A eleição para a majoritária de Caxias do Sul em 2020 contou com 11 candidatos. Foi o maior número de postulantes ao cargo da história do município. Naturalmente, apenas um se consagrou vencedor. Para os 10 outros concorrentes ao Executivo, coube a volta às atividades que precederam o pleito ou acomodação em outras funções. Cerca de seis meses após a eleição, o Pioneiro contatou os 10 candidatos para saber com o que se ocupam atualmente. São eles: Pepe Vargas (PT), Edson Néspolo (PDT), Carlos Búrigo (MDB), Marcelo Slaviero (Novo), Vinicius Ribeiro (PDT), Nelson D'Arrigo (Patriota), Julio Freitas (Republicanos), Antonio Feldmann (MDB, mas na época concorreu pelo Podemos), Renato Toigo (PSL) e Renato Nunes.
A maioria dos ex-candidatos era composta por empresários, e eles retornaram às suas funções naturalmente. Edson Néspolo, Marcelo Slaviero, Vinicius Ribeiro, Nelson D'Arrigo e Renato Toigo se voltaram a funções administrativas na iniciativa privada. A exceção é Néspolo, que antes de concorrer à prefeitura exercia cargo na Gramadotur, em Gramado. Após o processo eleitoral em Caxias, ele passou a prestar serviços de assessoria e consultorias em diversas áreas, especialmente voltadas a turismo e eventos.
— Presto assessorias, principalmente desenvolvendo projetos. Por exemplo, no momento me envolvo com três projetos, um elaborando um evento de Natal para um município do Rio de Janeiro, trabalho com uma empresa de Gramado também e o terceiro é assessorando uma empresa que quer se instalar em Caxias. Estou sendo bem procurado, graças a Deus — relatou à reportagem.
Dois dos ex-candidatos, Pepe Vargas e Carlos Búrigo também retomaram suas funções, mas em cargos eletivos, como deputados estaduais. A única acomodação política entre eles foi a de Julio Freitas, nomeado para um cargo em comissão na Procuradoria-Geral (PGE) de Porto Alegre. Ele, inclusive, é o único dos ex-candidatos que permanece mais tempo fora de Caxias e vem para cidade apenas aos finais de semana, como contou ao Pioneiro.
Talvez as ocupações mais inusitadas sejam às do ex-candidato e ex-vereador Renato Nunes, que, após a disputa, voltou a ministrar cultos e também desenvolve esculturas, especialmente para o público infantil, como artesão. Nunes reafirmou que nunca parou de exercer a função de pastor.
— Faço escultura e desenvolvo alguns trabalhos que eu sempre quis desenvolver, estou fazendo alguns cursos também, estudo para a prova da Ordem (dos Advogados do Brasil, a OAB). Continuo sendo pastor também, atividade que já exerço há quase 30 anos. Qualquer igreja que me convidar eu vou — comentou.
Já Antonio Feldmann disse que, nesse tempo pós-eleição, dedicou-se a estudar e a fazer cursos de especialização na área da Comunicação Social.
GOVERNO ADILÓ
Dos 10 consultados, sete disseram aprovar em níveis diferentes a administração, alguns com ressalvas. Já três ex-candidatos fizeram críticas enfáticas à atual administração: Pepe Vargas, Edson Néspolo e Julio Freitas.
Horizontes com e sem a política
Pepe, Búrigo e Néspolo confirmam intenção em disputar a eleição para a Assembleia Legislativa no próximo ano. Vinicius Ribeiro, Marcelo Slaviero, Julio Freitas e Renato Nunes sinalizam a possibilidade, mas ainda não confirmam se colocarão de fato o nome à disposição para concorrer. Já Antonio Feldmann, Nelson D'Arrigo e Renato Toigo descartam participarem do próximo pleito. Os dois últimos ressaltam desinteresse em dar continuidade à vida política.
— A vida política acabou, tivemos uma boa experiência, a oportunidade de conhecer melhor a cidade e discutir temas que eu nunca tinha discutido, sempre trabalhei na iniciativa privada olhando para o meu próprio umbigo — afirmou D'Arrigo.
Já Toigo diz que pretende mudar de partido (ele concorreu pelo PSL) e que deve se ater apenas a apoiar o presidente Jair Bolsonaro para eventual eleição:
— Meu destino político penso que terminou, o nosso partido não nos deu apoio necessário, mas não saí decepcionado, pois recebi muito apoio. A minha campanha não foi o que se imaginava por não termos recursos que o partido nos prometeu e nossa estrutura começou muito tardia.
O QUE FAZEM
- 5 administradores: Edson Néspolo (PDT), Marcelo Slaviero (Novo), Vinicius Ribeiro (DEM), Nelson D'Arrigo (Patriota) e Renato Toigo (PSL).
- 2 deputados: Pepe Vargas (PT) e Carlos Búrigo (MDB).
- 1 CC (no governo do Estado): Julio Freitas (Republicanos).
- 1 artesão e pastor: Renato Nunes (PL).
