Os candidatos de Caxias que disputaram vaga à Assembleia Legislativa são unânimes ao justificar a derrota. Todos defendem que o número inflado de concorrentes diluiu os votos e confundiu o eleitor. O resultado não poderia ser pior: a cidade não legeu deputado. Em 2010, com 13 candidatos, a cidade elegeu três deputados estaduais. Nesta eleição Caxias lançou 35 nomes, 13 deles defendendo partidos com atuação perto do zero.
Exemplo: a votação obtida pelos seis candidatos do Partido Ecológico Nacional (PEN) foi de 1.021 votos. A votação é inexpressiva, mas tirou votos de quem tinha alguma chance real de chegar lá. Ainda no domingo Marisa Formolo, presente no parlamento gaúcho desde 2006, lamentava a postura do PT. O partido dobrou o número de candidatos em comparação com 2010.
- Entre quatro candidatos é muito difícil eleger alguém. Eu e (Marcos) Daneluz fomos contrários à decisão do partido e ele (Daneluz), sem dúvida, foi o mais prejudicado. Se só nos dois estivéssemos concorrendo, sobrariam mais de 6 mil votos para nos eleger - avaliou.
Daneluz fracassou por 357 votos, diferença que o separou do eleito Adão Villaverde, de Porto Alegre. Juntos, os quatro petistas somaram 64 mil votos. Outra política tradicional que não conseguiu manter a cadeira na Assembleia foi Maria Helena Sartori. O PMDB também descartou lançar candidato único e o vereador Edson da Rosa entrou na disputa. A decisão também foi criticada por Maria Helena na noite do domingo, embora estivesse mais ocupada em celebrar a passagem do marido José Ivo Sartori ao segundo turno do que lamentar a própria derrota.
- É lamentável essa situação. A disputa no partido, com mais de um candidato, é o principal motivo para não me eleger. Isso é uma falha de todos os partidos da cidade - declarou.
Vinicius Ribeiro, deputado desde 2013, quando assumiu a vaga do prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT), fez votação expressiva, mas insuficiente (29.565).
- Os partidos erraram indicando ou permitindo um número grande de candidatos.
Veja o que os presidentes dos principais partidos dizem a respeito da falta de representatividade de Caxias na Assembleia Legislativa.
Pedro Incerti
Presidente do PDT em Caxias do Sul
"Eu não me responsabilizo por não elegermos deputado estadual porque foi uma decisão do partido, resultado de uma discussão interna. Eu pretendia inscrever meu nome também mas em razão do grande número de candidatos reconheci que era inviável e abri mão. A decisão de concorrer com um grande número de candidatos não foi só do PDT, mas sei que dificultou a eleição de todos. Os votos do Jaisson (3,4 mil) não elegeriam nem Vinicius nem Kalil, mas entre os dois maiores, um tirou voto do outro. É difícil convencer um candidato a desistir por um bem maior em virtude das vaidades dele. Sabemos que fizemos um erro estratégico, mas não adiantava somente o PDT reduzir o número de candidatos. O correto seria todos os partidos reduzirem e que houvesse comunicação entre nós. Agora é preciso corrigir para a próxima eleição já que ficou claro para todos os partidos o que aconteceu. No meio do caminho já prevíamos o erro, mas era tarde demais para reparar"
Ari Dallegrave
Presidente interino do PMDB em Caxias
"Absolutamente, não me sinto responsável por não termos representante na Assembleia. Até porque assumi o partido quando a cena já estava praticamente formada (Sartori que comandava o partido se licenciou para concorrer ao governo do Estado no começo do ano). A vontade do diretório de Caxias do Sul era ter um concorrente forte, apenas um. A corrente que se formou queria a candidatura única. Porém, mesmo antes das convenções, o candidato Edson da Rosa buscou a inscrição dele no partido em Porto Alegre. Ele não nos deu oportunidade de definirmos a estratégia e a candidatura. A primeira etapa era decidir quantos iriam concorrer e a segunda era decidir quem seria. Ele não trapaceou, não acho que seja esse o termo, mas procurou o que era de vontade própria. Como sequer cogitávamos não lançar a Maria Helena, não nos sobrou discussão. Trabalhamos pelos dois candidatos e a orientação era de que trabalhássemos ainda mais pesado já que a situação era difícil. Nós já sabíamos que correríamos esse rico e alertamos diversas vezes. Fica o aprendizado para que nas próximas eleições, o partido decida com antecedência quem será o candidato. Só que quem pagará pelo preço dos erros dos partidos da cidade é o povo"
Silvana Piroli
Presidente do PT em Caxias
"Não nos sentimos responsáveis porque quem decide quem concorre ou não a candidato é o PT a nível estadual. A eleição não é municipal e por isso não temos o poder de escolher quem vai ou não disputar. Não elegemos candidato na Assembleia por vários fatores. O grande índice de votos brancos ou de abstenção contou bastante. A questão é que houve redução de votos em relação a todos os candidatos. Houve, sim, pulverização dos votos, mas o PT teria elegido pelo menos um deputado caso tivéssemos o mesmo número de cadeiras na bancada. Temos que respeitar o resultado das urnas e estamos nos preparando para o segundo turno. É para isso que a militância do PT está organizada agora"