A rede Travel Inn se manifestou nesta sexta-feira (29), em vídeo e por seu advogado, sobre o boletim de ocorrência registrado por um hóspede que afirma ter sofrido preconceito racial no hotel Axten, em Caxias do Sul, nessa semana. O consultor comercial Neferson Martins, 28 anos, relatou ter sido expulso do hotel na última terça-feira (27) e registrou o caso na Polícia Civil. O advogado Carlos Eduardo Scheid, da Travel Inn, nega que tenha acontecido qualquer forma de discriminação e alega que o "checkout antecipado" aconteceu porque o hóspede não respeitava regras de convivência do estabelecimento, como a proibição de fumar nas dependências do hotel e a necessidade do uso de máscara.
No vídeo, Scheid afirma que a rede Travel Inn verificou imagens do sistema interno de monitoramento do hotel, entrevistou colaboradores e não constatou qualquer espécie de discriminação:
— O que houve, na realidade, e isto tudo está documentado e há robustas provas neste sentido, foi o desrespeito, por parte de um hóspede específico, de regras de convivência social, de convivência interna do hotel, inclusive de normas jurídicas como, por exemplo, advertência que é proibido fumar e a necessidade do uso de máscara. A insistência incessante e continuada de desrespeito ao regramento fez com que o hotel tomasse atitude legítima e juridicamente aceita de antecipação do check-out.
O advogado ainda diz que o hotel não tomou nenhuma atitude em excesso e que o hotel está colaborando com a investigação policial:
— O procedimento foi informado às autoridades públicas através de registro de ocorrência policial. Como o hóspede não aceitou a antecipação do check-out, o hotel, cautelosamente, acionou a Brigada Militar e tomou todas as medidas necessárias.
Consultor relatou tratamento diferente e publicou vídeos nas redes sociais
Martins é baiano e veio para a Serra prestar consultoria a uma multinacional. Ele desembarcou em Caxias do Sul no dia 8 de outubro e estava com a reserva paga até o próximo domingo (31). Ele relata que notou um tratamento diferente nas dependências do hotel desde a primeira semana de estadia.
Na terça-feira (26), Martins afirma ter regressado do trabalho e encontrado um funcionário do hotel dentro do seu quarto, mexendo em sua mala sem autorização. O consultor reclamou na recepção e admite que estava nervoso. A discussão e a expulsão foram filmadas pela vítima, que divulgou na sua rede social (veja abaixo).
O boletim de ocorrência foi registrado, conforme o relato da vítima, como "preconceito raça cor". O caso foi repassado à 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP). Segundo a delegada Thaís Sartori Postiglione, a partir de agora o inquérito irá apurar se a conduta de algum funcionário do hotel se enquadra na lei de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
O consultor comercial prestou depoimento na manhã desta sexta à Polícia Civil de Caxias do Sul. Segundo o advogado dele, Felipe Alves, o relato durou quase duas horas, pois Neferson estava abalado com a situação.
Alves nega também os relatos do hotel sobre desrespeito às regras de convivência social e interna do estabelecimento:
—Entre o período do dia 8 até o dia 26, ele fumou uma única vez, na garagem do hotel. Inclusive, nas dependências do corredor e no banheiro do quarto onde ele estava hospedado, havia forte cheiro de cigarro, mas não era proveniente dele. Não recebeu nenhuma advertência sobre o uso de máscara, e a utilização de máscara sempre foi observada por ele. Sobre o check out antecipado, entendendo que foi um excesso indevido, como também configura crime — diz o advogado, detalhando que os colegas do consultor comercial também já se manifestaram à polícia.
Neferson deve permanecer em Caxias do Sul até a semana que vem.