O momento de despedida ao padre Roque Grazziotin, que faleceu aos 73 anos no último domingo (22), ocorre na sala A das Capelas São José nesta segunda-feira (23), em Caxias do Sul. A cerimônia é marcada pela comoção entre os amigos e familiares que puderam compartilhar vivências ao lado de sua trajetória na Igreja e nos movimentos políticos e sociais que o sacerdote protagonizou ao longo da vida.
Leia mais
"Foi um sacerdote preocupado com os mais pobres, afirma bispo sobre trajetória de padre Roque Grazziotin, em Caxias
Veja a repercussão da morte de padre Roque Grazziotin nas redes sociais
Morre em Caxias do Sul padre Roque Grazziotin
Após 70 dias de internação, padre Roque Grazziotin recebe alta em Caxias
Padre Roque Grazziotin segue internado no Hospital Pompéia, em Caxias
Padre Roque Grazziotin sofre AVC e é internado no Hospital Pompéia, em Caxias
O pároco da Igreja do bairro Pio X, Izidoro Bigolin, conta que conheceu o padre em meados de 1974, antes mesmo dele ingressar na vida sacerdotal, na cidade de Viamão. Na época, Grazziotin realizava trabalho social com os detentos do presídio Central, em Porto Alegre. Ele descreve Grazziotin como uma ser humano humilde e de atuação incansável nas questões sociais.
— Nós éramos amigos na luta e no trabalho e sempre andávamos juntos nessas atividades. Aqui em Caxias, na década de 1980, tínhamos um trabalho na Pastoral Popular Urbana, dentro das periferias de Caxias. Ele inspirava um compromisso pela vida, pelo trabalho, pelo trabalhador, pelas comunidades e ele também teve seus sonhos com a política. Foi um momento importante da vida dele e ele podia fazer, sim, parte desse grande projeto de vida e de esperança — afirma Bigolin.
A ativista política do movimento negro Jussara de Quadros aponta o amparo que o religioso fornecia em momentos de dificuldade como uma das características pelas quais será lembrado. Jussara relata que Grazziotin a ajudou em uma das situações em que passou maior sofrimento em sua vida: quando ficou em coma durante 42 dias em função de uma meningite, em 2007.
— Ele foi uma pessoa que sempre esteve ao lado dos mais necessitados e do meu lado foi uma vida inteira, há mais de 30 anos. Por ele tenho uma gratidão muito especial, ele foi incansável, ficou todos os dias ao lado do meu leito e quando eu saí do coma a primeira pessoa que falou comigo foi o padre Roque. Ele é muito especial, não só pra mim, mas para todas as pessoas que acreditam em um mundo diferente, um mundo melhor — conta, emocionada.
A recém-eleita presidente municipal do PT, Joceli Veadrigo, colocou carinhosamente bandeiras do Partido dos Trabalhadores e da Marcha Mundial das Mulheres ao lado do caixão. Ela relata que conheceu Grazziotin na década de 1980, desde quando ambos militavam em Antônio Prado, na Pastoral da Juventude e em outros movimentos sociais.
— Além da vida religiosa, ele foi concretamente um sacerdote que praticou o Evangelho de Jesus Cristo. Nisso o padre Roque esteve sempre muito atuante e também na militância partidária, pois foi fundador do PT e segundo candidato a prefeito de Caxias pelo partido, em 1988. Ele nos deixa um legado e um desafio de que não podemos parar e ousar não ter medo diante das injustiças — afirma.
O velório segue até às 15h30min, quando o corpo será conduzido à Igreja do bairro Santa Catarina, para realização de missa de corpo presente. Após, ocorre cerimônia de cremação.
Lideranças partidárias lembram do legado deixado pelo padre
"O Roque representa uma geração de padres, que além do compromisso com a fé cristã, também tinham um compromisso social. Teve um trabalho espiritual, religioso, mas também pela transformação social, para que as pessoas mais desfavorecidas também tivessem uma oportunidade. Ele deixou uma boa semente, porque têm muitas pessoas na cidade, no Estado e no país que continuam levando esses ideais muito em função da pregação dele." - Pepe Vargas, deputado estadual pelo PT
"Uma das pessoas que me despertou para a política foi o padre Roque. Agora ele nos deixa a responsabilidade de seguir o caminho dele. Ele soube fazer da sua trajetória um cultivo e nós que aprendemos com ele temos a missão de sermos semente de tudo o que ele acreditou. Ele conseguiu viver a fé a partir das ações e do exemplo. Isso é o grande aprendizado que ele deixa, a preocupação com o ser humano, o importar-se com as pessoas." - Denise Pessôa, vereadora pelo PT em Caxias do Sul
"O conheci há cerca de 40 anos, ele ficava profundamente indignado porque sofria junto com aqueles que são vítimas de injustiça. Isso tornou ele um revolucionário. Ele lutava pela democracia. Um ser humano amoroso, companheiro, daqueles que sentiam dor pelo sofrimento do outro.” - Marisa Formolo, ex-deputada estadual pelo PT
Leia também
Início da primavera aumenta a procura por mudas de flores e hortaliças na Serra
Três jovens ficam feridos em acidente com motocicletas na Linha 30 em Caxias