O plenário do Fórum de Guaporé ficou lotado para acompanhar o júri do feminicídio de Camila Biessek Estevan, 28, e o homicídio do tio dela, Cláudio Nestor Biessek, 58, nesta segunda-feira (26). O duplo assassinato aconteceu em dezembro de 2019. O réu é o professor de artes marciais Alceni Antonio de Araújo, 50 anos, que foi interrogado nesta manhã. Ele alega legítima defesa e injusta provocação da vítima.
Procurados antes do júri, os advogados Aline Cracco e José Neto já ressaltavam o histórico profissional e social de Araújo. Esta linha foi mantida durante a fala do réu no plenário. Araújo afirmou que nunca havia cometido qualquer crime ou agredido a companheira antes.
Em seu depoimento, o réu declarou que foi até a casa da companheira para "encher ela de beijo", mas que a encontrou alterada. Ele alega que Camila estava lavando louça quando começou a lhe ofender e partiu para cima dele com uma faca. O réu afirma que se defendeu e tirou a faca da mulher, só que o tio dela, Cláudio, apareceu com uma enxada e também foi para cima dele. Araújo relata que foi encurralado e, na briga, os dois caíram escada abaixo. Por fim, disse ter dado duas facadas no homem.
Ao se levantar, o réu afirmou que viu Camila do outro lado da rua e que foi até ela. Ele alega que a companheira o ofendeu e disse: "matou o único homem que eu amei na vida". Nesse momento, Araújo afirma que "perdeu a cabeça" e só se lembra de acordar no hospital.
O júri começou às 9h e tem todas as 60 cadeiras do plenário ocupadas. Nenhuma testemunhas foi ouvida, acontecendo apenas o interrogatório do réu nesta manhã. A expectativa inicial é que a sentença seja publicada antes das 19h.
A acusação é feita pelo promotor Cláudio da Silva Leiria. Para o Ministério Público, os crimes foram cometidos por motivo fútil, meio cruel e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Na morte de Camila, há o agravante de ser um feminicídio (morte de mulher em razão do gênero).
Relembre o crime
Um dos crimes de maior repercussão em Guaporé nos últimos anos, o duplo assassinato aconteceu no dia 27 de dezembro de 2019. Segundo a investigação policial, o desentendimento do casal iniciou na academia em que Araújo trabalhava. Mais tarde, por volta de 19h20min, o homem foi atrás da companheira na casa dela, na Rua Antonio Quatz, no bairro Conceição.
Cláudio, que morava na parte inferior da mesma residência, ouviu os gritos da sobrinha e tentou ajudar, mas foi golpeado diversas vezes por Araújo com uma faca. Cláudio morreu no pátio da residência.
Camila conseguiu correr para a via pública, mas foi perseguida e esfaqueada na esquina com a Rua José Bonifácio. Após matar a companheira e o tio dela, Araújo tentou suicídio cravando a faca no próprio peito. Ele foi socorrido e internado em um hospital sob custódia policial em razão da prisão em flagrante. Após, foi transferido para o sistema prisional, onde permanece recolhido preventivamente.