Atos políticos não deverão mais acontecer em celebrações da Igreja Católica. A orientação do bispo dom Alessandro Ruffinoni para que se evite dar espaço para discursos de políticos, sejam eles autoridades eleitas ou não, será repassada aos padres em uma reunião no próximo dia 3 de agosto. A recomendação chega após a polêmica em torno da ida do prefeito Daniel Guerra (PRB) à missa da Igreja Matriz de Fazenda Souza na quarta-feira da semana passada, dia 24.
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Guerra e a equipe de governo subiram ao altar, após a celebração, para anunciar e assinar a ordem de início de asfaltamento da Estrada Municipal Patrício Pasquali, que liga os distritos de Fazenda Souza e Vila Seca. Embora fosse uma notícia positiva para a a localidade, dom Alessandro entende que "o templo religioso e a hora da missa não seria o melhor ambiente" para ser comunicada. A orientação é no sentido de evitar o surgimento de qualquer mal-estar.
— Se é um anúncio que faz bem para a comunidade, não tem problema. O prefeito utilizou um espaço que tem muita gente, aproveitou para divulgar um projeto que é a serviço da comunidade. Agora, quem é de outro partido pode pensar que utilizou o espaço da Igreja para fazer propaganda — entende.
Conforme o bispo, o salão paroquial poderia ter sido utilizado para a assinatura da ordem de início. Ele lembra, aliás, que os salões são comumente cedidos para atividades políticas e partidárias. Mesmo sendo após a celebração religiosa, dom Alessandro acredita que o ato político não deveria ter sido feito na igreja:
— Foi no final, depois da missa, mas foi na igreja, no templo. Como na missa vai todo mundo, vai de todos os partidos, às vezes alguém se sente meio ofendido, porque, sabe, nem todo mundo é do mesmo partido.
Pároco da igreja de Fazenda Souza, Ivo Ballardin diz que é comum a presença de políticos em missas, especialmente em eventos festivos, caso da celebração da última quarta-feira, em alusão à abertura do 1º Partito de La Colonia, evento em preparação à 11ª Festa do Agricultor, que ocorre em 2020. Ele recorda que o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) participou nos últimos anos e também José Ivo Sartori (MDB), quando governador.
— Já me pediram (para falar) lá atrás e ninguém noticiou nada — diz, sem citar quais políticos subiram ao altar.
Boa notícia para a comunidade
A assinatura da ordem de início da obra foi uma boa notícia para a comunidade, que aguardava há tempos pelo asfaltamento, destaca o religioso. E acrescenta:
— Os políticos estão perdendo tempo de manhã na Câmara de Vereadores catando picuinhas em cima de um troço desses — reclama, se referindo às críticas feitas por parlamentares na sessão de quinta-feira (25).
Edio Elói Frizzo (PSB) e Paulo Périco (MDB) disseram que o prefeito se vale de figuras como a de frei Jaime Bettega, que também participou da celebração.
Diante da repercussão, padre Ivo diz que terá mais prudência a partir de agora.
— Porta da igreja aberta, quem entrou com segunda intenção, que se vire. Tem um juiz que está muito acima de nós todos.
Guerra já ocupou microfone da igreja
O anúncio do asfaltamento da Estrada Municipal Patrício Pasquali foi feito durante um Gabinete Itinerante em novembro do ano passado. Conforme o padre Ivo Ballardin, o comunicado foi feito no salão paroquial, mas logo depois da missa, ainda na Igreja Matriz, o prefeito Daniel Guerra conversou com a comunidade.
— Teve 40 minutos, liberamos o microfone. A população quis falar com o prefeito — conta.
A obra, que tem previsão de término até dezembro de 2020, tem investimento é de R$ 9.933.310. A empresa RGS Engenharia fará a execução da pavimentação asfáltica nos 7,6 quilômetros contemplados.