- 1 sem ocupação e cursos de especialização: Antonio Feldmann (MDB).
Onde está cada um
PEPE VARGAS (PT)
- O que faz: Deputado estadual pelo PT.
- Futuro político: "Pretendo concorrer a deputado estadual."
- Avaliação do Governo Adiló: "Em cinco meses o prefeito rasgou a principal bandeira da sua campanha, baixar o preço da tarifa de ônibus. Apesar de o município dispor de uma qualificada procuradoria municipal, patrocinou uma nebulosa e ilegal contratação de escritório de advocacia, anulada pela Justiça. Não conduz uma estratégia adequada de bloqueio da transmissão da covid-19, ao mesmo tempo que defende o uso de medicações não indicadas pela comunidade científica. Não apresentou nenhuma proposta para auxílio emergencial às famílias em extrema pobreza, nem propostas de apoio a microempreendedores individuais e microempresas que sofrem com a crise. Gostaria de dizer que está indo bem, infelizmente não está."
EDSON NESPOLO (PDT)
- O que faz: "Estou trabalhando em duas, três assessorias e consultorias de municípios e iniciativa privada, voltadas ao planejamento de eventos, turismo."
- Futuro político: "Pretendo concorrer a deputado ano que vem, por isso estou ficando mais por Caxias. Mas claro, isso será uma decisão do partido."
- Avaliação do Governo Adiló: "Infelizmente, temos visto uma quantidade absurda de promessas para ganhar uma eleição sem medir as consequências e está aí. Promessas que sabíamos que não seriam cumpridas, como transporte coletivo, obras prometidas, enfim, a gente vê numa campanha tão recente e seis meses depois é extremamente decepcionante na prática. Era muita promessa, eu sabia que não tinha como realizar, por isso fui mais comedido na campanha, pois sabia da responsabilidade. Torço para que dê certo, mas as primeiras atitudes, prometeram enxugar a máquina, que tem de ser enxugada na pandemia e não enxugaram uma secretaria.".
CARLOS BÚRIGO (MDB)
- O que faz: Deputado estadual pelo MDB.
- Futuro político: "Meu foco é o trabalho atual na Assembleia, mas pretendo concorrer à reeleição a deputado estadual."
- Avaliação do Governo Adiló: "Estou aprovando, é um bom trabalho, e sempre ressalto a questão da capacidade que ele teve de unificar as entidades de Caxias do Sul, a Câmara de Vereadores e dialogar com muito respeito, ouvindo as manifestações de quem é contrário. Acho que faz um bom trabalho, sabendo da grande dificuldade que é administrar nesse momento de pandemia."
MARCELO SLAVIERO (NOVO)
- O que faz: "Segui trabalhando na minha empresa de prestação de serviços, aliás, no dia seguinte já continuei minhas atividades no setor privado."
- Futuro político: "Estamos criando um movimento liberal e conservador na Serra, com candidatos que foram eleitos e outros que não foram eleitos. É pluripartidário. (...) Queremos discutir políticas públicas e até propor políticas públicas. Tenho conversado sobre concorrer ano que vem, mas hoje não está no meu horizonte, não tenho decisão formada ainda por questões pessoais."
- Avaliação do Governo Adiló: "Tem algumas medidas bem interessantes, avançou em temas importantes, mas claro que tem algumas críticas pontuais, como a contratação do escritório de advocacia em Brasília, que achei um valor exagerado. Mas já avançou em várias questões, como ao atacar algumas despesas do transporte público, ainda que ele tenha feito uma promessa que a gente sabia que jamais iria ser cumprida, que era o valor da passagem, mas acho que tem evoluído bastante coisa em vários aspectos."
ANTONIO FELDMANN (MDB)*
- O que faz: "Da eleição até hoje, aproveitei o tempo para estudar e fazer cursos de especialização na área da Comunicação Social."
- Futuro político: "Em termos políticos, voltei ao MDB, mas não participei mais de atividades políticas. Tenho convites para trabalhar em assessoria política e estou avaliando. Não tenho pretensão de concorrer na eleição de 2022."
- Avaliação do Governo Adiló: "Positiva. Está administrando com seriedade e equilíbrio, e ele pessoalmente tem tratado tudo com muita transparência e sinceridade. Acredito que precisa ampliar suas bases de apoio, inclusive partidário, para ter governo mais representativo e plural, como foram gestões de (José Ivo) Sartori, Alceu (Barbosa Velho) e até do (Flávio) Cassina. Caso contrário, terá problemas em breve de sustentação. Governos que se fecharam em leque estreito de apoios políticos tiveram sérios problemas".
* Concorreu pelo Podemos
VINICIUS RIBEIRO (DEM)
- O que faz: "Tenho minha empresa de arquitetura, planejamento urbano e mobilidade. Estou atuando em 5 Estados brasileiros. Além disso, leciono na faculdade de Arquitetura e avancei no meu doutorado na linha de inovação e competitividade. Tenho dado muita palestra Brasil a fora. Estou com muito trabalho e estudo, graças a Deus".
