O ex-tesoureiro do Partido Progressista (PP) João Cláudio Genu – condenado no mensalão – foi preso na manhã desta segunda-feira, em Brasília, alvo da 29ª fase da Operação Lava-Jato. Conforme a Polícia Federal, ele movimentou R$ 7 milhões, sem justificativa de origem lícita, entre 2005 e 2013. Há indícios de que ele seria responsável por intermediar o pagamento de propina dentro da Petrobras e que também seria o beneficiário de até 5% do que era pago a partir de contratos firmados no setor de abastecimento da petrolífera.
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Batizada de Operação Repescagem, esta fase cumpriu ainda outros dois mandados de prisão temporária e seis mandados de busca e apreensão, sendo quatro deles em Brasília, um no Rio de Janeiro e um no Recife.
Durante coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira, o delegado da Polícia Federal, Luciano Flores de Lima, comentou que o também ex-assessor do PP foi preso em um hospital, onde acompanhava uma pessoa. Lima detalhou o esquema de lavagem de dinheiro que, segundo ele, funcionava desde a época do mensalão até agora.
A força-tarefa da Lava-Jato afirma que Genu seria responsável por receber valores em espécie e repassá-los ao ex-diretor estatal Paulo Roberto Costa. Conforme o delegado, foram identificados R$ 7 milhões em contas de parentes de Genu, que foi assessor do ex-deputado federal José Janene (morto em 2010) e tesoureiro do PP.
Existem provas documentais e relatos, segundo a PF, de que o ex-assessor recebia valores em espécie do esquema, muitas vezes por intermédio do doleiro Alberto Youssef.
Em 2012, Genu já havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por sacar cerca de R$ 1,1 milhão de propinas em espécie das contas da empresa SMP&B Comunicação Ltda., controlada por Marcos Valério Fernandes de Souza, para entrega a parlamentares federais do Partido Progressista.
Após recurso, em março de 2014, Genu foi absolvido do crime de lavagem de dinheiro. Ele também tinha sido denunciado por corrupção passiva, mas a pena para o crime prescreveu.
Agora, a Lava-Jato aponta que ele continuou recebendo repasses mensais de propinas, mesmo durante o julgamento do mensalão e após ter sido condenado. Segundo o delegado, Genu tenha recebido R$ 2 milhões em propina. Vem daí o nome da operação, já que o ex-assessor, um dos membros da quadrilha que inventou o mensalão, foi "repescado" pela Lava-Jato no esquema da Petrobras.
Genu foi citado por vários delatores durante investigação
Sobre as provas coletadas, o procurador Diogo Castor de Mattos afirma que o Genu foi citado por Alberto Youssef e vários outros delatores em suas colaborações premiadas. Além disso, foram identificadas várias aquisições de bens com dinheiro em espécie, como apartamento e joias.
O procurador afirmou, ainda, que as comunicações via internet de Genu mostraram diversas conversas com agentes públicos e funcionários da Petrobras.
Além do ex-assessor, Lucas Amorim Alves e Humberto do Amaral Carrilho foram alvos de prisões temporárias, sendo o segundo considerado foragido por estar no exterior e não ter se apresentado ainda. As autoridades não vão revelar por enquanto o paradeiro do empresário.
Conforme o delegado Lima, Carrilho apareceu no esquema quando contatou o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa para uma obra no Rio Amazonas.
– A prisão dele foi necessária porque estava demonstrado que ele vinha cometendo outros crimes e auxiliando na omissão do patrimônio de João Claudio Genu – disse o delegado.
Já o procurador Mattos afirmou que Lucas Amorim Alves era um "emissário" de João Claudio Genu.
Durante a apresentação dos fatos, o delegado Lima comentou que seria possível, a partir de agora, traçar um "paralelo mais nítido" entre o mensalão e a Lava-Jato.
– Durante o julgamento do mensalão havia deboche da Justiça criminal brasileira. Hoje esperamos que esse deboche tenha dado lugar ao respeito pelas instituições que devem ter autonomia para investigar e ao poder judiciário, que está fazendo bem o seu papel desde o primeiro grau até os graus superiores. A sensação de impunidade que havia antes agora deve dar lugar ao medo daqueles que roubaram dos cofres públicos.
Questionado sobre o áudio vazado de Romero Jucá, o delegado da afirmou que "não é a primeira vez" que surgem notícias sobre tentativas de abafar a Lava-Jato. Já o delegado Igor Romário de Paula afirmou que a PF foi "pega de surpresa como todos". Ele disse que a origem do áudio deve ser apurada no foro adequado.
– Não houve interferência na Lava-Jato. O trabalho segue normalmente – concluiu.