A ex-presidente Dilmar Rousseff (PT) afirmou, nesta segunda-feira, que o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo se comportou como um agente político no processo de julgamento das contas da chapa que a reelegeu em 2014. Em entrevista ao portal Brasil 247, a petista disse que sua defesa tem indicações de que Azevedo "é tucano" e fazia parte de uma "armação" para separar as contas dela das do então candidato a vice-presidente, Michel Temer (PMDB), no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
– Nós temos indicações que ele é um tucano, não temos como ter certeza, estou falando uma coisa (...) pela convicção que ele causou e deu dados, ele queria primeiro criminalizar minha campanha e a segunda questão, ele fazia parte de toda armação para separar minha conta do Temer – disse Dilma.
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Em um primeiro depoimento, o executivo da empreiteira afirmou que repassou à campanha de Dilma Rousseff em 2014 o valor de R$ 1 milhão que seria fruto de propina. Após denúncia apresentada pela defesa da ex-presidente de que a quantidade teria sido repassada através de um cheque para o vice Michel Temer, Otávio Azevedo mudou sua versão e negou que tenha pago propina à campanha.
Na entrevista, Dilma classificou como "estranho" o depoimento do executivo. "No meu caso é propina, no do Temer não é propina?", questionou.
– Eu acho que ele se comportou como um agente político utilizando essa investigação como arma política.
A ex-presidente criticou ainda o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, que é responsável por colocar o processo em julgamento. No sábado, Mendes disse em São Paulo que o impeachment o deixou com um "duplo sentimento" de felicidade e frustração, pelo Brasil ter superado uma "grade situação de desordem institucional" e porque demorou para identificar essas "mazelas".
A petista afirmou que está avaliando pedir a suspeição de Mendes para participar do julgamento de sua chapa no TSE por causa das declarações do ministro.
– Ele perdeu todas as condições de me julgar, não pode ter essas manifestações – falou Dilma. – O que ele já me julgou fora dos autos não tem explicações, (ele) tem se expressado de uma forma que não é compatível com as atitudes de um juiz.
Dilma declarou ainda que o país não teria uma boa saída se Temer fosse cassado no TSE, resultado que a partir de 2017 colocaria o Congresso para eleger um presidente.
– Eu não defendo o golpe dentro do golpe, eu não defendo a política do quanto pior, melhor, feita pelo senhor Aécio Neves – afirmou.
Ela disse que a única forma de resolver a situação é com eleições diretas – o que só seria possível nas eleições presidenciais de 2018.
Ministro Geddel
A ex-presidente afirmou na entrevista que as denúncias contra o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que teria pressionado o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para liberar a construção de um edifício em Salvador, demonstram a desvalorização do governo Temer com a Cultura.
– Se ocorre em qualquer governo, ele teria de ser afastado – disse.
*Estadão Conteúdo