O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de inquérito contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente José Sarney e outros políticos do PMDB. Todos eles estão no pedido enviado por Janot ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), por terem sido acusados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de receberem propinas. A informação foi divulgada neste domingo pelo Fantástico, da Rede Globo.
Em depoimentos da delação premiada, Sérgio Machado disse que distribuiu mais de R$ 70 milhões em propina de contratos da estatal para Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, entre outros líderes do PMDB. Segundo Machado, o valor mais expressivo, de R$ 30 milhões, foi destinado a Renan, o principal responsável pela indicação dele para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras e maior empresa de transporte de combustível do país.
Machado disse ainda que repassou cerca de R$ 20 milhões para Sarney durante o período que esteve à frente da estatal. Romero Jucá – que ficou uma semana como ministro do Planejamento do governo Michel Temer – também recebeu aproximadamente R$ 20 milhões.
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Sérgio Machado fala sobre altas somas em propinas com autoridade. A partir do acordo de delação, ele próprio se comprometeu a devolver aproximadamente R$ 100 milhões, fortuna acumulada com desvios de contratos entre grandes empresas e a Transpetro.
A estrutura de arrecadação de propina e lavagem de dinheiro seguiu padrões tradicionais. O dinheiro passava por várias pessoas até chegar ao políticos mencionados por Machado. Em alguns casos, foi entregue diretamente ao interessado.
Machado disse que abasteceu também as contas dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Jader Barbalho (PMDB-PR). As acusações são consideradas devastadoras, pois Machado indicou os contratos fraudados e os caminhos percorridos pelo dinheiro até chegar aos parlamentares. Relatou que o dinheiro era desviado de contratos firmados entre a Transpetro e grandes empresas. O esquema funcionou durante todo o período em que Machado esteve à frente da Transpetro, de 2003 até ano passado.
Nas conversas gravadas, Renan, Jucá e Sarney aparecem discutindo meios de barrar as investigações da Operação Lava-Jato. Renan defende mudança na lei para dificultar delações. Jucá fala no impeachment de Dilma Rousseff como forma de “estancar a sangria” da Lava-Jato.
Machado deixou claro que o dinheiro era para custear campanhas e pagar despesas pessoais. E disse que arrecadava e repassava a propina pois achava ser esta a missão dele, ou seja, garantir retorno financeiro ao grupo político responsável pela sustentação dele à frente da estatal.
Renan indicou Machado para a presidência da Transpetro em 2003, no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, e manteve apoio à permanência dele no cargo até ano passado, mesmo após ter sido acusado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina.
A indicação teria ainda apoio de Jucá, Sarney e Lobão. A combinação dos grampos feitos por Machado com os depoimentos dele e do filho, Expedito Machado, deixa Renan, Sarney e Jucá em situação extremamente delicada.
O que dizem os políticos
Renan negou que tenha recebido dinheiro de Machado: "Jamais recebi vantagens de ninguém e sempre tive com Machado relação respeitosa e de estado", disse o senador, segundo um de seus assessores. Renan também disse que "nunca indicou ninguém para a Petrobras ou para o setor elétrico".
Jucá disse que "nega o recebimento de qualquer recurso financeiro por meio de Machado ou comissões referentes a contratos realizados pela Transpetro".
Em nota, Sarney afirma "protestar, desmentir e repudiar" as acusações. Fala em "falta de caráter" de Machado, que "teve a vilania de gravar nossas conversas, até mesmo em hospital". "Vou processá-lo por denunciação caluniosa", disse o ex-presidente.
*Com agências