Candidato do Podemos, Antonio Feldmann, o Toninho, foi o décimo a ser ouvido pela Rádio Gaúcha Serra dentro da série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o ex-vice-prefeito respondeu perguntas sobre pandemia, saúde e cultura. Também falou sobre projetos para a causa animal e sua relação com o ex-prefeito e ex-governador José Ivo Sartori (MDB).
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade, na Gaúcha Serra, na manhã desta sexta-feira (6), programa conduzido pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Como o senhor pretende gerir a questão da saúde, mais precisamente em relação à pandemia?
Saúde no nosso programa de governo é prioridade das prioridades. A gente sabe que precisa cuidar bem das pessoas e fazer saúde pública, o nosso SUS, de forma humanizada. Nós temos dentro do nosso plano de governo a proposta de instalação de um programa de humanização em saúde, o Humaniza SUS, que é um programa que já existe no âmbito do Ministério da Saúde, com verbas, inclusive, que é fazer uma gestão democrática, tripartite, uma gestão envolvendo gestor, trabalhadores de saúde e os usuários para juntos estabelecer metas e resultados. A gente sabe agora, com a pandemia, muita gente deixando seus planos particulares de saúde por falta de condições de pagamento e migrando para o sistema de saúde público. Então, vamos envidar todos os esforços no sentido de aprimorar, reforçar e humanizar o atendimento na saúde em Caxias.
E como pretende gerir a pandemia?
Nós temos dentro do plano de governo, o item número 1, a implantação do Orçamento Cooperativo Solidário. Caxias já teve experiência como as Cartas Reivindicatórias do prefeito Victório Trez, Orçamento Participativo do governo do PT e o Orçamento Comunitário dos governos Sartori e Alceu. Agora, pensando no futuro, pensando como um plano estratégico e emergencial de atenção, mas também de enfrentamento das consequências da pandemia. Primeiro, o município sozinho não tem condições de atender a todos e resolver todos os problemas. Vamos buscar todas as entidades, organizações, grupos de pessoas, toda a rede de proteção social que temos em Caxias e estabelecer juntos prioridades, programas e projetos conjuntos para que a gente possa verificar quem mais se prejudicou com a pandemia e ir ao encontro dessas pessoas para ter soluções para que possam retomar a sua vida normal e com proteção, acima de tudo, da sua saúde e da família.
Qual será a grande marca do seu governo?
Acredito que seja isso, como falei, um programa de humanização em saúde. Dotar e fazer um sistema em que a gente reúna o gestor, o trabalhador, que seja respeitado, valorizado, eles precisam também ter um olhar de proteção e valorização, e os usuários. E juntos estabelecer metas. Um prefeito tem que sair do seu gabinete. Eu, como prefeito, Toninho Feldmann vai sair, vai lá na unidade básica de saúde, vai lá na UPA ouvir as pessoas. Eu faço isso, fiz isso muitas vezes quando era vice-prefeito, sem avisar. Ia lá, sentava numa cadeira de uma UPA ou de uma UBS ouvir o que as pessoas precisavam. Isso não é nem inventar a roda nem prometer coisas que não posso cumprir. Isso faz toda a diferença, sim. Não é só pegar e dizer que vou colocar dinheiro, recursos, isso aí todo mundo faz. Agora, um prefeito dizer "o prefeito de Caxias do Sul vai se envolver, vai estar diretamente no dia a dia, ouvindo as pessoas", vendo o que precisa a partir do nosso trabalho com a equipe de saúde, fazer aquilo que as pessoas estão pedindo na hora do atendimento.
O senhor queria concorrer a prefeito em 2016, mas foi a vice novamente. Saiu do MDB após 20 anos e foi para o PSD e depois para o Podemos, onde hoje concorre. Essas mudanças foram para poder concorrer a prefeito?
Não foram em função de um projeto pessoal, não, nem por motivação pessoal, por ambição. Não é o que me move. Sabe por quê? Porque lá em 2016 eu tinha entendimento, e muitas outras pessoas, de que o prefeito, não indo à reeleição, era normal que o vice seria o candidato. Não é eu que estou dizendo isso. Nós tínhamos pesquisa na época, o MDB contratou uma pesquisa com valor altíssimo para dizer dentro do MDB que o prefeito não indo, o MDB tinha o melhor candidato, porque o eleitor entendia que é natural o prefeito não indo, quem representava o projeto, quem deveria ir era o vice. Tiveram outro entendimento, democracia é isso, maioria vence, minoria se submete. Me submeti embora eu não tenha, na época, aceitado, mas faz parte, depois concorri a vice-prefeito e, na campanha de 2016, sem demérito a ninguém, eu nos bairros, nas vilas, nas fábricas, se pegarem a agenda de campanha, que estava lá às cinco e meia na porta de fábrica, nos bairros, nas vilas, nos colégios, no interior, onde ninguém entrava, estava o Toninho. O que eu estava ouvindo? "Pô, Toninho, tu fez campanha sempre para os outros." Faz 10 eleições que eu faço campanha, sempre para os outros. As pessoas diziam, "pô, só fica no banco de reserva, um dia tem que ser tu o candidato." Isso me motivou e, para que eu pudesse ser, tive que sair do MDB, porque vi que lá não tinha chances. Eu já tinha sido derrotado uma vez. Em 2018, via que tinha outros candidatos a deputado também, e eu tive que buscar o meu caminho e outro lugar que pudesse me valorizar e me dar espaço para eu colocar o meu nome e poder me colocar como candidato.
