Por 22 anos, Marisol Santos (PSDB) teve contato direto com o público, atuando como repórter e apresentadora de telejornal. A interação social, no entanto, vem bem de antes, segundo a própria relata: desde criança, quando participava de CTG, buscou se envolver no departamento cultural, e, mais tarde, atuou também como professora dos anos iniciais em escolas públicas e privadas. Portanto, o contato com as pessoas não será uma novidade na vida da jornalista.
— Sempre tive ao longo da vida o contato com as pessoas, é algo que faz parte de mim — pontua.
Foi no jornalismo, entretanto, que Marisol mais ganhou projeção e reconhecimento, justamente pela exposição midiática. Ela, no entanto, acredita que nem por isso o reconhecimento facilitou para que elegesse com 4.443 votos _ a segunda mulher mais votada em Caxias, atrás apenas de Denise Pessôa (PT). Entre as cinco mulheres da próxima legislatura, ela e Estela Balardin (PT) são as únicas estreantes na atividade parlamentar.
— Sou muito pé no chão, sempre fui, é uma característica bem minha. Sempre acreditei na possibilidade da eleição, mas como sou estreante, ouvíamos muito "eu não sabia que tu era candidata". Ouvimos isso no sábado (antes da eleição), e isso era uma coisa que me deixava apreensiva. Essa relação imediata que as pessoas fazem, "ah, é muito fácil porque estava na mídia". Eu discordo, acho que as pessoas precisavam saber que eu me colocava à disposição e isso não estava claro para todo mundo — relata.
A própria campanha, afirma, precisou ser remodelada em tempos de pandemia, o que diminuiu o alcance ao eleitorado em razão das proibições de aglomeração.
— Algumas pessoas falam que o fato de estar na mídia é muito mais fácil. Eu acho que na verdade tem uma outra relação, porque algumas vezes as pessoas estão na mídia e a gente não tem essa proximidade. Então acho que o resultado da eleição é mais do que estar na mídia, é estar na mídia fazendo trabalho próximo das pessoas e que elas sentiam que era feito com muito carinho e muito amor — ressalta.
A experiência na comunicação, entretanto, admite ter influenciado para que ela arriscasse a vida política:
— A minha experiência no jornalismo, na tevê e no rádio me fez conhecer muitas histórias, muitas realidades. Diante das injustiças e dos problemas, sempre buscávamos as soluções. Isso, sem dúvida, influenciou muito a minha vontade de tentar fazer ainda mais pela comunidade.
De sua trajetória precedente à carreira jornalística, contudo, é de onde Marisol inspira suas propostas quando ocupar efetivamente uma cadeira do Legislativo. Pela experiência com tradicionalismo, ela afirma reconhecer a importância da valorização da cultura e dos artistas locais. E pelos anos em que atuou como professora, identifica os gargalos da rotina educacional, o que torna a prioridade de sua gestão.
Sem imparcialidade
A imparcialidade é um requisito essencial para o exercício da atividade jornalística. O mesmo não vale para a política, onde parlamentares precisam se posicionar em votações de projetos e debates, algumas vezes, ideológicos. Marisol garante que não vai "ficar em cima do muro", porém, assegura que sua postura não será agressiva com pontos de vistas divergentes.
— Óbvio que tenho entendimento que agora precisamos tomar posições, mas serei a Marisol de sempre, que busca ouvir, dialogar e que de forma alguma vai querer a polêmica pela polêmica, ou a crítica sem fundamento. A Marisol é uma pessoa do diálogo e da construção coletiva. As pessoas às vezes confundem uma opinião firme com diminuir o próximo. Eu terei posição firme, mas com minhas convicções, e não buscando desqualificar o outro — declara.
E na posição de estreante, ela se reconhece como em processo de aprendizagem:
— Eu brinco dizendo para as pessoas que adoro salto alto. No meu trabalho, sempre usei, sempre gostei, mas é só ali. Na minha vida, eu entrei com toda a humildade possível de alguém que tem muito a aprender, de que sabe que está estreando mesmo.
Motivações do dia a dia
Marisol conta que, quando deixou a televisão, em janeiro de 2019, não cogitava concorrer à Câmara.
