Em 2021, completou-se 10 anos desde que Caxias começou efetivamente o tombamento do complexo da antiga Metalúrgica Abramo Eberle SA, a Maesa. O início do processo acabou gerando gradativamente mobilizações sociais e políticas que visavam proteger a estrutura como patrimônio histórico e, aos poucos, pleitear a doação do prédio ao município, uma vez que acabou sendo repassado ao governo do Estado como forma de pagamento de dívidas adquiridas pela então proprietária, a Mundial SA. A partir de então, transcorreram longas negociações que culminaram na doação do complexo ao município em 2014. Na época, o ato foi celebrado e o complexo planejado como futuro centro cultural e econômico. Cerca de oito anos depois, no entanto, pouco se avançou na ocupação do espaço.
O movimento mais relevante foi o ensaiado início de ocupação na gestão de Daniel Guerra, que transferiu a Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (Dippahc) e parte da a Guarda Municipal para o espaço. Desde então, apenas estudos foram feitos, inclusive em 2021.
Ainda assim, a coordenadora da comissão para acompanhamento da Maesa, a secretária da Cultura, Aline Zilli, avalia que o processo avançou no último ano, especialmente com a entrega da primeira etapa do plano geral da área, realizada pelo escritório Vazquez Arquitetos.
— A gente teve escolhas muito acertadas de fazer esses estudos, logo no início do ano a assinatura do termo para que se fizesse algumas definições do ponto de vista de preservação, arquitetura, o que nos dá um norte em relação ao patrimônio, para que, dentro disso, possamos iniciar outros processos — destaca.
Contudo, a iniciativa desse estudo foi da administração anterior, de Flávio Cassina (PTB), quando os trabalhos referentes à Maesa eram conduzidos por Rubia Frizzo, que foi também quem coordenou o início do projeto de ocupação durante o governo de Alceu Barbosa Velho (PDT).
Rubia evita criticar diretamente a condução dos trabalhos. No entanto, relata que muitos encaminhamentos não tiveram continuidade efetiva.
— Quando nós trabalhamos naquele ano no Governo Cassina, fizemos vários encaminhamentos de projetos para ocupação efetiva, incluindo a transferência da Secertaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e de outras secretarias. Também foi feito trabalho de pesquisa bem amplo para implantação do mercado publico. A gente espera que fosse logo dada sequência a isso tudo depois do edital que apontaria intervenções necessárias em cada bloco — comenta Rubia.
A transferência de secretarias é um movimento ensaiado há anos. A medida visaria também à economia com gastos de aluguéis. Em 2020, por exemplo, o município gastou cerca de R$ 6,4 milhões com aluguéis. Só a Semma custa em torno de R$ 265 mil anualmente. Aline Zilli, disse que a mudança da pasta ainda está em fase de estudos.
AREIA AINDA LÁ
A remoção da areia acumulada de décadas de atividades da fundição também está nos planos da administração há anos. O próprio custo, estimado inicialmente em torno de R$ 1,5 milhão seria um empecilho para o remanejo do material.
Estudos e mais estudos
O município agora aguarda para divulgar a segunda etapa do plano geral elaborado pelo escritório Vazquez Arquitetos, que já foi concluído e espera autorização interna para liberação. Esse segundo levantamento prospecta potenciais de uso do espaço, sugerindo vocações mais específicas para cada um dos 19 blocos existentes.
Paralelamente, outro estudo junto ao BNDES avaliará as melhores possibilidades de exploração da estrutura por meio de parceria público-privada (PPP). A intenção é especular as potencialidade da Maesa em conjunto com a Estação Férrea e os pavilhões da Festa da Uva.
— (O estudo servirá) para que possamos estruturar melhor as parcerias e tenhamos entendimento comercial de uso para esses espaços, além da vontade e vocações culturais possamos fazer esse entendimento de como podem ser sustentáveis as operações de concessão ou a própria PPP — explica Aline Zilli.
Ela ressalta que, com o eventual desmembramento e criação da Secretaria de Parcerias Estratégicas, a administração pretende dedicar foco maior nessa linha de trabalho.
No ano passado, o município também lançou, via decreto, possibilidade de apresentação de proposições para uso do complexo por meio do site da prefeitura.
Também em 2021, a prefeitura conseguiu obter alterações na lei estadual 14.617, que trata da ocupação da Maesa, flexibilizando a exploração do espaço para estruturação de PPPs.
AVANÇOS EM 2021
- Apresentação de primeira etapa de estudo arquitetônico e estrutural do complexo (plano geral), em agosto.
- Mudança de dispositivos da lei estadual de cessão da Maesa ao município, flexibilizando o uso e prazos para ocupação do espaço, o que possibilitará a estruturação de parcerias público-privadas (PPPs).
- Avanços nos estudos de estruturação de PPPs para ocupação do complexo.
PROJEÇÕES PARA 2022
- Divulgação de segunda etapa do plano geral.
- Remoção do restante do maquinário leiloado pela empresa Voges.
- Estruturação de concessão/PPP
- Transferência de Semma.
Fonte: Secretária municipal da Cultura, Aline Zilli
AS 5 MACROVOCAÇÕES
- Administração pública: espaços destinados para as futuras secretárias e órgãos municipais.
- Arte e cultura: engloba espaços para atividades culturais, bem como espaço para ensino e produção de artigos culturais.
- Memória e patrimônio: destina espaços para mostrar a história da metalurgia, com exposição dos equipamentos e peças tombadas com o conjunto.
- Lazer e gastronomia: espaços destinados para um Mercado Público, com lojas, bancas, restaurantes, bares e cafés.
- Administração Maesa: engloba espaços para infraestrutura do complexo e escritórios.
Fonte: Secretaria de Planejamento, com base em programa elaborado pela Comissão da Maesa
O QUE DIZEM
"De prático, não avançou nada, de efetivo. O que teve foram só estudos, que ainda nem foram apresentados em definitivo, ainda aguardamos. (O projeto) Ainda só está no papel, na gaveta. Falta ainda iniciativa proativa para iniciar ocupação efetiva, como foi estabelecido no Governo Cassina. Com a ocupação da Secretaria do Meio Ambiente, já dá uma vida. Poderiam reformar paisagismo do entorno, do lago, com aulas ambientais, abrir espaços para famílias poderem estar presentes, pois se fala da Maesa hoje e boa parte não sabe do que se trata." Vereador Rafael Bueno, presidente da Frente Parlamentar "A Maesa é nossa" e integrante da comissão de acompanhamento da ocupação
"A gente, estando do outro lado, não estamos no dia a dia para saber qual a priorização que está sendo dada. Mas às vezes a gente não lembra como foi importante trazer a Maesa para Caxias em forma de doação. Deveria ser uma prioridade." Rubia Frizzo, ex-secretária municipal da Cultura e ex-presidente da Comissão de Ocupação da Maesa
"Existe expectativa da comunidade de que se possa abrir as portas e fazer uso da Maesa como se idealiza, mas encontramos realidade muito distante do que é esse sonho da população que não conhece tecnicamente o espaço, os desafios, a magnitude do próprio prédio, a própria condição arquitetônica que ele está. Tudo isso tem de de ser levado em consideração." Aline Zilli, secretária da Cultura