Demandas do agronegócio e assuntos que envolvem o setor agropecuário foram tema de painel neste sábado (27) com os candidatos ao governo do Estado, durante programação da Casa RBS na Expointer. Seis dos 11 postulantes ao Piratini responderam a perguntas de representantes do setor e apresentaram suas propostas para a área, que tem peso importante para a economia do Estado.
Foram convidados para o painel os candidatos de partidos, federações e coligações que têm no mínimo cinco representantes no Congresso. Dois deles não puderam comparecer: Onyx Lorenzoni (PL) e Roberto Argenta (PSC). Participaram, portanto, Edegar Pretto (PT), Eduardo Leite (PSDB), Luis Carlos Heinze (PP), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT). A conversa foi mediada pela jornalista Rosane de Oliveira.
Na plateia, estiveram presentes o governador, Ranolfo Vieira Júnior, o secretário da Agricultura, Domingos Velho, e demais convidados.
O painel começou pontualmente às 10h e foi dividido em três blocos, nos quais os candidatos foram sorteados para responderem às perguntas dos dirigentes. Cada resposta tinha tempo máximo de três minutos.
Assista à íntegra do painel RBS
A primeira pergunta, feita pela anfitriã Rosane, questionou os candidatos sobre qual será o eixo central de governo para a agricultura e a pecuária e qual o perfil do futuro secretário da Agricultura.
Primeiro sorteado a responder, Edegar Pretto (PT) disse que a agricultura terá atenção especial em seu governo, se eleito. O petista falou da criação de um plano safra gaúcho, como complemento ao programa nacional, para organizar a produção, a comercialização, a industrialização e o armazenamento da produção agropecuária do Estado. O candidato não respondeu sobre o perfil escolhido para o secretário nesta resposta, mas retomou ao ponto mais adiante no painel, afirmando que será nomeado alguém "que trate o setor agrícola como parceiro e não como adversário do Estado".
Segundo a responder, Ricardo Jobim (Novo) reforçou a bandeira de seu partido dizendo que não será favorável ao aumento de impostos sobre a carne e os grãos. Também criticou a burocratização, principalmente para a construção de barragens, e prometeu diálogo com o Ministério Público para destravar questões ambientais. Sobre o perfil do candidato, disse que o titular da pasta será selecionado por processo seletivo e terá perfil técnico.
Candidato pelo PDT, Vieira da Cunha respondeu que seu plano de governo prevê ações para apoiar os produtores, sendo a primeira delas garantir condições de infraestrutura, como acesso à internet, pavimentação de vias e energia elétrica. Reforçando seu mote de campanha focado na educação, prometeu investir em escolas técnicas agrícolas para fixar o jovem no campo. Seu secretário da Agricultura será um produtor rural que conheça as realidades do campo.
Eduardo Leite (PSDB) disse que seu governo estará alinhado em manter a recuperação fiscal do Estado e fazer investimentos através de concessões para melhorar infraestrutura e reduzir custo de escoamento da produção agrícola do Estado. E respondeu que perfil de seu secretariado será técnico e político, "porque meramente técnico não garante o sucesso do setor".
Planos de fomentar a irrigação como combate à estiagem, facilitar a questão das barragens e destravar a questão ambiental também foram citados pelo candidato Luis Carlos Heinze (PP). Segundo o progressista, as hidrovias serão realidade em seu governo, assim como estímulo a novas culturas que despontam no Estado, como o cultivo de noz-pecan e oliveiras. Já o perfil de um futuro titular da Agricultura será debatido com as principais entidades do setor produtivo.
Encerrando o primeiro bloco de apresentações e propostas, Vicente Bogo (PSB) citou o custo dos insumos e disse ser necessário um planejamento por parte do governo para incentivar a agricultura. O candidato prometeu trabalhar para aumentar a produtividade do setor, principalmente da agricultura familiar. Sobre o comando da pasta, disse que optará por um secretário com conhecimento na agricultura e trânsito político para ter sinergia com o setor e no andamento das pautas.
Demandas do setor
A segunda parte do painel abriu a rodada de perguntas de representantes de diversos setores do agronegócio gaúcho. As perguntas abordaram demandas específicas de cada segmento e foram respondidas a partir de sorteio entre os candidatos, contemplando uma pergunta para cada concorrente.
Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), foi o primeiro a perguntar e abordou a questão ambiental. O dirigente questionou qual será o foco dado pela secretaria do Meio Ambiente durante o mandato para resolver questões que podem solucionar o problema da seca, por exemplo. Eduardo Leite (PSDB) foi o sorteado para responder. O tucano disse que as ações de seu governo "falam por si só", como a revisão do código ambiental e das normas de preservação em sintonia com a legislação federal. Para uma futura gestão, prometeu normativas mais desburocratizadas para "dar espaço a quem produz" e aproveitar o momento em que o mundo todo olha para o meio ambiente como oportunidade para mostrar o que já é feito pelo setor.
Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), trouxe para o debate a questão tributária e a competitividade do setor lácteo gaúcho frente a outros estados como Santa Catarina e Paraná, que vêm despontando. Luis Carlos Heinze (PP) respondeu que o entrave se estende, também, para a produção de frango e de suíno, e que será necessário sentar com o setor para definir um plano. Segundo o candidato, o Estado não pode aceitar que uma empresa gaúcha não tenha as mesmas vantagens que uma de fora. Heinze disse que sua gestão será parceira de quem produz, "não só do produtor, mas também das empresas".
