Quatro meses após o ataque a tiros que matou pai e filho e deixou outros dois feridos em frente ao Estádio Jaconi, os réus Leandro Silveira, 34 anos, conhecido como Xaropinho, e Maurício Cardoso dos Santos Borges, 31, seguem recolhidos no sistema penitenciário de Caxias do Sul. Em interrogatório, Silveira confessou o duplo homicídio e relatou ter uma antiga desavença com Willian Fialho Schneider, 37. As outras três vítimas, portanto, foram vítimas da conduta perigosa do réu, segundo denúncia do Ministério Público (MP).
O duplo homicídio aconteceu no dia 10 de dezembro de 2021, por volta da 0h30min, uma hora depois do jogo que garantiu a permanência do Juventude na Série A. O ataque aconteceu em frente à sede da torcida organizada Mancha Verde, na Rua Hercules Galló, onde dezenas de pessoas ainda comemoravam a vitória jaconera. No local, foram apreendidas 13 cápsulas de calibre 9mm, o que indica que o atirador descarregou toda a munição da pistola contra o alvo.
William e o pai, Gilberto Scneider, 57, estavam em uma barraca de cachorro-quente quando foram baleados e morreram. O atirador atingiu outros dois homens, que sobreviveram graças ao atendimento médico.
Na denúncia, o MP relatou que Silveira reconheceu o seu desafeto, Willian, durante partida no Estádio Alfredo Jaconi e aguardou pelo final do jogo. Ele deixou sua companheira em casa, pegou uma arma de fogo e retornou às proximidades do estádio.
Silveira foi reconhecido por testemunhas como autor dos tiros, enquanto Borges foi denunciado por ter dado apoio ao ataque. Ele teria sido o motorista do Fiat Palio que levou atirador até as proximidades do Alfredo Jaconi e, depois, ficou aguardando a execução para dar cobertura ao assassino e assegurar a fuga do local do crime.
Durante o interrogatório, Leandro Silveira confessou a autoria e afirmou que possuía desavenças com Willian, a quem conhecia pelo apelido de Dengue. Ao juiz, o réu afirmou que Willian lhe devia dinheiro. Pela dívida, Silveira alega que teria sido agredido e ameaçado, e que esse foi o motivo do assassinato. Após o duplo homicídio, o réu alegou ter vendido a pistola usada no crime e que desconhece o paradeiro da arma. Sobre o motorista que lhe deu apoio, Silveira preferiu não informar um nome, a fim de não sofrer represálias.
Por sua vez, Borges negou participação no crime. Durante o interrogatório, Silveira afirmou não ter contato com Silveira e alegou que, na noite do crime, estava no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, onde trabalhava com materiais recicláveis. Borges ainda afirmou não conhecer as vítimas e não participar de torcida organizada.
Silveira e Borges foram capturados pela Polícia Civil no dia 14 de janeiro e permanecem presos de forma preventiva na Penitenciária Estadual, no distrito do Apanhador. Um mês depois, eles foram denunciados por duplo homicídio e duas tentativas de homicídios. Os crimes são qualificados por motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima e por meio que resultou perigo comum, afinal havia vários torcedores no local na hora do ataque a tiros.
Vítima havia voltado para Caxias para torcer pelo Juventude
Alvo do ataque, Willian morava em Santa Catarina há sete anos. O motivo da mudança eram ameaças de um conhecido criminoso de Caxias do Sul. Essa desavença, que se iniciou em 2003 e seria motivada pelo relacionamento com uma mulher, também foi o motivo da morte de um irmão de Willian, Vinicius Fialho Schneider, 25, em 2011 no bairro Jardelino Ramos. O autor do crime foi condenado pelo homicídio em 2015 e permanece recolhido.
Familiares de disseram em juízo que Willian costumava vir para Caxias de duas a três vezes por ano para visitar os filhos, e aproveitava para assistir a jogos do Juventude.
No dia do crime, Willian veio novamente de Santa Catarina com amigos da torcida e se encontrou com diversos familiares para assistirem ao jogo juntos. Após, ele e o pai teriam procurado um local para jantar. Sem encontrar nada aberto, decidiram comprar cachorro-quente perto do Alfredo Jaconi, momento em que foram alvejados.