Ao lado de cartazes de protestos e gritos de "golpista", o ministro do Planejamento, Romero Jucá, declarou na tarde desta segunda-feira que pedirá licença do cargo.
– Amanhã estarei de licença – disse, após a revelação de diálogos gravados de forma oculta em março passado entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, nos quais o senador sugere um pacto para deter o avanço da Operação Lava-Jato sobre o PMDB. Segundo o jornal Valor Econômico, apesar de Jucá se referir ao afastamento como uma "licença", sua saída se dará por exoneração.
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Jucá disse que pediu ao seu advogado que prepare um documento para que o Ministério Público se manifeste sobre o caso.
– Vou conversar com o presidente Michel Temer, vou pedir licença enquanto o Ministério Público não se manifestar – afirmou.
Ao ser interrompido por diversas vezes por manifestações que o chamavam de golpista, Jucá disse que o governo não tem "medo de cara feia, nem de gritaria de gente irresponsável que quebrou o país".
– Por causa de babaquices como essas (gritos de golpista) vamos fazer o enfrentamento – complementou.
Jucá disse que o atual secretário-executivo do Ministério, Dyogo Oliveira, ficará interinamente no cargo no período de seu afastamento.
– O presidente me deu voto de confiança, eu podia ficar, mas prefiro aguardar manifestação do MP – disse Jucá, que reafirmou que está consciente de que não cometeu irregularidades.
– Tenho defendido rápida investigação dos casos da Lava-Jato e culpar quem tem culpa.
As explicações
Mais cedo, Jucá pronunciou-se sobre as gravações. Por quase uma hora, ele deu sua versão sobre os trechos divulgados, reafirmou apoio à Lava-Jato e à punição de todos os envolvidos. Sobre a conversa divulgada, Jucá disse que considera Machado um amigo e que ele foi à sua casa numa manhã, na hora do café.
– É uma pessoa com quem convivi durante muitos anos. (...) O que lemos na Folha de S.Paulo são frases soltas, dentro de um diálogo que ocorreu – afirmou Jucá, repetindo diversas vezes que os trechos estão "fora de contexto".
O ministro disse que nunca tratou "com ninguém para tentar interferir em qualquer investigação ou no resultado dela", e que por isso está "muito tranquilo". E repetiu o que disse a veículos de comunicação logo cedo, que quando falou em "estancar a sangria" não era com relação à Operação Lava-Jato, mas sobre "estancar a sangria da economia, do desemprego e da crise política". Após a coletiva de Jucá, a Folha de S.Paulo rebateu as alegações do ministro e divulgou em seu site os áudios da conversa com Machado. Segundo o jornal, o peemedebista não se referia à situação econômica ao falar em "estancar a sangria".
Padilha
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou nesta tarde que o governo perde com a decisão do ministro do Planejamento, Romero Jucá, de pedir licença do cargo e espera que isso seja temporário.
– Jucá é um dos mais competentes ministros, é um operador político exemplar, conhecedor das contas públicas como ninguém dentre os parlamentares e economistas, além de ser perfeitamente afinado com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – afirmou, completando ver como "pesar" a saída de Jucá.