Após a sessão que definiu a cassação de seu mandato de prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves falou com a imprensa. Confira trechos da coletiva:
O senhor disse que foi feliz na função, mas admitiu erros. Quais foram os principais erros que podem ter resultado no seu impeachment?
Posso falar como Claiton Gonçalves médico, eu não sou mais prefeito. Cargos passados não revelam situações passadas. O que aconteceu foi exposto aqui. Provavelmente terei os direitos políticos cassados, então não me manifesto mais sobre política. A partir de agora sou médico, encontrarei muito de vocês na sala de parto.
Que lição tira disso tudo?
A grande lição na verdade é que política é para político. Médico faz medicina. Se eu encontro uma pessoa caída na esquina, eu vou tentar resolver, se o político encontra ele vai criar uma teoria e o advogado vai querer saber quem é o culpado.
E qual é o seu sentimento?
De alívio. O governo vinha sofrendo inferências do Ministério Público, do Observatório Social, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da sociedade civil organizada, da imprensa. Vinha sofrendo uma série de assédios todos os dias e não é suportável um ser humano passar por esse assédio todos os dias. Tá saindo um peso, era muita pressão.
O atual prefeito, o Pedrozo (Pedro Pedrozo, vice eleito de Claiton), vai poder contar com a ajuda do Claiton?
Não, eu me retiro e vou para a medicina.
Acreditou que pudesse reverter a situação?
Não, achei que fosse ser impeachmado. É uma coisa que já vem pronta.
Se arrepende de algo?
Me arrependo de não ter trabalhado mais de madrugada. Fizemos uma cidade nova e poderíamos ter ido mais longe se tivéssemos conseguido trabalhar. Avançamos muito. Vai ficar marca de asfalto, de posto, de R$ 100 milhões em hospital...
O senhor disse que estava em votação o futuro de muitos vereadores da cidade. O que quis dzer com isso?
De todos, tem eleição logo ali adiante.
Como o senhor vê a reação da população?
A Câmara de Vereadores pode estar divorciada da população. Acho que quando rejeitou uma oitiva popular de cinco mil pessoas, não quis ouvir o que cinco mil pessoas falaram que está na mão do presidente da república, do governador, na mão do presidente do Tribunal de Contas, do presidente da Assembleia Legislativa, ela disse que não quer saber de governança, que quer saber de política. Então, tô fora.
Foi golpe?
Não, essa coisa de golpe não existe, foi legítimo. Foi uma estratégia legítima, bem articulada.
Sente que foi vencido por força política?
Fui vencido por mim mesmo, na verdade não fiz política. Poderia ter feito diferente, mas eu fiz gestão.
Se arrepende disso?
Não, não faria política, não sei fazer política.
O ex-prefeito (de Farroupilha) Paulo Dalsóchio (PDT) disse que o PDT fica com uma mancha a partir de agora. PDT fica com uma mancha na visão do senhor?
É, fica com uma mancha que começou lá no governo dele. E essa mancha continuou comigo, mas é uma marca do PDT, manchas.
O que isso quer dizer sobre sua relação com o partido?
Minha relação com o partido não é afetuosa, mas o futuro a Deus pertence e agora com os direitos políticos cassados isso pouco importa.
Depois de terminada essa suspensão dos direitos políticos, o senhor pretende voltar a concorrer?
Serei muito velho, estarei pescando na praia.
Qual o legado nesses sete anos e meio?
Isso tem de ser questionado na comunidade. Que prefeito foi esse? O que fez? A comunidade deve ter a sua resposta. A gente vai ver o que elas pensam disso, o que elas pensam dos vereadores, de tudo isso...
O senhor já sabe o que vai fazer sem a rotina de prefeito. Pretende descansar?
Vou procurar trabalho agora. Eu tenho que trabalhar, só tenho dinheiro do trabalho, não tenho de especulação, não tenho caixa dois. Vou ter de trabalhar.
Votação foi justa?
Sempre são. Eu venci duas vezes com duas votações justas. A votação é justa para quem vota. Cada um faz suas escolhas, mas é justo pela consciência de cada vereador.
Acha que faltou diálogo da sua gestão com a Câmara?
Pode ter faltado. É uma reclamação dos vereadores.
Além da falta de diálogo, houve alguma outra falha?
O governo foi muito técnico, foi diferente, foi um governo de gestão. Foi como se fosse uma empresa, e as pessoas gostam disso, as pessoas não gostam de politicagem. Acho que foi aquilo que os eleitores que me conduziram esperavam. Agora quanto a diálogo, os vereadores, enfim, há desculpa para tudo nesta vida.
Como avalia o fato de ex-secretários seus terem votado a favor do impeachment?
Teríamos que fazer uma digressão, o que nos resta é especular. Por que eu voto contra o meu pai? Enfim, é uma questão de pertencimento, de desvalia pessoal. É uma questão psiquiátrica, aí não é comigo, eu sou ginecologista.
O resultado desta votação terá reflexo na eleição de 2020?
Poderá não, terá. Eu vou afirmar aqui que nenhum dos candidatos que postulam será o prefeito.
E na eleição dos vereadores, acha que haverá impacto?
Será gigante. Haverá uma grande mudança na Câmara, é o que vai dizer a urna.