- Futuro político: "A política está em todo momento comigo. Tenho militado muito no meu propósito profissional em relação à mobilidade e a Região Metropolitana da Serra Gaúcha. Tenho recebido convites para ir aos bairros, mas estou cauteloso ainda. Ser candidato na próxima eleição? Estou mais para ser candidato a ter meu segundo filho. É tão bom estar com a família e acompanhar o crescimento do meu piá."
- Avaliação do Governo Adiló: "Muito cedo para avaliar. Ele precisa de tempo. Quero e desejo muito que ele e seu governo vão bem. O sucesso dele é o nosso. Não vai ser fácil fazer o que prometeu na campanha. A pandemia e a economia não são desculpas, pois no ano passado já nos encontrávamos neste cenário".
NELSON D'ARRIGO (PATRIOTA)
- O que faz: "Voltei a trabalhar no meu negócio (imobiliária e construtora)."
- Futuro político: "Não tenho vontade de ser deputado, vereador. Não tenho visão legislativa, tenho visão administrativa. Também não queria ser governador, presidente, queria ser prefeito, endireitar a minha terra. Mas não pretendo nem concorrer a prefeito novamente, com a política não me envolvo mais."
- Avaliação do Governo Adiló: "Tudo continua como era, os tempos dentro da prefeitura são os mesmos, a única coisa que mudou foi o diálogo, e isso é uma grande coisa. Antes, nós não tínhamos nem diálogo. O Adiló está fazendo o que ele pode, mas também ele tem que olhar o lado político, porque ele é político. A vantagem que eu tinha é que eu, não sendo político, não tinha dependência e nem compromisso político, uns chamam de rabo preso."
JÚLIO CÉSAR FREITAS (REPUBLICANOS)
- O que faz: "Estou trabalhando como advogado na Assessoria Técnica do Gabinete do Procurador-Geral do Município de Porto Alegre. Durante a semana, fico na Capital, e aos finais de semana, retorno a Caxias do Sul."
- Futuro político: "É muito cedo para se decidir qualquer coisa sobre candidaturas. Qualquer tipo de candidatura tem que partir primeiro do objetivo que se pretende e segundo, que seja um sentimento coletivo, e não apenas um possível desejo pessoal de quem quer que seja. Se algo neste sentido tiver que acontecer, acontecerá de uma forma natural, madura, e com clareza de objetivos e onde se quer chegar com isso."
- Avaliação do Governo Adiló: "Tenho certeza absoluta de que, se as eleições municipais fossem hoje, ele não se reelegeria. Vivemos infelizmente a Caxias da Visate, dos buracos e do trânsito caótico no Centro, da mentira eleitoral da passagem do transporte coletivo a R$ 3,50, sem remédios e fraldas no SUS, sem mutirões de consultas especializadas, de cirurgias eletivas e de exames. Vivemos a Caxias da pandemia sem controle e da economia quebrada. Fora a farra das funções gratificadas (FGs), que é só fazer uma pesquisa no Diário Oficial Eletrônico do Município para constatar. E continua me impressionando o silêncio da Câmara de Vereadores e do Ministério Público. O triste é que recém estamos na metade do primeiro ano de quatro que ainda teremos pela frente".
RENATO TOIGO (PSL)
- O que faz: "Continuo trabalhando no meu escritório de contabilidade, ativamente."
- Futuro político: "Estou filiado no PSL, mas pensando em trocar de partido. Não devo concorrer a nada nas próximas eleições, só apoiar o presidente (Jair) Bolsonaro. Meu destino político penso que terminou."
- Avaliação do Governo Adiló: "A administração do Adiló vai ser uma mesmice como as que tiveram nos últimos tempos. Acho que ele vai encontrar muita dificuldade de fazer a cidade crescer, dominar a região e fazer o que se espera de uma metrópole em sua região. Está dentro do esperado, esperava-se do Adiló uma administração nota 6 e ela continuará nota 6, como as que tiveram até então."
RENATO NUNES (PL)
- O que faz: "Estou fazendo uns trabalhos autônomos ligados à arte, artesanato, escultura, estou estudando para fazer a prova da Ordem (dos Advogados do Brasil) e desenvolvo meu trabalho como pastor evangélico, pregando a palavra de Deus em várias denominações e tocando a vida como qualquer outra pessoa".
- Futuro político: "Não deixamos de ser agente político, sou presidente do PL e estamos trabalhando a futura eleição. Não está confirmada a minha candidatura, mas certamente teremos em Caxias um candidato a deputado federal e um estadual."
- Avaliação do Governo Adiló: "Não é fácil, sei disso, fiz parte do governo do prefeito Daniel Guerra. Mas acho que está indo bem, críticas e oposição sempre tiveram e sempre vão ter em qualquer governo. É muito fácil criticar, ser oposição, só bater, difícil é ser governo e lutar pelas questões pertinentes da cidade."