Convocado pela Câmara de Vereadores, o secretário da Saúde de Porto Alegre, Carlos Henrique Casartelli (PTB), voltou ao plenário ontem para rebater as críticas sobre a compra, em 2012, de 50 mil exemplares do livro O escudeiro da luz em os zumbis da pedra.
O material faz parte do projeto Circuito Papo Reto, programa de prevenção ao uso de drogas, em especial ao crack, desenvolvido pela Central Única das Favelas (Cufa-RS) junto a milhares de estudantes gaúchos.
Um grupo de vereadores, liderado pelo presidente da Câmara, Thiago Duarte (PDT), questiona a aquisição da obra, feita sem licitação.
- Deveria ter havido algum tipo de concorrência, nem que fosse um pregão eletrônico. Além disso, o preço pago foi excessivo e sem justificativa pedagógica - diz Duarte.
De acordo com Casartelli, a Procuradoria-Geral do Município (PGM) emitiu parecer final dispensando a necessidade de licitação. O convênio custou R$ 1 milhão à prefeitura. Desse valor, R$ 750 mil foram repassados à editora Besouro Box pelos 50 mil livros e o restante foi pago à Cufa.
- O custo por aluno não passou de R$ 20, e o trabalho da entidade é magnífico - afirma Casartelli.
Base governista critica ausência de licitação
Ao fazer sua defesa, o secretário apresentou um parecer do Ministério da Cultura dizendo que o livro tem valor e uma avaliação da Secretaria Nacional Antidrogas atestando que não há similar no Brasil.
Apesar dos argumentos do secretário, muitos vereadores não ficaram convencidos. Governistas e oposição questionaram o valor pago pela prefeitura e a ausência de licitação. Mônica Leal (PP) disse que a tiragem da obra é semelhante à de grandes autores. Sofia Cavedon (PT) considerou o valor do projeto alto demais.
- A prefeitura diz não haver dinheiro para melhorar a qualidade de trabalho dos servidores da saúde, mas gasta recursos com um livro - completou Fernanda Melchionna (PSOL).
Ao todo, a Cufa promoveu 2.380 horas de atividades em 51 escolas da rede municipal, incluindo 1.092 oficinas, 50 palestras e 50 apresentações teatrais. O objetivo, segundo a coordenadora administrativa da Cufa-RS, Maria Dinorá Rodrigues, é manter crianças e adolescentes longe do crack:
- Algumas pessoas falam mal do trabalho sem sequer conhecê-lo. Esse projeto já passou por 170 municípios.
Para este ano, segundo o comunicador Manoel Soares - que escreveu o livro na condição de membro da Cufa e de militante anticrack -, estão previstos 16 seminários de capacitação voltados aos 3,7 mil professores da rede, entre outras atividades.
Manoel, que também é repórter da RBS TV e atua como palestrante sobre prevenção às drogas, ressalta que o livro será usado pelos próximos quatro anos. Sobre o valor da publicação, o editor-chefe da Besouro Box e coautor da obra, Marco Cena, diz que o preço de mercado é R$ 26 e que a prefeitura pagou R$ 15.
Conforme o procurador-geral do município em exercício, Marcelo do Canto, não há irregularidades:
- Houve parecer inicial contrário, mas todas as dúvidas foram esclarecidas e ficou definido que, de fato, não havia a necessidade de licitação.
Repercussões
"Fica claro que a compra sem licitação é possível, desde que demonstrado que, nas livrarias, o custo seria mais alto." - Carlos Casartelli, secretário municipal da Saúde, nesta quinta-feira, ao explicar aos vereadores a compra do livro
"Apesar da sua tentativa de esclarecimento, acho muito estranho o gasto de mais de R$ 1 milhão para a produção de um livro. Não tenho nada contra o livro, mas sim quanto à forma como foi contratado." - Mauro Pinheiro, vereador do PT
Polêmica na saúde
Câmara de Vereadores questiona compra de livro para programa de prevenção ao uso de drogas em Porto Alegre
Secretário Carlos Casartelli teve de explicar o valor gasto com aquisição de 50 mil exemplares
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