Em depoimentos concedidos na Operação Lava-Jato, dois ex-executivos da Andrade Gutierrez revelaram o pagamento de propina a quatro ex-governadores: do Amazonas, Eduardo Braga, do PMDB, e Omar Aziz, do PSD (hoje senadores); do Distrito Federal, Agnello Queiroz, do PT; e José Roberto Arruda, que, na época, era do Democratas. As informações são do Jornal Nacional, da TV Globo.
Leia mais:
OAB ameaça ir à Justiça se ministros escolhidos por Temer virarem réus
Andrade Gutierrez fecha acordo de leniência e deve pagar indenização de R$ 1 bi
Lava-Jato passa a mirar núcleos do PMDB
Os informantes contaram que teria sido fácil ganhar a concorrência da Arena Amazônia porque tiveram informação privilegiada do governo e que a construtora participou da elaboração do projeto e do edital de licitação. Segundo eles, a Andrade Gutierrez tinha preferência pela obra desse estádio porque estava no Amazonas havia muitos anos.
Pelo que está na delação, a relação com o então governador Eduardo Braga, do PMDB, também seria antiga. Teria existido uma combinação que valeu durante os oito anos do governo dele: propina de 10% sobre o valor de cada obra da empreiteira. Braga foi Ministro de Minas e Energia do governo Dilma até o mês passado. Rogério Nora de Sá, um dos ex-executivos, estima que foram pagos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões a ele. Já outro delator, Clóvis Primo, contou que o ex-governador fazia ameaças se houvesse atraso no pagamento da propina.
A propina teria seguido com o sucessor de Braga, Omar Aziz, na época no PMN, Partido da Mobilização Nacional. Clóvis Primo relatou que tentou negociar uma redução da propina paga pela obra do estádio Arena Amazônia. O delator disse que o novo governador não aceitou e se exaltou, mas que, depois, aceitou. Em vez dos 10% que eram pagos a Eduardo Braga, Aziz ficou com 5%.
Omar Aziz também teria pedido propina no valor de R$ 20 milhões, alegando que a empresa tinha um grande volume de obras no Estado e que o dinheiro pagaria despesas de campanha. Ao ouvir que não era possível, Rogério Nora de Sá disse que Omar Aziz insistiu de modo agressivo e afirmou que, se a propina não fosse paga, o governo do Amazonas poderia se vingar da Andrade Gutierrez.
Os ex-executivos também contaram que houve pagamento de propina nas obras da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Clóvis Primo disse que, antes da formação do consórcio que ganhou a licitação, já havia um acerto, em 2009, para o pagamento de propina de 1% para o então governador José Roberto Arruda, eleito pelo Democratas.
Rogério de Sá disse que autorizou os pagamentos que teriam sido combinados com o ex-governador mesmo depois de Arruda ser afastado – foi acusado de tentativa de suborno e teve o mandato cassado.
De acordo com o Jornal Nacional, Rogério contou ainda que também houve pagamento de propina para o ex-governador Agnelo Queiroz, do PT – o ex-executivo disse que não havia um acerto fixo de propina com Agnelo, mas que o ex-governador fez pedidos de pagamentos para o PT.
As respostas
Os ex-governadores citados foram ouvidos pelo Jornal Nacional. Eduardo Braga disse que a denúncia é absurda, que está indignado e se sentindo ofendido com as acusações. Omar Aziz declarou que seguiu rigorosamente o valor da construção da Arena Amazônia determinada pelo Tribunal de Contas da União e que está sendo vítima de retaliação da Andrade Gutierrez por não ter cedido a pressões da empresa para aumentar o preço da obra.
O advogado de José Roberto Arruda afirmou que o contrato da construção do Mané Garrincha não foi assinado durante a gestão dele. E negou que tenha havido repasse ou pagamento enquanto Arruda esteve no cargo.
O advogado de Agnelo Queiroz disse que o ex-governador nunca recebeu ou pediu qualquer quantia ou benefício ilícito de quem quer que seja. O PT informou que todas as doações para o partido foram dentro da legalidade e declaradas à Justiça Eleitoral.
A Andrade Gutierrez não quis se manifestar.