O presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Alexandre Cordeiro, determinou, no início da tarde desta quinta-feira (13), que a Superintendência-Geral do Cade instaure um inquérito para apurar a "possível colusão" entre os institutos Datafolha, Ipec e Ipespe com o intuito de manipular o mercado e os consumidores.
No jargão da autarquia de defesa de concorrência — que lida com processos de fusão e aquisição, além do combate a cartéis — colusão é um tipo de conluio entre as empresas para causar danos a terceiros.
No ofício assinado por Cordeiro, ele repete as teorias do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro sobre a manipulação das sondagens e levanta suspeitas sobre as discrepâncias entre as pesquisas publicadas na semana anterior ao primeiro turno das eleições e o resultado apurado nas urnas. O presidente do Cade cita matérias jornalísticas que mostram que as diferenças ficaram acima da margem de erro nas pesquisas sobre a corrida presidencial de vários institutos.
"Com efeito, chamou a atenção deste Conselho a grande diferença apresentada entre as pesquisas e o resultado das eleições publicado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A discrepância das pesquisas e do resultado é tão grande que verificam-se indícios de que os erros não sejam casuísticos e sim intencionais por meio de uma ação orquestradas dos institutos de pesquisa na forma de cartel para manipular em conjunto o mercado e, em última instância, as eleições", acusou Cordeiro.
O presidente do Cade afirma ter realizado ele próprio algumas "análises preliminares" sobre o fundamento técnico dessas suspeitas. Ao pegar uma amostra de 19 institutos, ele aponta que 10 erraram a porcentagem de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para além da margem de erro e 18 erraram a projeção para a votação de Bolsonaro para além da margem de confiança das pesquisas. Ainda assim, ele determinou a investigação sobre apenas três deles (Datafolha, Ipespe e Ipec).
"Ocorre que, quando há uma grande quantidade de pesquisas que falham simultaneamente e no mesmo sentido, é pouco provável que este tipo de erro seja fruto de mero acaso (como a existência da coleta de um valor extremo amostral). É absolutamente improvável que a amostra da pesquisa em questão tenha sido bem desenhada, sendo o resultado da pesquisa um mero valor extremo e esperado do ponto de vista amostral. Tal improbabilidade de resultado levanta suspeita a respeito da independência das ações dos referidos agentes, pelos motivos já destacados", argumenta.
Consultada pela reportagem, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) informou que vai se pronunciar após analisar o caso do ponto de vista jurídico. As empresas citadas pelo Cade vão se manifestar por meio da entidade.