Um homem de 41 anos, que não teve o nome divulgado, foi preso preventivamente na tarde de quarta-feira (8), sob suspeita de ter cometido feminicídio em novembro de 2021, em Bento Gonçalves. Seis meses após a abertura do inquérito, as investigações, que já vinham sendo realizadas pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), tiveram um novo direcionamento: resultados periciais apontaram morte por esganadura, com emprego das mãos. Inicialmente, a ocorrência tinha sido registrada como suicídio, por enforcamento, e a alegação era de que o corpo da vítima tinha sido encontrado pelo próprio companheiro que, agora, foi indiciado pela autoria do crime.
O cumprimento de mandado ocorreu em uma construção civil onde ele estava trabalhando, no centro de Bento Gonçalves. Segundo a delegada Deise Salton Brancher Ruschel, que é titular da Deam, o acusado também está sendo investigado pela prática dos delitos de ameaças, perseguições e descumprimento de medidas protetivas cometidos contra uma mulher com a qual ele se relacionou após a morte da companheira.
— Um dia depois de concluirmos o inquérito recebemos uma denúncia anônima referente a este caso e isso também serviu como elemento para demonstrarmos a periculosidade dele na representação pela prisão preventiva, que foi deferida pela Justiça. A partir de todos os elementos que reunimos na investigação, ele foi indiciado pelo crime de feminicídio — afirma a delegada Deise.
"Ele modificou e a matou de forma cruel", diz delegada
A casa onde o casal residia, no bairro Santo Antão, foi o local onde a perícia encontrou o corpo da vítima. A perícia ocorreu logo após a Brigada Militar, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e até vizinhos serem acionados pelo próprio companheiro da vítima, que na ocasião relatou a todos ter encontrado ela morta. O caso foi registrado como suicídio, em uma morte por enforcamento com uma mangueira, conforme cena também constatada pela perícia, mas o caso foi diretamente encaminhado à delegacia especializada.
— No local não havia nenhum indício de que fosse outra forma de morte, mas a própria instituição nos pede uma diligência mais apurada quando trata-se de suicídio de mulher em ambiente doméstico, familiar — explica a delegada, que coordenou as investigações.
A partir de depoimentos e resultados periciais, a hipótese inicial, de suicídio, foi sendo cada vez mais afastada, conforme lembra a delegada, que diz ter consolidado um novo rumo a partir de diferentes indícios, começando pelo resultado da necropsia, que apontou morte causada por esganadura, e não por enforcamento, como havia sido alegado inicialmente.
Outro resultado pericial chamou a atenção dos investigadores: a concentração de álcool no organismo da vítima, que segundo a delegada, era de 25,8 decigramas por litro de sangue.
— A perícia aponta que ela estava completamente embriagada, ela não teria, portanto, condições de cometer suicídio daquela maneira que estava sendo alegada. Ele modificou e a matou de forma cruel — afirma Deise.
Segundo ela, a suspeita recaiu ainda mais sobre o companheiro da vítima, a partir do momento em que as equipes de investigação perceberam um interesse desmedido por parte dele acerca dos resultados periciais.
— Ele vinha com frequência até a delegacia, foi até mesmo ao Posto Médico Legal, sempre querendo saber qual tinha sido o resultado da causa da morte. Se tinha sido esganadura, usou este termo mesmo, ou enforcamento; se celulares estavam liberados... Era muita insistência por parte de alguém que está vivendo uma perda. Isso também nos chamou a atenção — relata a delegada.
O indiciamento do suspeito se deu por feminicídio, pela acusação da autoria do crime, mas, segundo Deise, ainda há a possibilidade de que o homem seja denunciado pelo Ministério Público ou mesmo investigado no atual inquérito — aberto a partir da mais recente denúncia — por outros delitos que possa ter cometido.