Repleto de detalhes sórdidos sobre um dos períodos mais obscuros da história brasileira, o livro de memórias de um ex-agente da ditadura militar será um dos primeiros alvos da Comissão da Verdade.
Em seu relato, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Antônio Guerra confessa ter incinerado os corpos de 10 presos políticos - entre eles um gaúcho e um catarinense que viveu em Porto Alegre.
O depoimento foi colhido pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros e publicado em primeira pessoa, sob o título Memórias de uma Guerra Suja. Depois de anos de silêncio, o ex-delegado e hoje pastor evangélico revela que os corpos dos militantes executados foram queimados em uma usina de açúcar em Campos, no Rio, em 1973.
As informações, segundo a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), serão analisadas pela comissão, que contará com sete integrantes e irá apurar violações aos direitos humanos no Brasil, entre 1946 e 1988. Os membros devem ser anunciados até o fim do mês e terão dois anos para concluir o trabalho.
- A comissão terá totais condições para checar todas essas informações e avançar no que for possível - afirma a ministra.
Da lista citada pelo ex-delegado, fazem parte Joaquim Pires Cerveira, nascido em Santa Maria, e João Batista Rita, que adotou Porto Alegre como lar. Ambos foram presos em 1973, em Buenos Aires, e nunca mais se soube deles.
Para a fundadora do Grupo Tortura Nunca Mais, Cecilia Coimbra, e para a integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Suzana Lisboa, as revelações são apenas "a ponta do iceberg".
Há esperança de que uma investigação aprofundada possa ajudar a descobrir o destino de outros desaparecidos e até a localizar corpos.
- Só quem matou e enterrou sabe onde se deve procurar. Essa informação existe. É só chamar os responsáveis, como esse ex-delegado, para depor - afirma Suzana.
Crimes da ditadura
Em livro, ex-delegado confessa incineração dos corpos de 10 militantes durante a ditadura
Memórias de um ex-agente do Dops será um dos primeiros alvos de investigação da Comissão da Verdade
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