Há menos de duas semanas, a vereadora Gladis Frizzo (MDB) disse ao Pioneiro que não lhe atraía a possibilidade de concorrer à presidência da Câmara, como havia se especulado ao longo do ano. Na ocasião, ela reconheceu que tinha sido procurada pela chamada frente anti-PT para se colocar à disposição de disputar a função com a colega Denise Pessôa (PT), único nome até então confirmado e com tendência de eleição, considerando a vigência do acordo informal que destina a função em rodízio para as maiores bancadas em uma legislatura — no caso da atual, as bancadas do PTB, PT, PSB e PSDB.
Gladis disse à reportagem que se sentiu lisonjeada pelo convite, mas que não tinha interesse em descumprir o acordo. Nesta quarta, no entanto, ela anunciou em plenário que vai concorrer à presidência.
— Estou aqui hoje para dizer aos senhores e as senhoras que colocarei o meu nome para disputar a presidência da Câmara de Vereadores. Por quê? Porque também ajudei a eleger o Adiló Didomenico, porque o MDB foi protagonista nessa eleição. Nós não somos oposição. E nós queremos que este governo faça um excelente trabalho para toda a população caxiense e queremos ser, sim, colaboradores, participar deste trabalho deste governo — pronunciou na tribuna, em discurso que narrou toda sua trajetória política.
Após a fala de Gladis, quem se pronunciou sobre o assunto foram os vereadores da frente anti-PT, que, ao que tudo indica, a emedebista também integra, junto com o líder de governo, Olmir Cadore (PSDB), que parabenizou a candidatura anunciada.
As manifestações dos vereadores da frente anti-PT, inclusive, foram todos na linha ideológica, o que deve ser a estratégia do grupo para tentar reverter a votação de Denise, que estaria encaminhada para a eleição à presidência.
O Pioneiro tentou contato com a vereadora Denise Pessôa (PT), mas não obteve retorno.
"Nunca me deixei ser usada"
Gladis disse ao Pioneiro que de fato não pretendia concorrer à presidência e que esperou algum outro colega colocar nome à disposição, o que não ocorreu, fazendo-a mudar de ideia.
— Até esperei que outra pessoa colocasse nome à disposição, até para termos duas chapas, acho que tem de ter duas chapas, é melhor para a democracia — diz a emedebista.
Ela nega que tenha havido qualquer tratativa ou negociação de distribuição de comissões durante as articulações. Também refuta declarações de bastidores de que estaria sendo usada pela frente anti-PT.
— Não me conhecem, nunca me deixei ser usada, sempre tive personalidade forte e sempre decido o que acho que deva ser feito. Não foi prometido nada, estamos numa chapa que dificilmente vai ganhar, é só para que haja escolha — garante.
Gladis diz que avisou Denise previamente de sua decisão:
— Avisei a Denise, liguei para ela, respeito ela. Ela disse 'Gladis, vamos conversar', eu disse 'não, me desculpa, mas eu vou'.
Questionada como se sentia descumprindo acordo de que o próprio MDB já se beneficiou no passado recente (com presidência de Paulo Périco, por exemplo), ela disse que não se envolveu nas discussões referentes ao assunto nas legislaturas passadas.
— Nunca fiz parte dessas negociações, nem ano passado, nunca me chamaram, mesmo sendo líder de bancada, sempre fui excluída. Não é movimento do partido, é movimento da bancada — declarou.
Orgulho do "pai" Marcon
A confirmação de Gladis para representar a frente anti-PT foi comemorada pelo líder do grupo, vereador Mauricio Marcon (Podemos). Marcon, inclusive, foi quem iniciou o movimento para descumprimento do acordo que prevê a rotação da presidência, ainda em dezembro do ano passado, antes de assumir efetivamente a legislatura.
— Essas construções que a gente fez para a senhora aceitar concorrer e colocar o seu nome à disposição é algo que poucas pessoas fariam. A senhora talvez abra mão de comissão, está abrindo mão de algumas coisas para botar o seu nome aqui à disposição. Eu quero agradecer ao MDB, que é o seu partido, por ter feito essa construção também — disse Marcon na sessão.
