Uma redução histórica no número de roubos ao comércio em Bento Gonçalves foi registrada em novembro deste ano. Em 30 dias, foram apenas três registros, o que representa 75% a menos se comparado ao mesmo período de 2022, quando houve 12 ataques contra estabelecimentos na cidade. Já no acumulado do ano, Bento teve 21 roubos e se encaminha para um recorde de reduções na década — a média desde 2014 é de 90 crimes deste tipo por ano. Os dados foram compilados do sistema de Gestão de Estatística em Segurança (GESeg) do Programa RS Seguro.
De acordo com o 3º Batalhão de Áreas Turísticas (3º BPAT), só neste segundo semestre Bento teve uma queda de 59% na comparação com o período de 2022. O comandante do 3º BPAT, tenente-coronel Artur Marques de Barcellos, reforça que desde 2019 os registros ficaram abaixo dos 50. O último ano com maior número de casos foi 2015 (180).
O paraibano Matheus Pedrosa, 29 anos é proprietário de uma rede de lojas que vende celulares, eletrônicos, acessórios e oferece assistência técnica. As quatro unidades ficam no centro da cidade e, segundo o empresário, o município serrano é bem seguro e diariamente ele visualiza policiais circulando.
— Enquanto o comércio está aberto eles estão aqui. Saímos às 19h e eles estão caminhando e conversando aqui na rua. Nós se sentimos seguros perante outros locais do Brasil. Bento tem uma criminalidade muito baixa — afirma Pedrosa.
Segundo o empresário, nenhuma de suas lojas foi assaltada nos 15 anos de atividades. Mesmo assim, Pedrosa opta por não colocar em exposição todos os produtos no balcão e conta com câmeras de segurança no estabelecimento.
Descontentamento persiste
Já os empresários Enio Bianchette, 58 anos, e Dejair De Biasi, 49, proprietários de uma ótica, não sentem a mesma segurança. A loja que administram, na Rua Saldanha Marinho, integrante de uma rede de sete unidades em Bento e região, foi assaltada há cerca de 15 dias. De acordo com os proprietários, um homem usando capacete entrou armado no estabelecimento e, em apenas quatro minutos, ameaçou as atendentes com arma de fogo, levou mercadorias e dinheiro. O criminoso, então, saiu, subiu na carona da moto de um comparsa que o aguardava na rua e ainda efetuou ao menos três disparos para o alto.
Os meses de novembro e dezembro são, historicamente, os mais visados pelos criminosos pela movimentação para as compras de presentes do final do ano. Contudo, segundo De Biasi, nos demais meses também ocorrem crimes.
— Temos loja há 20 anos, com uma média de um assalto por ano. Em 2023, já foram dois. Não é possível sentir segurança na hora de trabalhar se a polícia não pega o ladrão que entra na tua loja — desabafa ele.
Outra reclamação do empresário é que os policiais na área central de Bento ficam aglomerados. Na visão de De Biasi, o correto seriam duplas de brigadianos circulando por mais ruas. O empresário relata ainda que, em conversas com proprietários de lojas do mesmo segmento, todos comentam o mesmo.
Outro estabelecimento que entrou nas estatísticas de novembro em Bento foi uma lancheria na área central. De acordo com a proprietária, Lenir Wilmsen, 55, o estabelecimento teve uma porta quebrada pouco depois das 5h do último dia 18. O criminoso entrou no estabelecimento e saiu poucos minutos depois, levando dinheiro e mercadorias. Uma vizinha da Via del Vino ouviu o barulho e chamou as autoridades.
— A nossa lancheria é familiar e é o nosso sustento. Mas a gente não se sente seguro aqui. A polícia vem pouco aqui na frente, passam mais de carro do que a pé — reclama a moradora.
"Com os números não se discute"
O comandante do 3º BPAT afirma que os números estão abaixo do esperado para uma cidade de 121 mil habitantes, conforme dados do Censo de 2020:
— Normal é a sensação de insegurança, mas com os números não se discute. O que as pessoas sentem é particular, é difícil de medir. No mundo ideal seria zero esse número (de roubos a comércio), mas a gente sabe que é impossível.
Além dos dois crimes citados acima, o último registrado, segundo Barcellos, aconteceu na última sexta-feira (24), quando os criminosos levaram de um estabelecimento comercial cerca de R$ 700. Assim como no caso da ótica, os ladrões também utilizaram motos em situação de furto ou roubo. Ambas já foram apreendidas pela Brigada Militar (BM). O comandante reforça que os números de 2023 apresentam redução graças a uma atuação preventiva e estratégica da BM, além do planejamento das ações, sejam elas rotineiras ou pontuais, como as operações integradas com os demais órgãos de segurança.
Uma das estratégias elencadas por ele é o policiamento comunitário, onde os policiais realizaram mais de 3 mil visitas ao comércio neste ano, buscando informações e repassando orientações de segurança aos estabelecimentos. O policiamento comunitário em Bento funciona de duas formas: as visitas realizadas em diversos pontos na cidade, nos distritos e na área rural e a participação da BM em grupos de WhatsApp.
Barcellos relata que há grupos com entidades empresariais, como Sindilojas e CDL, grupos com os empresários de estabelecimentos no Caminhos de Pedra, entre outros. Isso, além de grupos com moradores de bairros mais periféricos.
Outro dado que mostra a melhora nos indicadores, segundo o comandante, é referente ao roubo a pedestres — a expectativa é que esse índice fique pela primeira vez abaixo de 100 casos. Até novembro, 86 pessoas registraram o crime. Em termos de comparação, em 2022 foram 114 casos. Nos últimos 10 anos, o pico foi em 2016, com 391 casos. O número de 2023 é menor, inclusive, do que o do período de pandemia, quando houve 107 registros, em 2020.
Registre a ocorrência
:: Barcellos comenta ainda sobre a importância do registro da ocorrência.
:: Ele salienta que o comerciante ou o pedestre deve entrar em contato com a polícia via telefone 190.
:: O 3º BPAT conta também com um canal de denúncias pelo WhatsApp (54) 99657-1353.