O Rio Grande do Sul é líder na produção de biodiesel, e os planos para manter a indústria atuante pelos próximos quatro anos foram o questionamento de Erasmo Battistella, presidente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis (Aprobio). Sorteado para a resposta, Vieira da Cunha (PDT), disse que o setor terá o diálogo e a importância que merece por ser estratégico tanto pelo desenvolvimento quanto pela questão ambiental.
Representando o setor das máquinas agrícolas, o presidente do Simers, Claudio Bier ampliou a abrangência das demandas e abordou a irrigação. O dirigente questionou os candidatos sobre o interesse em viabilizar proposta do sindicato que sugere um "Fundopem da irrigação". Vicente Bogo, do PSB, respondeu que vê a ideia como "viável e pertinente", acrescentando a necessidade de o Fundopem ser revisado de modo a incluir novidades visando ao desenvolvimento tecnológico.
Destacando o destaque que a olivicultura tem ganhando ano a ano no Estado, Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), quis saber o que o próximo governador imagina para o cenário da cultura daqui a cinco anos. Ricardo Jobim, do Novo, respondeu que é preciso apostar nas certificações de origens e nas características regionais que tornem a vocação potencial para cada cultura.
A última pergunta da rodada foi feita pelo presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joe da Silva, que questionou sobre a viabilidade de se aumentar recursos que garantam a soberania da produção alimentar. Edegar Pretto voltou a falar sobre a proposta de um plano safra gaúcho e da constituição de um fundo de enfrentamento às intempéries, especialmente a estiagem, que vem afetando fortemente o Estado nos últimos anos.
Terceira rodada da sabatina
Uma segunda pergunta foi respondida por cada candidato na terceira e última rodada do painel.
José Eduardo dos Santos, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), comentou sobre a recente assinatura de protocolos pelo governo estadual para a instalação de indústrias de etanol, que deverão usar milho e trigo para produzir o combustível. O dirigente quis saber como os candidatos irão apoiar o setor avícola para que não faltem suprimentos na cadeia. Vieira da Cunha (PDT) respondeu que a lógica é que se tenha uma política de incentivo para uma maior produção de milho. Segundo o candidato, será discutida com a cadeira uma forma possível para que não haja desabastecimento.
A Associação Nacional dos Criadores de Ovinos foi representada por Edemundo Gressler, que questionou o que será feito para o fomento da ovinocultura gaúcha. Luis Carlos Heinze (PP) respondeu que há questões para serem trabalhadas, entre elas o abigeato. O candidato destacou a qualidade da carne ovina gaúcha e reconheceu que é preciso ajudar o setor produtivo da carne, especialmente na metade Sul.
Rogério Kerber, à frente do Sindicato das Indústrias de Carne Suína, destacou o protagonismo do Brasil em relação à produção de carne, mas questionou que o setor vem perdendo competitiva tributário. E quis saber quais os planos para avaliar a perda de espaço no mercado e de divulgar o nome do Estado ao comércio internacional. Ricardo Jobim (Novo) respondeu que é possível abrir novos mercados e que isso será prioridade ao permitir que o próprio setor produtivo aponte o caminho para a abertura econômica, dentro de uma agenda viabilizada pelo Estado.
Anderson Belloli, diretor jurídico da Federarroz, perguntou aos candidatos sobre os planos para o setor arrozeiro, em especial à reestruturação do Irga e a questão tributária. Edegar Pretto aproveitou a pauta para falar do aumento da fome e da necessidade de tornar o setor mais competitivo, fazendo com que a produção seja ampliada e que a população tenha acesso ao alimento. Segundo o petista, o compromisso será o de "botar a comida na mesa".
A importância das cooperativas para o setor agrícola foi trazida pelo presidente do Sistema Ocergs, Darci Pedro Hartmann. O dirigente quis saber das propostas efetivas para o setor como um todo. Eduardo Leite (PSDB) voltou a falar da questão fiscal em sua resposta, reafirmando a necessidade de investimento em áreas diversas, como logística e infraestrutura, alinhadas às boas práticas tributárias.
Finalizando a rodada de perguntas, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), José Francisco Wolf, trouxe para o debate o tema da segurança no campo. E quis saber que medidas serão adotadas para combate dos crimes rurais. Vicente Bogo (PSB) disse que trabalhará para garantir tranquilidade e paz no campo. Para isso, serão necessária ação estratégica para fazer a investigação policial em dois pontos: no roubo em si e na recepção das cargas.
Críticas e acusações deram clima tenso
Entre uma resposta e outra, alguns candidatos aproveitaram para tecer críticas aos seus oponentes. Como já havia ocorrido no debate realizado pela Rádio Gaúcha, Eduardo Leite (PSDB) foi o alvo principal dos candidatos, principalmente de Vieira da Cunha (PDT) e Edegar Pretto (PT).
O pedetista usou a maior parte do tempo destinada à sua segunda resposta para criticar a propaganda eleitoral do tucano, veiculada pela primeira vez nessa sexta-feira. Cunha disse que Leite renunciou para disputar a Presidência da República e que usou o argumento da economia da máquina pública para justificar a desistência do comando estadual. A equipe de Eduardo Leite, então, pediu direito de resposta, mas a assessoria jurídica do Grupo RBS entendeu que não houve ofensa.
Em nova oportunidade de resposta, Leite aproveitou para responder às acusações. E revidou Vieira da Cunha, afirmando que o mesmo se licenciou de sua função como procurador da Justiça para disputar o pleito, não deixando de receber seu salário neste período.
Já Edegar Pretto (PT) disse que Leite preferiu a renúncia em nome da carreira pública. O petista também acusou os dois últimos governos, incluindo o do tucano, de "virarem as costas" para o setor durante o enfrentamento da estiagem.
A adesão ao Regime de Recuperação Fiscal também foi tema de indiretas entre os candidatos.