Deputados e senadores articulam, nos bastidores, a inclusão de uma emenda no pacote anticorrupção para anistiar quem cometeu caixa dois antes da aprovação da lei. A manobra, em vez de reforçar a atuação dos crimes, fará justamente o contrário: poderá blindar parlamentares e outros políticos de eventuais punições por terem recebido recursos não contabilizados.
Segundo analistas políticos, a medida mobiliza os congressistas por uma razão especial. A tratativa dos acordos de delação premiada e de leniência da empreiteira Odebrecht está a um passo de ser concluída – o último entrave é valor que será pago pela empresa aos Estados Unidos, como multa da leniência negociada entre as autoridades americanas, o Brasil e a Suíça.
Leia mais
Polêmica sobre caixa 2 adia votação de pacote anticorrupção
Deputados articulam anistia para quem fez caixa 2
Planalto teme que delação da Odebrecht envolva ministros
Já apelidada de "delação do fim do mundo", ela pode atingir mais de 200 políticos (entre deputados federais, senadores, ex-ministros, ministros, governadores e ex-governadores) de diferentes agremiações partidárias. Daí a pressa em criar uma proteção que dificulte as punições.
A reportagem apurou com investigadores com acesso à negociação entre a PGR e integrantes da Odebrecht que as delações dos executivos, bem como o acordo de leniência da empresa, não devem atingir de maneira uniforme as principais lideranças políticas brasileiras.Embora os principais partidos sejam alvo das delações – PMDB, PT e PSDB –, alguns políticos serão atingidos de "forma fatal" e outros terão suas imagens apenas "arranhadas" pelas revelações. A diferença se dará pelo fato dos valores recebidos da empresa estarem ou não atrelados em desvios praticados em obras e licitações públicas.
O acordo também preocupa o presidente Michel Temer, que já enfrenta uma crise com a denúncia envolvendo o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, um de seus homens de confiança. O receio é de que as acusações provoquem um clima de instabilidade política, prejudicial à recuperação da economia.
Auxiliares de Temer afirmam não ter dúvidas de que as delações vão atingir ministros do núcleo duro do governo federal. O Planalto está apreensivo, ainda, com o fato de a delação poder alvejar o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR). Há também a percepção de que a Lava Jato tem potencial para ressuscitar manifestações de "Fora, Temer" e tornar inviável o ajuste fiscal.