Alvo da 31ª fase da Lava-Jato, o Consórcio Novo Cenpes pagou R$ 39 milhões em propina para conseguir um contrato na Petrobras, divulgaram os promotores da força-tarefa no Ministério Público Federal (MPF), em coletiva de imprensa no final da manhã desta segunda-feira. O grupo de empreiteiras venceu uma licitação fraudulenta para construir o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro.
Foram presos temporariamente nesta segunda-feira os empresários ligados às construtoras do consórcio Novo Cenpes Edison Freire Coutho (Schain Engenharia) e Roberto Capobianco (Construcap Engenharia). Já Genesio Jr (Construbase) e Erasto Messias da Silva Jr (Construcap Engenharia), também tinham mandados de prisão temporária, mas não foram localizados até o final da manhã.
O contrato, assinado em 2008, começou com valor de R$ 850 milhões e terminou superando R$ 1 bilhão. Um dos motivos, segundo o procurador Julio Carlos Motta Noronha, é que empresas foram pagas para “fazer absolutamente nada”. Uma delas é a WTorre, que recebeu R$ 18 milhões para sair da disputa e possibilitar que o Consórcio Novo Cenpes vencesse.
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Outra parte dos recursos desviados foi repassada a funcionários da Petrobras, operadores do esquema e agentes políticos ligados ao PT, entre eles o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira. Dos R$ 39 milhões pagos em propina, cerca de R$ 1 milhão teria sido repassado ao petista gaúcho. O ex-deputado, por sua vez, teria utilizado o valor para pagar um blog, para que falasse bem dele. O blog é de Júlio Garcia, ex-candidato do PT a deputado estadual. Em notícia publicada em 2010, o blogueiro saúda o lançamento de Paulo Ferreira como candidato a deputado federal naquele ano. A notícia é encimada por uma foto de Ferreira se encontrando com o jogador Ronaldinho Gaúcho.
Além disso, Ferreira repassou recursos de propina, segundo o MPF, a pelo menos uma escola de samba de Porto Alegre, com quem mantém relações pessoais.
Alexandre Romano, que é ex-vereador pelo PT, confessou ter repassado os valores a pessoas vinculadas a Paulo Ferreira por meio de contratos simulados. Ele apresentou depósitos bancários e cheques que comprovam as transações irregulares, informaram os procuradores.
A investigação da 31ª fase da Lava-Jato, conforme a PF, tem como objetivo apurar a fraude ao processo licitatório, o pagamento de valores indevidos a servidores da Petrobras e o repasse de recursos a partido político em virtude do sucesso obtido por empresas privadas em contratações específicas como, por exemplo, o projeto de reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), estabelecido na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro.
Os crimes investigados nesta etapa são corrupção, lavagem de dinheiro e fraude à licitação. Os presos serão levados para a superintendência da PF em Curitiba, com exceção de Paulo Ferreira, que se encontra custodiado na sede da PF em São Paulo.
O nome Abismo é uma referência às tecnologias de exploração de gás e petróleo em águas profundas desenvolvidas no Cenpes, mas também à localização das instalações (Ilha do Fundão) e a demonstração que esquemas como estes, segundo a PF, "levaram a empresa aos recantos mais profundos da corrupção e da malversação do dinheiro público".