Em 14 de junho deste ano, Diogo Grazziotin Dutra (PP), 39 anos, assumiu a prefeitura de Bom Jesus após o ex-prefeito Frederico Becker (PP) ter o mandato cassado por compra de votos. O advogado e ex-procurador do município obteve maioria nas urnas (49,32%) em eleição suplementar realizada em junho de 2018.
A troca, no entanto, não deve gerar mudanças drásticas na administração municipal de Bom Jesus, uma vez que Dutra faz parte do mesmo grupo político do ex-prefeito Becker.
Ao Pioneiro, Dutra admitiu que a diretriz governamental deve priorizar a continuidade da gestão anterior. Confira a entrevista:
Quais expectativas do senhor no cargo?
Quando concorri a prefeito, a expectativa era de que o resultado judicial do ex-prefeito (Frederico Becker) fosse positivo. Como não foi, a gente programou um mandato. Como participei do governo e somos do mesmo grupo político, o objetivo é dar andamento ao que estava sendo feito, pois estou na prefeitura nesses seis anos do governo Frederico. Pensamos diversas políticas públicas voltadas à assistência social, à educação e à saúde. É isso que vamos continuar fazendo. Obviamente, tenho algumas prioridades diferentes das dele. Penso que a assistência social tem de ser mais valorizada, pois temos uma questão social bem complicada a respeito de moradia, habitação. Também queremos dar atenção à revitalização de alguns pontos, como a Praça Rio Branco, iluminação pública e continuação de projeto de calçamento e pavimentação.
O tempo mais curto dificulta a sua gestão?
Assumir uma prefeitura é sempre uma dificuldade, ainda mais com apenas um ano e seis meses para o fim do mandato. Mas a gente assumiu a responsabilidade e está preparado para o desafio.
A equipe de secretários permanece a mesma?
A maioria permanece, mas mudei algumas coisas. Saíram secretários da Educação, Meio Ambiente e Saúde, mas, no decorrer do trabalho, sou um pouco diferente do Frederico, e tenho outras prioridades. Então, vamos ver como o secretariado se comporta com essa mudança, mas tenho expectativa boa, são todas pessoas conhecidas, capazes, acho que a coisa vai continuar andando como tem de andar.
Por que os secretários mencionados saíram?
A secretária de Educação não quis permanecer. O secretário de Saúde estava na pasta do Meio Ambiente e agora volta para a Saúde e a pessoa que estava na Saúde vai assumir o hospital de Bom Jesus. É capacitada para isso e precisa pessoa muito técnica nesta função.
Quando o senhor deixou a Procuradoria?
Me afastei há três meses da Procuradoria. Só estava atuando como advogado.
Justamente para planejar a candidatura?
Não, não. A gente nem esperava que o julgamento (do ex-prefeito) fosse agora, foi uma surpresa. Mas foi, o resultado foi esse, e as urnas deram condição de continuar esse trabalho.
Como foi a articulação partidária para escolher o senhor?
Nunca tive essa pretensão política, mas todo mundo tem um pouco de político. Foi o partido que propôs, eu era meio reticente para concorrer, mas acabei aceitando. Fizemos composição com PSDB e PT. Muitas vezes essas questões partidárias não correspondem ao que a gente quer, mas o que a maioria decide. E o partido decidiu que eu era um bom nome.
E como é assumir neste cenário turbulento?
Não vejo assim. Já vi mais turbulento. Acho que tenho uma condição boa, o partido me apoia, partidos coligados estão conosco e tenho boa relação com a Câmara de Vereadores. Turbulento só no sentido da saída do prefeito, na minha opinião uma saída que não deveria ter acontecido agora, mas saiu e temos de respeitar decisões judiciais. A turbulência, se teve, ficou para trás. A coisa está calma.
O respaldo eleitoral demonstrou voto de confiança da população ao projeto que estava sendo desenvolvido?
Nós estamos com esse projeto desde 2012. Confirmamos em 2012, 2016 e 2018, então acredito que a população tem certeza que está sendo feita a coisa certa para o município. Obviamente, é um município pequeno, pobre, as coisas não são no estalar dos dedos.
O senhor falou em dedicação à assistência social. Recentemente tivemos a interrupção de repasses para a Apae. Como está essa situação?
Está tudo resolvido. Só quando tranca por uma questão legal. Não tem repasse só quando não tem prestação (de contas) bem feita, e na minha gestão vai continuar sendo assim. A prestação sendo feita corretamente, todos os repasses serão feitos. Mas vou priorizar a questão legal. Nunca foi trancado nada contra a Apae. A questão é: está dentro da legalidade? Se está, é feito, ponto. Não tem essa de “porque é a Apae vamos dar uma arrumadinha aqui ou ali”. Não, isso não existe nem com Apae e nem com outra instituição.
O senhor comentou que já viveu períodos mais turbulentos...
A política de Bom Jesus é bem movimentada, as disputas políticas são bem acirradas, deve ser uma das mais acirradas do Estado, senão do país. Mas o momento agora é de calmaria. A gente está numa situação de conversação, alinhamento do que é melhor para o município. O diálogo a gente tem com a Câmara e, sendo bom para o município, não tem por que eles não aceitarem ou eu não aceitar.
Por que o senhor acha que a política é movimentada em Bom Jesus?
É uma questão histórica. Nosso povo é muito político, gosta e entende de política. Os governos, se são ruins, saem em Bom Jesus. O povo tira.
Com relação aos atos pelos quais o prefeito foi condenado, como o senhor avalia?
Não tenho como avaliar. Foram atos que o prefeito não teve participação, eu acompanhei e sei disso, fui um dos coordenadores da campanha e sei disso. Mas a Justiça achou diferente e temos de respeitar.