Após 10 anos, o tenente-Coronel Ricardo Moreira de Vargas, 46 anos, retorna a Caxias do Sul para comandar o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM). Ele assume a unidade com a aposentadoria do tenente-coronel Emerson Ubirajara de Souza. Pai de dois filhos, jogador de futebol amador, torcedor do Inter e violonista nas horas vagas, o novo comandante pretende trabalhar o lado mais humano da Brigada Militar (BM).
Nascido em 1977 na capital gaúcha, Vargas veio com dois anos morar em Caxias do Sul. A mudança ocorreu devido à carreira policial do pai, o também brigadiano José Luiz de Vargas, que atuou no segundo maior município da Serra entre os anos de 1978 e 1994. A família residiu no bairro Kayser. A infância e a juventude foram regadas por estudos e jogos de futebol nos times Enxuta e SER Caxias.
Em 1995, Vargas passou no concurso da BM e ingressou na vida militar. Quatro anos depois, assumiu o 1º Pelotão de Choque de Caxias e teve como missão inicial coordenar o curso de formação de soldados. Durante três anos à frente do grupo, coordenou a segurança de estádios de futebol, as revistas na penitenciária, prisões por tráfico de drogas, barreiras, romarias, eventos e apreensões de armas. Enfim, foi um trabalho bem dinâmico, segundo ele.
— Lembro de ter realizado o policiamento em um jogo do Caxias que encerrou num sábado à noite e tínhamos que estar às 6h de domingo empregados no policiamento da Fórmula Truck em Guaporé. Naquela oportunidade, nem fomos para casa. O pelotão inteiro dormiu no alojamento do Batalhão e, os que conseguiram, completaram o sono dentro do ônibus que nos levou à Guaporé — recorda Vargas.
Entre as situações que o tenente-coronel atuou de forma pioneira em Caxias estão a implantação do Termo Circunstanciado (TC), em que as pessoas não precisam se deslocar até a delegacia para registrar o boletim de ocorrência, e também as primeiras apreensões de crack no município. A droga era nova no país, estava ampliando seu conhecimento em grandes cidades como o Rio de Janeiro, quando surgiu pela primeira vez em Caxias em meados dos anos 1990.
Ainda em Caxias, Ricardo foi também chefe da agência de inteligência da BM. Depois, de 2005 em diante, assumiu cargos na área de Segurança Pública a nível estadual e municipal, como a coordenação-geral de Inteligência, em Brasília, e na Força Nacional. Também atuou na Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, na Casa Militar, no gabinete do governador e no gabinete do Comando-Geral da BM. Antes de retornar a Caxias neste ano, o tenente-coronel estava na Corregedoria da corporação militar em Porto Alegre.
Ao longo dos anos, Vargas formou-se no curso de Direito pela Universidade de Caxias do Sul. É pós-graduado em Segurança Pública pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e em Polícia Judiciária Militar pela Faculdade de Tecnologia Ippeo do Rio de Janeiro.
Comandar com um propósito mais humano
Ricardo Vargas já estava de olho na Serra quando trabalhava na corregedoria. Segundo ele, 70% das ocorrências atendidas no Estado envolvem os trajeto entre a Serra e a Região Metropolitana. Por isso, nunca deixou de acompanhar Caxias do Sul. Tanto pelo trabalho anterior e como em forma de agradecimento pelo acolhimento que a cidade lhe deu ainda criança.
Vargas destaca que priorizará o trabalho em três eixos: o primeiro envolve a valorização do policial militar. Os aspectos de autoestima, realização profissional, acolhimento, saúde física e mental serão priorizados, assim como a segurança no exercício da profissão.
— Não faremos nada sozinhos. Como diz o nosso lema aqui no 12° BPM. Ninguém é tão bom quanto todos nós juntos, ou seja, ninguém individualmente é maior que a coletividade que nós representamos. Mas o grupo precisa ser fechado. Os problemas devem ser resolvidos dentro de casa. E a nossa casa é o 12ºBPM — saliente ele.
O segundo eixo no trabalho do novo comandante é promover ações que fomentem a aproximação do policial com a comunidade local. Por exemplo, cercando as entradas de Caxias e principais pontos turísticos com viaturas, diariamente, para que a população tenha um ponto de referência policial. No terceiro e último, Vargas destaca a ampliação de parcerias. Na visão dele é necessário que haja uma troca entre forças de segurança para o combate aos crimes e entre instituições da sociedade.
— Se existe o tráfico de drogas é porque existe o consumo, esse é um problema social, por isso, faço um apelo de conscientização para que as famílias cuidem o que está acontecendo com seus filhos. Dos crimes que tivemos em Caxias do Sul, até o momento, dois terços envolvem o tráfico e todos devemos estar envolvido neste combate — detalha Vargas.
O intuito do comandante é seguir trabalhando na mesma linha da última gestão, tentando reduzir os índices criminais. Um importante passo, na visão dele, será o cercamento eletrônico que auxiliará na identificação de criminosos, de veículos roubados e demais delitos. O comandante também deseja trazer a sala do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), que recebe as ocorrências policiais via 190, para a sede do 12º Batalhão, no Kayser. O espaço onde hoje fica esse serviço, próximo ao Parque dos Macaquinhos, está com a estrutura inadequada.
Os amuletos da sorte que conduzem os 28 anos de carreira
O Diário Oficial do Estado já anunciou a chegada do novo comandante. Com esta garantia, a família começa a se mudar da Capital para a Serra. A esposa e os dois filhos, de 6 e 9 anos, finalizam os últimos trâmites para a matrícula na rede de ensino em Caxias. Após, todos estarão morando no município. O pai coruja gosta de ficar com a família nas horas vagas e de tocar violão. Inclusive já ensinou o filho de nove anos. O mais novo logo tomará conhecimento dessa arte, diz Vargas.
Além disso, o torcedor do Internacional, com frequência relembra os dias de jogador da adolescência, brincado com amigos em partidas de futebol amador.
Os pais de Vargas, agora aposentados, vivem em Santa Maria com a irmã do novo comandante do 12º BPM. Mas o tenente-coronel carrega a admiração pelo pai em um objeto que fica na nova sala de trabalho. Na estande atrás da mesa, há um capacete branco, com o logo da Brigada Militar, objeto que foi usado por José Luiz de Vargas durante os 16 anos de trabalho. Outra decoração da nova sala é uma coruja de madeira, que carrega dentro de si uma coruja menor, artefato que é possível ser vista pelos buraquinhos. O animal representa uma espécie de proteção para o comandante, assim como a Brigada Militar representa a segurança para sociedade.
Os objetos devem ficar por bastante tempo neste espaço. O tenente-coronel pretende se estabelecer em Caxias e fazer um bom trabalho ao longo dos próximos anos. Ele deve ser acompanhado pelo major Flori Chesani Junior como subcomandante. A dupla tem uma parceria de mais de 15 anos.