Aos 17 anos, Adiló Didomenico, nascido em Marau, pisava em Caxias do Sul pela primeira vez. Neste domingo, 51 anos depois, foi eleito para governar a cidade que o acolheu. No segundo turno, o tucano de 68 anos teve a preferência de 59,57% dos eleitores, conquistando 136.590 votos. O novo prefeito é viúvo de Célia Maria Didomenico, pai de Cintia, Diego e Gustavo Didomenico e Bianca Didomenico Seitenfus. Autodeclarado um perfeccionista extremo e exigente consigo mesmo, tem na convivência com a família a ideia plena de felicidade:
— É quando a pessoa consegue realizar os seus sonhos, mesmo que em partes, pois ninguém consegue realizar todos, e ter uma convivência fraterna com os familiares.
Formado em Economia pela UCS, Adiló começou a envolver-se com a política no movimento estudantil, ao lado do ex-governador José Ivo Sartori (MDB). Mas foi o ex-prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho que o conduziu para a função, no final dos anos 1980. Adiló cumpre, até o final deste ano, seu segundo mandato de vereador. Nos dois governos do ex-prefeito Sartori, de 2005 a 2012, foi diretor-presidente da Codeca. No governo do ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) licenciou-se do primeiro mandato como vereador para ser secretário de Obras e Serviços Públicos, de 2013 a 2016. Em 2016 concorreu à Assembleia e teve 23.723 votos.
Reconhecido como agregador, quer fazer do diálogo a marca do governo que se inicia em 1º de janeiro de 2021.
— Não é porque ganhamos a eleição que não precisamos mais deles. Todos que quiserem o melhor para Caxias do Sul serão bem-vindos. Vamos fazer uma administração ouvindo as pessoas, porque, quando ouvimos, erramos menos; e, se errarmos, vamos voltar atrás e corrigir — afirmou o prefeito eleito para a administração 2021-2024.
Em seu primeiro pronunciamento às mais de 200 pessoas que estavam na sede do comitê, na Avenida Rio Branco, sem respeitar o distanciamento social, agradeceu pelos votos e fez uma breve retomada da trajetória, desde a decisão de concorrer até o resultado desse segundo turno, no qual teve mais de 40 mil votos de vantagem em relação ao seu oponente das urnas, Pepe Vargas (PT).
O atual prefeito de Caxias, Flavio Cassina (PTB), também esteve na comemoração e declarou estar emocionado com a vitória de Adiló. Paula Ioris foi a primeira a falar e também resgatou os 20 meses de preparação que os levaram até a vitória nas urnas neste domingo.
— Estivemos juntos nos preparando para uma possível eleição porque, para nós, política tem que se fazer de forma séria, com ética, com preparo. Pelo percentual do resultado, essa é uma vitória de Caxias, da serenidade, responsabilidade, trabalho e verdade. É isso que a cidade espera de nós. Continuamos fazendo a nossa forma de fazer política e daremos o melhor de nós – afirmou.
A chapa eleita concedeu entrevista coletiva à imprensa após os pronunciamentos, no interior do comitê. Inicialmente, o novo prefeito declarou que os primeiros passos no governo, a partir de 2021, serão relacionados à legislação municipal – que na opinião dele hoje atravanca o desenvolvimento econômico da cidade. Além disso, ele espera aplicar uma estratégia de combate à pandemia da covid-19, com medidas voltadas à conscientização, sem o fechamento do comércio e da indústria — algo que indicava durante o período de campanha.
SETE RAZÕES PARA A VITÓRIA DE ADILÓ DIDOMENICO
Antecipação de movimentos: Adiló Didomenico colocou-se como opção para disputar a prefeitura já no ano passado. Outros partidos, como o MDB, retardaram ao máximo a definição, com prejuízos eleitorais evidentes. Adiló não temeu a exposição prematura, que é um ônus desse tipo de movimento, e recolheu o bônus de colocar-se como referência para negociações, consolidando desde então o seu nome como alternativa pela visibilidade antecipada.
Lance arrojado: O candidato também foi perspicaz em sua movimentação política. Protagonizou o movimento mais arrojado da campanha trocando de partido, do PTB, onde encontrou dificuldades para viabilizar sua candidatura, para o PSDB. A movimentação, ainda por cima,garantiu-lhe o trunfo do principal e mais cobiçado cabo eleitoral desta eleição, o deputado estadual Neri, o Carteiro, do Solidariedade, que se engajou na campanha.
Coligação ampliada: Em decorrência do movimento político e eleitoral realizado, Adiló conseguiu montar uma coligação ampliada, envolvendo PSDB, Solidariedade, PROS, PSC e ainda manteve PTB ao seu lado, o partido do qual saiu.
Perfil do candidato: O estilo de Adiló ajuda. É sereno na fala, aparenta tranquilidade e simplicidade e tem perfil agregador, o que, em geral, tem boa aceitação junto ao eleitorado.
Vínculo comunitário: Adiló aproveitou bem sua passagem pelo comando da Codeca e da Secretaria de Obras e Serviços Públicos para estabelecer forte vínculo e capilaridade comunitária. É forte em todas as regiões da cidade, cultivando proximidade com as comunidades.
Conhecimento da cidade: As passagens pela Codeca e pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos dotaram Adiló de aprofundado conhecimento sobre a cidade, os bairros, seus problemas e o conhecimento técnico sobre a estrutura de ruas, redes e serviços.
Estratégia de campanha: Adiló e o comando de campanha assumiram uma posição de "centro-direita", apregoada pelo candidato, tratando de carimbar o oponente em segundo turno, Pepe Vargas, como uma candidatura de esquerda ligada a partidos como PTB e PCdoB.