— Quando eu saí da tevê, fui trabalhar com o deputado Neri, o Carteiro, na Assembleia. As pessoas, de uma certa forma, já fizeram uma relação como se eu tivesse ido para a política, quando na verdade minha situação era um novo desafio, mas como jornalista, fui trabalhar como assessora de imprensa do deputado.
Estando na Assembleia, no entanto, ela assume que o contato com a atividade política e o respaldo do deputado Neri eventualmente a convenceram a aceitar o desafio. O incentivo do colega de partido (e ex-chefe) o torna uma das motivações. Contudo, ela destaca que vem da família sua maior inspiração e que, de prontidão, eles estimularam a aposta de Marisol.
— A minha maior referência são os meus pais, na vida. Sou muito família. Chamou muito atenção das pessoas que, nessa campanha, as visitas às famílias foram feitas por mim, meu pai Isolino e minha mãe, dona Margarida. Aí depois juntou tia, irmã, prima, sobrinhas, mas nosso núcleo mesmo foi eu, meu pai e minha mãe. E meus pais têm mais de 70 anos. As pessoas achavam bonito, minha mãe lá, durona, bandeira no ombro, e era quem me ligava toda manhã e pedia onde íamos.
No entanto, foi no domingo de votação que ela vivenciou uma experiência definidora com o eleitorado.
— No domingo, eu saí para votar, fui votar no La Salle. Quando entrei, tinha um senhor com dificuldades de entrar na sessão. Aí meu marido comentou que aquele senhor estava na frente dele na fila para votar e que tem 91 anos e me disse que continuará exercendo esse direito por quanto tempo puder. Logo depois esse senhor passou pelo nosso carro e me perguntou: "Tu é a Marisol?" Eu disse que sim. Aí ele então tirou um santinho do bolso e disse: "Olha em quem eu votei." Eu chorei que nem uma criança. Nisso a gente pensa o que é mesmo essa responsabilidade. Essas pessoas, cujos votos são facultativos, saíram de suas casas e te deram aquela procuração para que tu trabalhe com elas e para elas. Foi um dos momentos mais emocionantes — relata.
QUEM É
Perfil: 43 anos, jornalista, ex-professora dos anos iniciais. É formada em Jornalismo e Relações Públicas pela UCS.
Trajetória: sem passado político, foi professora dos anos iniciais em escolas públicas e particulares, dançou no CTG (foi primeira prenda mirim do Rio Grande do Sul), participou de Departamento Cultural, formou-se em Jornalismo e Relações Públicas. Foi apresentadora de tevê até janeiro de 2019.
Referência: deputado Neri Andrade Pereira Júnior.
Pessoal: casada, mora no bairro Cinquentenário, mas se criou no São Pelegrino. É natural de São Leopoldo, mas se mudou para Caxias antes de completar um ano de idade. Gosta de convivência e contato com as pessoas se define como alguém "humilde e dedicada".
AS PROPOSTAS
Marisol Santos destaca o que pretende priorizar em seu mandato:
EDUCAÇÃO
"Tenho o entendimento de que é preciso analisar a realidade e reestruturar a educação para o ano letivo 2021, manter o que deu certo, rever o que não funcionou e criar uma estratégia para o próximo ano. Por ter sido professora, sei o quanto é importante a valorização dos professores, a reforma e estruturação das escolas para o cenário digital e ajudar a criar políticas públicas que garantam o acesso igualitário e justo às escolas."
TRABALHO, EMPREGO E RENDA
"A gente sabe que precisa lutar por uma cidade mais inovadora, mais tecnológica, com mais oportunidade de emprego. Acho que isso passa por fortalecer a relação entre poder público, indústria, comércio e serviços e ensino."
CULTURA
"Políticas públicas são fundamentais para que fortaleçamos a cultura e o artista local, e a gente precisa trabalhar muito a consciência e valorização da cultura local e regional."
SAÚDE
"Fortalecimento do SUS, firmar parcerias para diminuir filas de espera por exames de alta complexidade, de cirurgias eletivas. Isso facilita diagnóstico, torna tratamento mais ágil. E ampliação de horários de atendimento em UBSs, construção de novas UBSs em bairros sem estrutura."
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