O senhor fala de um sistema municipal de proteção animal e seriam feitas parcerias com entidades que trabalham com essa causa. Como se daria na prática?
Temos seis eixos no nosso programa de governo. Um deles é uma Caxias mais humana, e uma Caxias mais humana é uma cidade que cuida bem dos seus bichinhos, dos seus animais. Nós vamos criar esse sistema municipal de proteção animal para que a gente reúna entidades, organizações e pessoas que fazem esse trabalho, e tem muita gente que faz esse trabalho, muitos de forma voluntária com o seu dinheiro, gastando, para que a gente possa desenvolver um plano municipal, ações de curto, médio e longo prazo para que Caxias seja uma referência nacional. Nós temos já algumas ações práticas para dar início. Esses dias estava andando na Moreira César e vi uma pizzaria com um cartaz: "Não abandone o seu animalzinho. Se você não tem dinheiro para comprar ração, pegue aqui." Olha só que gesto bonito. Nós temos que valorizar essas ações de voluntariado da sociedade. E aí temos o Banco de Alimentos, que as pessoas vão nas portas dos supermercados pegar alimentos para as pessoas. Nós vamos fazer algo parecido. Vamos pegar voluntários que vão no comércio de produtos animais para que as pessoas doem quilo de ração e tenha esse banco de rações. E o Castramóvel. Esses dias vi, e não tenho vergonha de dizer que a gente tem que olhar onde estão acontecendo iniciativas positivas e temos que copiar. Em Marau, vi que o prefeito buscou uma emenda parlamentar e colocou o Castramóvel. Muita gente da causa animal me disse na campanha: "Toninho, tá um caos nos bairros, vamos trabalhar a castração urgente senão vamos perder, já estamos perdendo o controle da situação." Então, o Castramóvel seria um veículo que vai nos bairros fazer a castração dos animais.
No seu plano de governo, o senhor coloca a ampliação da escola de tempo integral. Quando foi vice, uma das propostas era escola de tempo integral, mas não saiu do papel. Agora sai?
Eu até participei no bairro Pioneiro, na Escola Mansueto (a Escola Mansueto Serafini fica no Pôr do Sol; no Pioneiro, é a Escola Fioravante Webber), do início do projeto. Lembro de ter ido na inauguração quando eu ainda era assessor do deputado José Ivo Sartori, na Escola Dolaimes Stedile Angeli de tempo integral. É, sim, uma ação. Muitas vezes a gente tem a boa intenção, está no plano de governo, não consegue realizar, mas está como um item bem claro: ampliação do projeto de escola de tempo integral. No turno inverso da escola, as crianças podem ter ações, e aí entra a questão da transversalidade, por exemplo, da área da cultura. Fui secretário da Cultura e sei, é uma questão que se debate muito. Ações culturais que podem ser feitas numa integração com a educação para, no horário inverso da escola e nos finais de semana, ter ações dentro do ambiente escolar para que a criança possa ficar de manhã e à tarde tendo não apenas ações de transversalidade como da cultura, mas também aulas do currículo escolar. Algumas podem ser de manhã e outras à tarde. Vamos fazer todo o esforço, quando escolher o secretário da Educação, vamos dizer que está no plano de governo, e eu, como prefeito, vou imprimir o nosso plano de governo e que cada secretário tenha ele embaixo do braço, em cima da sua mesa, aos seus olhos durante os quatro anos para procurar colocar em prática aquilo que está no papel.
O senhor fala em implantar o Orçamento Cooperativo Solidário. Como seria a implantação e o funcionamento, e tem algum projeto específico que o senhor pretende construir dessa forma?
