Em março deste ano, o vereador Adiló Didomenico (PTB) colocou como capa da sua página no Facebook uma foto com o slogan "Um cara Caxias". Com tom indiscutível de bordão de campanha, o petebista também nunca negou quando provocado por colegas parlamentares que se referiam a ele como pré-candidato a prefeito.
Ao Pioneiro, entretanto, Adiló não se confirmou como candidato, pois afirma que tudo dependerá de articulação entre partidos de uma eventual coligação. Ainda assim, o provável concorrente ao Executivo falou sobre as possibilidades de chapa majoritária e fez críticas ao Governo Daniel Guerra (PRB). Confira os principais trechos da entrevista:
Pioneiro: Há muitos indicativos da candidatura do senhor, já podemos oficializar Adiló como candidato a prefeito?
Adiló Didomenico: O partido vem há tempos se movimentando. Participamos de vários pleitos como apoiadores. Agora o partido entende que chegou momento de buscar parceiros. Estamos trabalhando para criar um programa para Caxias para os próximos 20 anos. Temos participado de reuniões e (estamos) colhendo opiniões das forças vivas de Caxias, para que possamos tirar Caxias desta inércia. Não vemos uma ação para destravar a economia, seja no turismo, nos negócios, ou facilitando vinda de empresas e investimentos. O PTB está trabalhando e buscando aliados e parceiros que tenham vontade de estabelecer um programa que busque alavancar essa cidade.
O senhor diz que não há nomes cogitados, mas, além do senhor, há algum outro nome que se disponha?
Ninguém ainda manifestou, vai chegar o momento, sim, que vamos tratar de nomes. Eu me coloquei à disposição do partido. Dentro do PTB, somos três vereadores, e os próprios colegas apontaram para o meu nome. Mas ninguém pode ser candidato de si mesmo, vai chegar o momento que quem vai decidir são os partidos que vierem juntos.
Na última eleição, o partido também manifestava essa intenção em concorrer com nome próprio a prefeito, o que não aconteceu. Ainda é possível voltar atrás desta vez? Repetir, por exemplo, coligação com PDT e MDB?
Em política nunca se pode dizer "dessa água eu não bebo", mas o PTB vem trabalhando junto com outros partidos que têm o mesmo propósito, de ser protagonista de um programa arrojado por Caxias. Nunca sabemos o dia de amanhã, mas a proposta é criar uma nova força política em Caxias do Sul, composta por outros partidos. Porque se olharmos para trás, faz muito tempo que temos dois ou três eixos, que são PT, MDB e PDT. Quem sabe chegou a hora de partidos menores criarem esse protagonismo.
Então desta vez é mais provável que PTB deixe de se aliar a PDT e MDB?
Não desprezamos esses partidos. PTB sempre foi muito bem tratado e respeitado, tanto por Sartori quanto Alceu, mas o partido, a exemplo de outras siglas menores, tenta buscar o espaço ao sol. Isso para o primeiro turno, segundo turno é o resultado preliminar que vai ditar as regras.
Com que partidos que o PTB está criando mais proximidade?
Partidos que têm se reunido com mais frequência e temos buscado sugestões são o PSC, o PSD e o PSDB.
Que nomes consideram dessa articulação?
Casualmente, na sexta-feira, fiz visita ao deputado Neri (o Carteiro, do Solidariedade), que sempre foi nosso parceiro e amigo na Câmara. Ele também tem uma preocupação muito parecida com a nossa, pela inércia que está a nossa cidade diante da falta de ações e lideranças políticas para puxar uma frente. E dentro deste grupo tem surgido nomes interessantes, do vereador Kiko Girardi (PSD), da vereadora Paula Ioris (PSDB)...
No caso do Neri sendo um possível candidato, o senhor aceitaria ser vice?
Temos pontos convergentes muito interessantes, ideias bem similares. Quando ele era vereador e eu secretário de Obras (do governo de Alceu) sempre tivemos relação muito franca, muito cordial. Na Câmara, sempre nos apoiamos. É um jovem, uma força política que vem surgindo. Mas ainda não se pensou em composição de chapa, não chegou a esse ponto. Outros dois vereadores que estão em outros partidos, mas temos buscado sempre as opiniões acerca de Caxias, são o (Gustavo) Toigo (PDT) e Edson da Rosa (MDB).
Muitos eleitores têm ressalvas com chapas formadas por recém vereadores... O senhor acredita que possa haver um movimento por renovação que prejudique isso?
O que é muito importante é ver o histórico, o passado do candidato. Se a maioria das pessoas que votaram no prefeito tivesse feito uma mínima análise do comportamento dele na Câmara de Vereadores, (a maioria) não teria votado nele. Eu acho que, na próxima eleição, o eleitor vai estar muito atento em fazer análise do histórico do político. Foi o que faltou na última eleição.
Que nota dá ao governo de Daniel Guerra?
É complicado. Se eu der nota, vai parecer demagogia. Eu deixaria para o eleitor caxiense fazer o seu julgamento. Tenho feito listas de polêmicas e dito que esse governo é uma fábrica de polêmicas. Precisamos de um prefeito que acalme e una a cidade. Caxias já foi mais acolhedora. Atribuo em parte à política que se instalou por parte do Executivo, muito conflituosa entre os segmentos. Esse clima belicoso, revanchista, toda hora tentando atingir alguém. Isso não é bom. Prefiro não dar nota, porque seria deselegante demais, pois a nota seria baixa.
Na opinião do senhor, que setor está mais desassistido e precisaria de maior atenção?
Se criou um conflito com médicos que trouxe uma situação muito ruim na saúde, precisamos também desburocratizar o setor de liberação para funcionamento de empresas, a infraestrutura também deixa a desejar bastante, mas a maior obra é voltar a apaziguar a cidade, unir a cidade, parar com esse clima belicoso, de jogar uma classe contra a outra e todo dia ficar procurando culpado. Está na hora de fazer um pacto por Caxias. Essa cidade tem pressa, urgência, está faltando emprego e investimento.
Sobre o substitutivo que o senhor apresentou ao projeto que incide sobre o nepotismo, não teme que sua imagem fique marcada por essas ressalvas que propõe?
Não, nós apresentamos uma alternativa buscando qualificar o setor público e não privilegiar ou proteger. A própria Constituição trata que a pessoa que está há mais de cinco anos na função pública não pode ser penalizada por alguém que chega, mas nós apresentamos como proposta para discutir. Desde que apresentaram (o projeto) para assinar, eu fui franco. Na semana passada mesmo, sugeri que pudesse haver um ponto de ajuste, mas não vou impor minha ideia. Se não for aceita, a gente nunca foi irredutível, volto atrás.
O senhor então votaria da forma que o projeto se encontra?
Se (a emenda) não for aceita, não tem outra alternativa, vou votar a favor do projeto, apesar de achar que pode ser melhorado. Mas, por princípio, sou contra o nepotismo, nunca indiquei um parente, jamais vou indicar. Independente de lei, temos de ter ética na política. Se não der para aperfeiçoar, paciência, vamos aprovar do jeito que está, que de certa forma se proíbe o nepotismo.
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