A prefeita eleita de Ivoti, Maria de Lourdes Baurmann (PP), é alvo de uma investigação do Ministério Público por suspeita de usar um esquema para filar a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) em troca de votos. Segundo os promotores, a suposta fraude ocorreria há pelo menos três anos.
Reportagem da RBS TV obteve o relato de um aposentado que reforça os indícios de irregularidades. Sem saber que era gravado por uma câmera oculta, o paciente contou que, por intervenção da futura prefeita, conseguiu uma consulta em 12 dias o atendimento com um ortopedista, por exemplo, chega a levar quatro anos.
– Eu há três anos esperando, entregava aqui na prefeitura, não me faziam nada. É a Maria de Lourdes, eu não sei o que ela fez. Entreguei para ela, e ela que me arrumou – afirmou, conforme a gravação.
Leia mais
Reportagem mostra fraude na fila do SUS em troca de votos
Esquema que furava fila do SUS pode abranger várias cidades do RS
As investigações começaram depois do depoimento de um servidor da Secretaria Municipal de Saúde. A RBS TV ouviu o funcionário:
– Uma pessoa que tem um problema que não é tão grave, que é passada na frente. E essa consulta, ela é pega e ela é escolhida a dedo para quem ela vai ser dada. Às vezes, tu pode até perder um paciente por uma situação dessas.
O Ministério Público tomou o depoimento de pelo menos 12 pacientes. De acordo com as informações apuradas até agora, a suspeita é de que, para acelerar o atendimento, os pacientes de Ivoti entravam no cadastro do SUS com endereços falsos de Taquara – cidade a 50 quilômetros de distância. Na cidade vizinha, as vagas seriam obtidas após desistência de última hora de outros pacientes. Ex-servidora de Taquara, Magali Vitorino da Silva admitiu que agendou consulta para Maria de Lourdes.
– Uma vez eu consegui para um familiar dela. Ela dizendo que era moradora, que morava aqui na cidade de Taquara – afirmou.
A Promotoria tem indícios de que a suposta fraude abrangeria até mesmo cirurgias estéticas, pagas pelos cofres públicos.
– Alguns casos eram bem graves, mas outros casos, em contrapartida, não tinham urgência alguma. Há informações a respeito de reparação oftalmológica, que seria muito mais estética do que funcional e também um mero aumento de grau de óculos de pessoas que tiveram as consultas marcadas de forma mais rápida por intermédio de Taquara – afirmou o promotor Flávio Duarte à RBS TV.
Contrapontos
O repórter Giovani Grizotti tentou ouvir a futura prefeita eleita no aeroporto Salgado Filho quando ela chegava de uma viagem. Maria de Lourdes evitou responder aos questionamentos. Um acompanhante dela chegou a empurrar o jornalista, tentando evitar o contato.
Antes de vencer a eleição em Ivoti, com dois terços dos votos, ela trabalhou como assessora dos deputados Renato Molling (federal) e João Fischer (estadual), ambos do PP. Ela participaria do suposto esquema havia pelo menos três anos. À RBS TV, Fischer disse desconhecer o esquema. Molling, que se recupera de uma cirurgia, preferiu não se manifestar.
A prefeitura de Taquara abriu uma sindicância para apurar as suspeitas.