Principal interlocutor da presidente Dilma Rousseff, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, falou com Zero Hora sobre a polêmica com o secretário estadual de Desenvolvimento, Mauro Knijnik.
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Sereno, Pimentel avisou que, do ponto de vista do governo, trata-se de um episódio encerrado e que já falou com o governador Tarso Genro sobre o assunto. Ressalta, porém, que Knijnik devia estar em um "mau momento e um pouco alterado" por não ter sido recebido em audiência no último 10, em Brasília.
Acompanhado do secretário do Tesouro, Arno Augustin, o ministro fez questão de mostrar um levantamento de ações que de alguma forma contribuíram para a atração de investimentos no Estado. Os dados demonstram que só o setor de infraestrutura tem uma previsão de receber R$ 29,5 bilhões até 2014. Pimentel, contudo, fez questão de frisar várias vezes que o papel da União é o de criar o ambiente propício, mas quem decide em última instância a localização de uma planta industrial é a empresa.
Zero Hora - Como o governo está vendo a polêmica com o secretário Knijnik?
Fernando Pimentel - Do nosso ponto de vista, isso aí é um assunto encerrado, superado. Não tem nenhum desgaste, atrito na relação com o governo do Estado. Pelo contrário, nossa relação é ótima com o governador. Falei com ele duas ou três vezes nesses últimos dias.
ZH - O governador pediu desculpas por conta da nota do secretário?
Pimentel - Não. Não cabe isso. Imagina, não tem de pedir desculpas. Falamos apenas que vamos retomar a nossa conversa normalmente sem nenhum óbice, e o secretário está convidado a vir ao ministério a hora que ele quiser. Quanto a isso não tem nenhum problema.
ZH - Mas qual a avaliação da nota divulgada?
Pimentel - Acho que o secretário devia estar em um mau momento. Não estava, assim, em um momento muito bem-humorado e ficou um pouco alterado por não ter sido recebido, mas o motivo foi justíssimo: eu estava em uma agenda com a presidente da República. Mas está superado. Não é uma agenda que vai interromper ou prejudicar a nossa relação. A imprensa comentou a respeito de uma ausência de investimentos no Rio Grande do Sul, associando isso com o governo federal. Há, aí, uma incompreensão sobre o papel do governo.
ZH - A nota também critica o secretário executivo, Alessandro Teixeira, que é gaúcho. Há problemas nas relações?
Pimentel - Vamos considerar aquilo um momento infeliz. Não é isso que pauta a nossa relação com o Rio Grande do Sul, com o governador Tarso, nosso amigo e companheiro de tantos anos. Agora, de tudo, a gente tem de recolher algum proveito. Temos feito a nossa parte, que é criar um ambiente propício para negócios, não só no Rio Grande do Sul, mas no país inteiro. Mas especialmente no Rio Grande do Sul, além das medidas gerais, estamos corrigindo assimetrias regionais, com o fim da guerra dos portos, com recursos para obras através do PAC e de linhas de financiamento do BNDES a juros baixos, dentre outros programas do governo.
ZH - E qual é o papel do governo federal?
Pimentel - O governo federal tem feito tudo o que pode, criando as condições para gerar investimentos. Podemos falar desde as medidas de mais largo alcance, como a redução da taxa básica de juros, e, agora, o recente anúncio da redução de tarifa de energia elétrica, que vai ter um impacto positivo no Custo Brasil. Há ainda os anúncios de concessões privadas para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. E ainda há as reduções tributárias. São 40 setores da indústria com desonerações na folha de pagamento. E, no caso do Rio Grande do Sul , tivemos importantíssimos investimentos na área de estrutura logística.
ZH - Quais as áreas que são visíveis as ações do governo no Estado?
Pimentel - Investimentos na área de logística. E mais: estamos ampliando o espaço fiscal do Rio Grande do Sul, dando condições saudáveis de endividamento para o Estado. É o que cabe ao governo federal fazer. A partir disso, propiciamos condições para que as empresas decidam sua localização, em negociações diretas com os governadores e prefeitos.
ZH - Naquela nota, o secretário diz que temia trazer projetos aqui para o ministério e que esses projetos fossem direcionados para outros Estados.
Pimentel - Não vamos ficar respondendo ao secretário. Mas a simples menção desse possível direcionamento demonstra a incompreensão de como as coisas funcionam. A União cuida desse grande arcabouço de medidas estruturais, os Estados e municípios cuidam especificamente da atração de investimentos, da localização dos investimentos em acordo com as empresas. É assim que funciona. Tem funcionado bem no Brasil e não é diferente no Rio Grande do Sul.
ZH - Alguns Estados são mais eficientes do que outros na atração de investimentos?
Pimentel - Não sei se é eficiência do Estado. Acho que as indústrias vão escolhendo, vão se alocando, de acordo com a escolha que fazem, mirando seus mercados. Por exemplo, uma indústria que quer trabalhar mais com o mercado da Argentina, do Uruguai e do Mercosul, possivelmente se sinta mais atraída pela Região Sul. As decisões de localização industrial são eminentemente empresariais. Quer dizer, os Estados competem, evidentemente. Nós criamos as condições gerais.
ZH - A oposição no Estado vem se queixando da questão das máquinas agrícolas em relação à Argentina. Como estão as relações do Brasil com o país vizinho?
Pimentel - Estamos em um momento até bom com a Argentina. O Rio Grande do Sul é fronteira seca com a Argentina, então qualquer movimento, qualquer pequeno desequilíbrio no comércio impacta mais fortemente. Não há nada estruturalmente errado na nossa relação com a Argentina.
ZH - A bancada de oposição teme que algumas empresas gaúchas de máquinas agrícolas possam encerrar as atividades no Estado e se mudar para a Argentina. Isso é possível?
Pimentel - É uma decisão empresarial. Na economia capitalista de mercado, você não pode proibir as empresas de abrirem e fecharem em outros lugares. Acredito que a oposição, quando faz essa observação, não deve estar sugerindo que o Estado brasileiro interfira nisso.
ZH - O plano de concessões de aeroportos será mesmo lançado depois do segundo turno? Haverá investimentos em aeroportos regionais?
Pimentel - Haverá investimentos em aeroportos regionais. Mas é a Secretaria de Aviação Civil está cuidando disso. Serão cerca de 200 aeroportos regionais anunciados. Mas vamos esperar a própria presidenta anunciar.