A proposta da prefeitura de Caxias do Sul em "proibir a construção, divulgação e apreciação de material que disponha sobre as chamadas 'ideologia de gênero' e/ou 'identidade de gênero' nas escolas municipais" voltou a ser debatido na Câmara de Vereadores na sessão desta quinta-feira (14). O assunto retornou ao plenário pois o Legislativo recebeu nesta semana respostas da Secretaria Municipal da Educação (SMED) após pedido de esclarecimentos ao projeto protocolado pelo Executivo no final do ano passado.
Na leitura do ofício encaminhado pela SMED, a vereadora Denise Pessôa (PT) fez fortes críticas às informações assinadas pela titular da pasta. A petista insinuou que houve distorção das teorias citadas pela secretária para embasamento da proposta.
- Não tratar sobre gênero nas escolas é aumentar a evasão escolar, aumentar o preconceito, homofobia, violência nas escolas. É um desrespeito usar um texto de uma professora que foi, que tem muito estudo e pesquisa para isso, para justificar uma insanidade de um projeto desse, uma desonestidade intelectual tamanha, que é sim de um governo mau caráter - afirmou a parlamentar.
Denise afirma que solicitou a relação de livros que seriam utilizados em escolas e que contivessem material alusivo à ideologia de gênero, mas alega não ter recebido nenhum título que fizesse menção ao tema.
- No projeto eles dizem que era para a rede municipal não construir material didático sobre gênero, aí eles dizem que não há material construído pela secretaria. Então para que fazer projeto? Para dizer que não é para fazer, se não existe material... Não há materiais construídos pela Secretaria Municipal da Educação ou pela rede municipal de ensino, pois as escolas, atualmente, possuem autonomia para as suas práticas pedagógicas. É uma piada - ressaltou.
A vereadora também repreende a secretária sobre suposta culpabilidade que o projeto acabaria direcionando aos professores:
- A gente tem um monte de professor capacitado para trabalhar sobre gênero e ninguém está ensinando sexo dentro da sala da aula. Os professores agradecem se conseguirem manter 30 alunos prestando atenção na aula por 20 minutos e quem dirá ensinar a fazer sexo.
Outros vereadores também reiteraram críticas ao material encaminhado à Câmara e também ao projeto de autoria do Executivo.
- Não surpreendeu em nada (o teor dos esclarecimentos). Veio aquilo que a gente imaginava. Não diz nada, enfrenta os professores, deixa os professores numa saia-justa, constrangidos inclusive, e a gente tem certeza de onde vem esse pensamento. Não precisa pensar muito para saber de onde vem essa ideia de pensamento único que vem da cabeça do prefeito - salientou o parlamentar Felipe Gremelmaier (MDB).
Na crítica mais contundente, Denise Pessôa lamentou a postura da secretária e a definiu como puxa saco do prefeito Daniel Guerra (PRB).
- Eu nunca vi alguém rasgar o seu diploma e seu conhecimento para puxar o saco do prefeito. É uma vergonha. Agora (Marina Matiello) assumiu até uma cadeira no Conselho Municipal de Educação para defender as propostas (do prefeito) pessoalmente, porque a tarefa é pessoal. É de aplaudir. Está faltando pouca coisa para discutir dentro das escolas, não é? - afirmou.
O Pioneiro tentou contato com a secretária ao longo da tarde desta quinta-feira (14), mas não obteve retorno.
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