril de 2015 por corrupção, foi condenado a 11 anos de prisão. Será o segundo Réveillon na cadeia.
Na carceragem da PF em Curitiba
Adir Assad (doleiro): detido em março de 2015, foi solto em dezembro daquele ano. Retornou à cadeia em agosto de 2016.
Antonio Palocci (ex-ministro, do PT): acusado de cobrar propina de diversas empresas, passará seu primeiro Réveillon preso.
Flávio Macedo (executivo): detido desde maio, acusado de pagar propinas a José Dirceu. Passará o primeiro Réveillon atrás das grades.
João Cláudio Genu (ex-tesoureiro do PP): preso desde maio por corrupção, foi condenado em dezembro a oito anos de prisão. Vai passar o Réveillon na cadeia.
Léo Pinheiro (empresário): preso em novembro de 2014, passou dois finais de ano na cadeia. Solto em junho de 2016, foi detido novamente em setembro de 2016 e passará mais um Réveillon na prisão. Foi condenado a 26 anos de reclusão.
Marcelo Odebrecht (empresário): condenado por liderar cartel de empreiteiras responsável por propinas, passará o segundo Réveillon na cadeia. Preso desde junho de 2015, fez delação premiada.
Pedro Corrêa (ex-deputado federal do PP): preso desde abril de 2015, por corrupção, vai passar o segundo Réveillon na cadeia. Foi condenado a 20 anos de prisão.
Renato Duque (ex-diretor de Petrobras, indicado pelo PT): detido em novembro de 2014, foi solto no mês seguinte e voltou à cadeia em março de 2015. Desde então, segue encarcerado. Foi condenado duas vezes por corrupção e lavagem de dinheiro. Suas penas somam 41 anos de prisão. Será o segundo Réveillon na cadeia.
Wilson Carlos Carvalho (ex-secretário do governo estadual do Rio): preso em novembro, acusado de corrupção no governo Sérgio Cabral, passará o primeiro Réveillon na cadeia.
Presos em outros Estados
Paulo Ferreira (ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal): o político gaúcho está no presídio paulista de Tremembé II, no Vale do Paraíba, chamado de “prisão dos famosos”. O cárcere abriga o médico Roger Abdelmassih e Alexandre Nardoni, pai da menina Isabella, entre outros.
Sérgio Cabral (ex-governador do Rio, do PMDB): está no Complexo Penitenciário de Bangu 8, na zona oeste do Rio. Por dois dias conviveu com seu rival Anthony Garotinho, que acabou liberado para prisão domiciliar.
Com tornozeleira ou em casa
Alberto Youssef (doleiro): preso no início de 2014, já passou dois Natais e dois finais de ano na cadeia. Fez delação premiada e foi liberado em novembro de 2016 para prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica. No período preso, só conviveu com outros delatores.
Dario de Queiróz Galvão Filho (ex-presidente da Queiróz Galvão): passou as festas de fim de ano de 2014 preso em Curitiba. Está em prisão domiciliar, enquanto recorre contra a condenação.
Elton Negrão (ex-dirigente da Odebrecht): durante as festas de fim de ano de 2015 ficou preso em Curitiba. Agora está em prisão domiciliar, após acordo de colaboração premiada.
Fernando Soares, o Baiano (lobista): ligado ao PMDB, estava na cadeia nas festas de fim de ano de 2014 e ficou exatamente um ano preso. Após acordo de colaboração premiada, está em prisão domiciliar, com tornozeleira.
Gerson Almada (ex-dirigente da Engevix): passou as festas de fim de ano de 2014 preso em Curitiba. Está em prisão domiciliar, enquanto recorre de condenação.
João Alberto Luscher de Castro (ex-presidente da Galvão Engenharia): ficou preso nas festas de fim de ano de 2014. Agora está em prisão domiciliar, enquanto recorre contra a condenação.
João Ricardo Auler (ex-dirigente da Camargo Corrêa): também passou as festas de fim de ano de 2014 preso em Curitiba. Está em prisão domiciliar, enquanto recorre de condenação.
José Carlos Bumlai (pecuarista): passou as festas de final de ano de 2015 na cadeia, está condenado a nove anos de prisão. Foi liberado para prisão domiciliar em fevereiro, voltou para o presídio em agosto e foi liberado novamente para prisão domiciliar em novembro de 2016.
Mário Góes (lobista): ficou preso de fevereiro a julho de 2015. Condenado, fez colaboração premiada e está em prisão domiciliar, com tornozeleira.
Nestor Cerveró (ex-dirigente da Petrobras, ligado ao PMDB): preso em janeiro de 2015, passou aquele final de ano na cadeia. Fez acordo de colaboração premiada e ganhou prisão domiciliar em junho de 2016. Mora em um sítio na região serrana do Rio. Já foi condenado duas vezes.
Otávio Marques de Azevêdo (ex-presidente da Andrade Gutierrez): passou as festas de fim de ano de 2015 na cadeia. Após acordo de colaboração premiada, foi enviado para prisão domiciliar em 2016, com tornozeleira. Desde então, está nesse regime.
Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras, ligado ao PP): detido no início de 2014, foi liberado no final daquele ano para prisão domiciliar, após acordo de colaboração premiada. Mora numa casa de praia no Rio.
Ricardo Pessoa (ex-presidente da UTC): estava na cadeia nas festas de fim de ano de 2014. Foi solto em 2015, após colaboração premiada. Está condenado, em prisão domiciliar, com tornozeleira.
Zwi Skornicki (lobista): preso em fevereiro de 2016, está em prisão domiciliar, com tornozeleira. Fez colaboração premiada e não chegou a passar um ano na cadeia.