O Gaúcha Hoje, programa da Gaúcha Serra, realizou na manhã desta segunda-feira (30) entrevista com Paula Ioris, atual vice-prefeita de Caxias do Sul, para falar do seu tempo no Executivo. A partir de 1° de janeiro, Edson Néspolo assume o cargo.
Confira a entrevista:
Paula Ioris: Foi uma experiência muito, muito, muito bacana. Eu gostei muito, tenho dito para as pessoas, disse ao longo do mandato, que ser vice-prefeita de Caxias me possibilitou de fato conhecer a nossa cidade. Eu nasci em Caxias, sempre morei em Caxias, mas atuei em outras áreas.
E quando a gente está à frente, governando um município, é que a gente de fato, pelo menos eu, pude conhecer muito, muito da nossa cidade. Especialmente até do que já existia na cidade de políticas públicas. E essa cadeira te possibilita ter uma visão 360 graus de vários assuntos, de vários temas. Então foi uma experiência muito, muito boa mesmo.
Gaúcha Serra: quando, ainda na campanha do prefeito Adiló, a primeira, que a senhora foi eleita a vice com ele, eu questionei ele, na época, sobre a escolha da vice. E ele falou: "eu e Paula Ioris, por mais que sejamos do mesmo partido, por vezes temos opiniões divergentes em determinados assuntos, em determinados temas." Como foram, então, esses quatro anos? Houve muitas divergências em determinados assuntos?
Paula: Então, de fato, eu e o prefeito, a gente sempre admitiu isso, mas a gente sempre teve muito diálogo. Desde o início, quando ele me convidou, eu comentei: a gente tem que conversar sobre as coisas que a gente acredita. Por exemplo, eu acredito num governo, numa escolha de secretariado que tenha técnicos à frente das secretarias. Claro, técnicos políticos em equilíbrio, mas eu sou psicóloga organizacional e sempre atuei na profissionalização de empresas, na contratação de pessoas, na definição de políticas. Então, essa é uma visão bem forte minha.
Então, nesse aspecto, o Adiló faz mais um equilíbrio político, eu olho para o aspecto técnico. Eu vejo que nós somos uma cidade que tem uma super arrecadação, as secretarias, elas são verdadeiras organizações, orçamentos de R$ 700 milhões por ano, então precisa ter gente competente na frente. Então foi sempre uma coisa que eu defendi fortemente, e eu te diria assim, o que ficou sempre mais forte foi a nossa serenidade. A gente pensa algumas coisas diferentes, mas a gente sempre conversou. A gente teve muito diálogo sempre, quando alguma coisa pontual surgia a gente conversava e alinhava, mas foi sempre muito tranquilo.
Eu acabei assumindo mais pautas na área social, na área de inovação, de tecnologia, o prefeito mais as pautas de infraestrutura, que ele é uma pessoa que conhece a cidade como ninguém. Sei que o papel de tomada de decisão é do prefeito, então todas as ações que eu me envolvi, as coisas que a gente construía, sempre eu estava reportando. Nós tivemos um período bem forte de encontros, nós nos encontrávamos pelo menos duas vezes por semana, agenda na segunda e na sexta. Depois aliviou um pouco, depois também foram acontecendo algumas mudanças, mas foi tranquilo nesse aspecto.
Gaúcha Serra: A senhora mencionou a sua experiência como psicóloga organizacional, enfim, e uma atuação bastante forte da senhora como vice-prefeita foi justamente a qualificação e a modernização da gestão. A senhora avalia que esse é o maior legado que a senhora deixa?
Paula: Sim, esse é o maior legado, com certeza, inclusive eu citaria como exemplo a importância, nós precisamos disso porque nós encontramos a cidade muito analógica. Uma cidade do porte de Caxias, ela não pode. A gente perde tempo, a gente deixa de ser eficiente, a gente usa mal o recurso humano. A gente tem como exemplo cidades que como Recife, Maceió, Salvador que já são selo diamante em cidade inteligente.
Então nós precisamos perseguir isso e acredito que sim foi um legado importante, além dele, diria que trabalhei na área social e sempre me envolvi muito. A gente criou e deixou até como lei projetos relativo à prevenção da evasão escolar.
Nós deixamos como lei o Eu conto, todos contam, que é cada jovem conta, que é a questão da evasão escolar e o ser jovem cidadão, como projeto de qualificação de aprendizagem profissional dos nossos jovens em vulnerabilidade social. Também iniciamos numa parceria fantástica o projeto Escola do Amanhã que é na verdade um projeto do Simecs (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico), mas que tem total envolvimento da prefeitura em razão de ser os nossos jovens dos anos fundamentais, dos anos finais do ensino fundamental.
E nesse contexto também da governança, procurei muito a aproximação entre as secretarias, pra gente ter a visão integrada, do atendimento da população.
Gaúcha Serra: a senhora deixa a política? Qual será o seu futuro?
Paula: Eu já tive momentos que pensei em deixar, aí depois eu reflito, eu vejo que eu aprendi tanto que talvez eu tivesse ainda muita contribuição a dar. E surgiu, e é muito superficial ainda, teve um momento que eu nem comentava, mas agora eu falo um pouquinho só para dar uma ideia. Nós temos que ter a construção da região metropolitana da Serra Gaúcha pela frente, tem lei no governo do Estado na Assembleia Legislativa para ser criada essa governança e o fundo.
É um assunto que se estende há bastante tempo, é uma meta do governo, e eu fui provocada nesse sentido. É uma conversa inicial, mas tem uma parte importante da minha família que não quer mais que eu continue na política. Então eu vou ver como é que as coisas acontecem, eu tenho projetos bem concretos na minha vida profissional, mas eu também gosto muito de estar, eu olho para a política, como eu olho para todo o trabalho que eu já fiz na minha vida. Eu trabalhei 10 anos na Frasle, eu trabalhei 13 anos no Círculo Operário, e os meus oito anos na política não foram diferentes. Meu trabalho entre o público e o privado não muda, eu trabalho. Então, se eu puder contribuir nesse aspecto da região metropolitana da Serra, pode ser uma alternativa.