Com certeza, temos em todas as áreas. Vou dar um exemplo. Na educação. Eu tenho no bairro uma escola que está com as instalações físicas degradadas, faltando uma pintura. Nós vamos fazer um mutirão. Pegar a associação de moradores, o CPM, as entidades do bairro, as empresas e dizer o seguinte: a prefeitura está disponibilizando a tinta, tem o pintor aí do bairro, tem o profissional que possa ajudar na recuperação da escola? Se precisar, mandar lei para a Câmara para instituir. Nós temos nos bairros artistas que podem fazer no muro da escola um grafite. Pode ter na comunidade um artista plástico que possa fazer uma obra de arte ou dentro do próprio colégio para colocar na entrada da escola, um ambiente escolar saudável. Na área da saúde, sentar com o Sindicato dos Médicos, com as instituições hospitalares e colocar que o município tem a fila de espera, vamos juntos. O município pode chegar a um ponto de recursos, qual a contribuição que a instituição e o sindicato podem dar. Nós não temos como resolver tudo sozinhos, tem que ter a humildade e reconhecer que a prefeitura sozinha não vai resolver todos os problemas de uma cidade e ela precisa fazer uma administração cooperativa, que busque o esforço e a capacidade de solidariedade e voluntariado que temos na cidade.
Em relação ao financiamento de projetos de cultura, como será sua proposta?
A gente, acima de tudo, que reforçar os financiamentos que existem hoje, como o Financiarte e a Lei de Incentivo à Cultura Municipal, mas eu pretendo, dentro da Secretaria de Cultura, fortalecer e criar um departamento de economia criativa. Ele vai ao encontro do que já existe em nível federal, para buscar e articular financiamentos fora do âmbito do município em organizações, entidades, até em instituições internacionais, nas próprias empresas estatais para que a gente possa resgatar aquele ambiente de Caxias capital brasileira da cultura. Uma cidade que não investe e fortalece a sua cultura não se desenvolve plenamente. E cultura que estou falando não é entretenimento, fazer um show apenas. A cultura é aquilo que resgata a nossa identidade, orgulho e autoestima. Eu vejo hoje uma cidade que, em função de não ter trabalhado nesses últimos anos a valorização da cultura, se tornou uma cidade meio que triste e que potencializa mais as coisas ruins e o que é de fora e não potencializa e fala bem daquilo que temos aqui dentro da cidade. Então, é fazer com que seja uma área essencial, primordial, prioritária, e que converse com a transversalidade em outros setores como saúde e segurança e educação.
Em 2014, o senhor não assumiu como prefeito nas férias do então titular Alceu Barbosa Velho para não ficar inelegível, pois queria concorrer a deputado federal. Como o senhor avalia? Tomaria a mesma atitude hoje?
Agradeço a pergunta porque me dá a oportunidade de dizer que fui o único político no Brasil, no período democrático, que teve os direitos políticos cassados por uma ação do Partido dos Trabalhadores, do PT, na sua Câmara de Vereadores, sua bancada. O único político no Brasil que teve os seus direitos políticos cassados, porque a lei é clara. O vice-prefeito, o vice-governador e o vice-presidente têm direito a concorrer durante o seu mandato. Essa é a regra, está em vigor, desde que não assuma nos seis meses anteriores à eleição. Fizeram todo um circo, toda uma articulação para me tirar da disputa por vários interesses, e depois não apenas fui absolvido por unanimidade. O Ministério Público nem recorreu. E o pior, naquele mesmo ano foi o PT, na Câmara de Vereadores, pediu a minha cassação dos meus direitos políticos com ação na Justiça e depois daquele ano, o Tarso Genro era o governador e ele saiu para concorrer e o seu vice não assumiu porque era candidato também, e assumiu o presidente do Tribunal de Justiça. Eu fui não só injustiçado, eu vou repetir, eu fui o único político na democracia, no Brasil, que teve os direitos políticos cassados. Estão usando agora para me atingir, mas faço questão de dizer isso, porque sequer uma multa eu paguei, fui absolvido.
Faltou consideração de Sartori ao seu nome como amigo quando estava no MDB?
Não, de jeito nenhum. Sartori é uma pessoa que devo tudo a ele, me deu oportunidades grandes em toda a carreira política. Antes de entrar na entrevista, ouvi uma propaganda dele dizendo que o Búrigo era o cara certo na hora certa. Eu também fui o cara certo na hora certa em muitas ocasiões do Sartori. Mas ele do MDB tem que apoiar o candidato dele. Eu sou do Podemos agora, tenho apoio de lideranças do Podemos e uso os meus líderes nacionais. O senador Álvaro Dias ontem me dizendo que estava vendo o que estava acontecendo em Caxias e gravou um vídeo e disse: "Parabéns, porque tu não esconde os teus partidários, tu não esconde o teu partido e quem está junto contigo. Outros aí escondem tudo, nome do partido, cores e seus líderes nacionais." Tenho maior respeito, carinho pelo Sartori, tivemos juntos uma bela caminhada. Agora estamos separados, faz parte da vida, e eu não faço política desqualificando ninguém nunca, jamais.
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