Quase 11 dias após o acidente que matou Patrícia Aguiar Cabral, 40 anos, a Polícia Civil de Gramado trabalha para encaixar as informações sobre o que aconteceu no início da madrugada do último sábado (8), no cruzamento da Rua Leopoldo Rosenfeld com a Reinaldo Bertoluci. Patrícia foi encontrada gravemente ferida, ao lado da motocicleta que conduzia. A motorista suspeita de estar envolvida foi presa nesta quarta-feira (19).
A funcionária de um hotel do município foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhada ao Hospital Arcanjo São Miguel, em Gramado. Depois, ela foi transferida para o Hospital de Caridade de Canela, onde morreu. Perto do corpo de Patrícia, familiares viram peças de um carro, possivelmente envolvido na colisão. Esse material está ajudando os investigadores a elucidar o caso.
Ocorrência x necropsia
Um dos pontos que chamou a atenção para o caso é que após a morte de Patrícia, a família teve o corpo liberado para o velório. Sem entender se era o procedimento correto, os familiares procuraram a Polícia Civil. Segundo o titular da Delegacia de Polícia do município, delegado Gustavo Barcellos, foi a partir daí que houve o conhecimento do fato.
— Determinamos que o velório fosse suspenso, que a remoção do corpo fosse feita para ser enviado ao Posto Médico Legal. A família já tinha recolhido alguns vestígios, que seriam pedaços do outro veículo, o que indicava que tinha a interação de dois veículos (no acidente). Então, esse fato, necessariamente, teria que ser investigado — comenta o delegado.
Outro ponto, conforme Barcellos, é que toda a morte que não é natural deve passar por necropsia — um procedimento médico com o objetivo de determinar a causa. Neste caso, por se tratar de um acidente de trânsito, o corpo de Patrícia deveria ter sido enviado para necropsia antes de ser liberado à família, o que só ocorreu com a intervenção policial.
Na hora do acidente, a Brigada Militar (BM) foi acionada pelo 190, para atender a ocorrência. De acordo com o comandante da corporação na cidade, Marcelo Junior Montini, não será divulgado quem teria relatado o acidente à BM para não atrapalhar as investigações. Montini ainda afirma que foi feita uma ocorrência relatando "lesões corporais culposa na direção de veículo automotor", após interpretação dos policiais sobre a cena da colisão.
— Após a morte, houve o encaminhamento desta ocorrência para a delegacia de polícia, desta lesão culposa que foi o que os policiais haviam presenciado — diz o comandante.
A Polícia Civil, porém, nega ter tido acesso à ocorrência antes da família entrar em contato.
Identificação de suspeita
Uma mulher de Três Coroas foi identificada como suspeita de ter envolvimento na colisão. Ela foi ouvida pelo delegado na segunda-feira (10) e alegou que estava em uma lancheria, em Canela, e que ingeriu bebida alcoólica enquanto assistia ao show de um amigo. A mulher não lembra de ter se envolvido no acidente com Patrícia, mas contou, em depoimento, que colidiu o veículo que dirigia, uma Spin, em uma árvore quando voltava para casa.
Um guincho teria sido chamado para levar o veículo para a residência da suspeita. O amigo que se apresentava também teria ajudado a mulher. A polícia apreendeu o carro, que foi encontrado embaixo de uma lona, e os celulares da suspeita e do amigo para serem periciados.
Prisão de suspeita
A mulher foi presa preventivamente pela Polícia Civil de Gramado nesta quarta. Uma equipe se deslocou a Lages (SC), onde a suspeita estava morando. Segundo o titular da Delegacia de Polícia no município gaúcho, Gustavo Barcellos, a mudança de estado não é considerada uma tentativa de fuga, pois foi informada ainda em depoimento à polícia, no último dia 10.
Investigação da conduta de hospitais
Dentro do inquérito, o delegado Gustavo Barcellos investiga a conduta tomada pelos hospitais de Gramado e Canela. Sobre o primeiro hospital onde Patrícia foi atendida, no caso, em Gramado, haverá investigação para entender se a transferência da paciente em estado gravíssimo foi o procedimento correto.
Já em relação ao Hospital de Caridade de Canela, a investigação será sobre a liberação do corpo sem comunicar a polícia.
— Nós vamos pedir informações para o hospital de Gramado e para o hospital de Canela de como foi liberado o corpo para a família num caso de, evidentemente, morte violenta — destaca Barcellos.
A advogada da instituição canelense, Rosilá Salbego, informa que uma verificação interna sobre o ocorrido está sendo feita e que um posicionamento deve ser feito após conversa com a polícia. Já o hospital de Gramado, em nota, afirma que a transferência foi feita porque equipamentos necessários para exames da paciente estavam em manutenção.
Nota completa do Hospital Arcanjo São Miguel
"O Hospital Arcanjo São Miguel vem informar acerca do atendimento prestado à vítima de acidente de trânsito na data de 08/07/2023.
O atendimento foi prestado em atenção aos padrões estabelecidos na presente situação, com necessário zelo da equipe médica. A vítima necessitava de exames complementares (tomografias) os quais não estavam disponíveis na instituição (em manutenção do dia 05/07/23 ao dia 10/07/23) e, por isso foi acionado o plano de contingência e transferida em estado estável ao Hospital de Canela. A transferência foi supervisionada pelos médicos que atendiam ao caso. Cabe esclarecer que não houve negativa de atendimento.
O Hospital se solidariza com a família e todos que sofrem pela perda do ente querido.
Em relação a divulgação de casos específicos, o HASM se reserva ao direito de não fazer comentários que possam ferir o sigilo médico ou interferir em investigações em andamento."