Marcon também alegou que o prefeito Adiló "deu a bênção" para o nome de Gladis.
— O seu nome surgiu lá na reunião em março (...), fomos até o prefeito conversar com ele. E o prefeito deu, sim, sua bênção para que o seu nome fosse construído de lá para cá. É verdade que de lá para cá a senhora algumas vezes titubeou, ficou indecisa, não queria se indispor, mas (teve) a coragem e a força de vontade de ter uma alternativa aqui nesta Casa para representar os votos que nós pedimos para o prefeito no segundo turno — disse.
A vinculação com o apoio do segundo turno também foi discurso indicado por Marcon e por Gladis como provável argumento para angariar votos da bancada do PSDB, que continua uma incógnita para a votação.
MDB nega articulação
Apesar da declaração de Marcon, o MDB negou ao Pioneiro envolvimento na articulação para encaminhamento do nome de Gladis para disputar a presidência. O presidente municipal da sigla, Carlos Búrigo, disse inclusive que soube do fato pela reportagem.
— Não estava sabendo. Provavelmente é uma questão particular, não posso falar nada. Não sei (se o MDB é favorável ao acordo), não estou sabendo de nada, primeiro preciso ficar sabendo. É uma questão dos vereadores, assumi a presidência recentemente e essa pauta nunca foi conversada comigo. Quem faz os acordos na Câmara são os vereadores, é a bancada — disse o deputado.
Felipe Gremelmaier também afirmou nunca ter participado de qualquer articulação.
— Nunca falei com o Marcon e não participei de nada. Ele que diga que alguma vez falou comigo sobre isso. Ele que fale pelo partido dele. O MDB tem presidente e dois vereadores e nunca fui procurado. Respeito a vereadora Gladis pela liderança dela e por colocar o nome à disposição para presidir a casa, mas comigo ele nunca falou — disse Gremelmaier.
Ainda assim, Gremelmaier confirmou que vai votar em Gladis Frizzo para a presidência.
"EXECUTIVO NÃO VAI INTERFERIR"
Também mencionado por Marcon por ter supostamente dado a "bênção" ao nome de Gladis, Adiló negou que o Executivo se envolva com a eleição para a Mesa.
— Assunto do Legislativo quem trata são os vereadores, o Executivo não vai interferir de forma nenhuma.
Questionado, entretanto, se tinha dado a "bênção" mencionada por Marcon, Adiló não respondeu.
CANDIDATURA DE GLADIS
O que significa
- Gladis foi nome escolhido pela frente anti-PT para representar o grupo na eleição para presidente da Câmara. Após relutar por meses, confirmou na sessão de quarta. Com isso, Gladis confirma sua junção ao grupo formado por Mauricio Marcon (Podemos), Mauricio Scalco (Novo), Adriano Bressan (PTB), Olmir Cadore (PSDB), Sandro Fantinel (Patriota), Ricardo Daneluz (PDT) e Alexandre Bortoluz (PP).
- A emedebista é um nome considerado intermediário, por ter boa relação com a maioria dos vereadores e de posicionamento mais neutro, diferente dos demais membros da frente anti-PT.
- Com o nome de Gladis, o grupo espera angariar votos do PSDB, que até o momento estava em cima do muro, do próprio MDB (Felipe Gremelmaier já confirmou que vai votar na colega) e possivelmente do PTB — Adriano Bressan estava propenso a votar em Denise e pode reverter posicionamento de Clóvis Xuxa e Velocino Uez, que também estavam indecisos.
- Além de apostarem no discurso ideológico para pressionar outros vereadores a votar "contra o PT", a frente anti-PT também enfatiza apoio ao prefeito Adiló Didomenico (PSDB) no segundo turno das eleições.
Efeitos na oposição
- Após meses de articulação, a oposição pode agora estar correndo risco depois de já ter praticamente assegurado a maioria dos votos para condução de Denise à Mesa.
- Caso perca a presidência por descumprimento do acordo, o PT deve reforçar oposição ao governo e ser mais agressivo no próximo ano.
- O próprio acordo deve sofrer revés se Gladis se eleger à presidência, afinal, abriria-se precedência para ser descumprido nos próximos anos e legislaturas.