Foram três meses de muitas perguntas, tanto para a polícia quanto para a família de Antônio Ide Cavalli, 69 anos, que não entendia como o contador aposentado podia ter desaparecido do Centro de Canela sem deixar nenhuma pista. O silêncio da Polícia Civil foi rompido nesta terça-feira (9), com a prisão de três investigados pelo crime que é tratado como latrocínio. Esta investigação, que começou ainda no ano passado, foi tão cheia de detalhes que o delegado Vladimir Medeiros a definiu como a investigação policial mais complexa dos últimos 10 anos no município turístico de 35 mil habitantes.
— Desde o primeiro dia avançamos com as investigações, colhendo todo tipo de prova necessária para a responsabilização dos criminosos. Temos câmeras, testemunhas, laudos e perícias, mas também muitas provas técnicas que comprovam, sem sombra de dúvidas, a participação destes criminosos — afirma o delegado, sem revelar as técnicas de investigações.
Segundo a Polícia Civil, os três suspeitos presos invadiram o prédio onde o contador morava na Rua Felisberto Soares no início da noite do dia 5 de dezembro. Eles renderam e agrediram Cavalli até a morte. O trio permaneceu no imóvel até o meio-dia, quando saiu dirigindo a caminhonete Sportage prata da vítima.
— Eles deixaram o Centro da cidade em direção a São Francisco de Paula para depois retornarem para o interior de Parobé, onde ocultaram e incendiaram o veículo com o corpo da vítima dentro. Ainda aguardamos a perícia, que deve sair nos próximos dias, mas todos elementos da investigação apontam que o corpo encontrado (carbonizado) é do Cavalli — relata o delegado de Canela.
Filha mais velha do contador aposentado, Janaíne Cavalli relata que a família recebeu com alívio o desfecho do trabalho policial. Ela lembra do sofrimento que foi a falta de notícias diante do desaparecimento do pai e agradece o empenho dos policiais de Canela para esclarecer os fatos.
— Era o que todos imaginavam (o contador ter sido vítima de um assalto). Estamos acompanhando o trabalho da polícia, mas está tudo muito recente. Ainda estou em choque. Queremos ouvir o delegado. Não sei quem são os presos, mas temos que acreditar na polícia que trabalhou bastante. Levou o tempo que era necessário e tudo parece esclarecido _ comenta Janaíne.
Início tardio da investigação
O roubo com morte aconteceu na noite do dia 5 de dezembro, mas o desaparecimento do contador só foi informado para a Polícia Civil na noite do dia 9, quando o apartamento da vítima foi encontrado arrombado. Esta demora na comunicação do crime foi uma das dificuldades enfrentadas pelos investigadores, segundo o delegado, que ainda diz que a personalidade reservada da vítima também deixou o processo mais difícil. Cavalli não mantinha contato diário nem com os familiares e morava sozinho no prédio, já que o imóvel ainda estava em construção, o que dificultou o encontro de testemunhas:
— É uma investigação extremamente complexa em razão do acionamento tardio, que atrasou o início da apuração (policial). Outro fator é por ser uma vítima com pouquíssimos vínculos pessoais na comunidade.
Contador guardava milhões em casa
O contador aposentado tinha uma rotina pacata, segundo a família. Cavalli era o dono do prédio de quatro andares onde morava a duas quadras da Igreja Matriz, conhecida como Catedral de Pedra. Os únicos vizinhos eram os quatro lojistas que trabalham no térreo.
Além da aposentadoria, Cavalli vivia da renda dos imóveis que alugava, de acordo com a família. Ele costumava receber pagamentos em espécie e a polícia acredita que ele guardava uma elevada quantia em dinheiro em seu apartamento, o que teria chamado a atenção dos ladrões.
O inquérito policial ainda busca recuperar este dinheiro roubado. O delegado de Canela, porém, alerta que o início tardio das investigações facilitou o sumiço do dinheiro.
— Pela personalidade da vítima, que sempre foi reservada e com poucos vínculos, não se sabe ao certo o valor que teria dentro do imóvel. Imagina-se que possam ser milhões de reais.
Criminosos experientes
Os três investigados foram capturados na área central de Canela no início da noite de terça-feira (9) durante a Operação Bonsai. Segundo a Polícia Civil, o trio é morador da cidade e possui vasta ficha de antecedentes policiais, com envolvimento em diversos delitos, principalmente patrimoniais.
— Foi um crime muito bem organizado e por criminosos experientes. O líder (deste bando) possui histórico de delitos e sempre focando grandes empresários da região — explica Medeiros.
A Polícia Civil afirma que os três presos são os bandidos que invadiram o apartamento e mataram Cavalli. Contudo, a investigação prossegue contra outros suspeitos que participaram do latrocínio, mas não tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. Sobre o planejamento do assalto, o delegado Vladimir Medeiros afirma que os bandidos não tinham relação com a vítima.
— É uma comunidade pequena e a vítima é conhecida, inclusive sobre seu costume de circular com dinheiro (em espécie), levar este dinheiro para casa e ser proprietário de vários imóveis. Era um fato de relativo conhecimento da comunidade, não era necessário uma informação privilegiada sobre o assunto — aponta.
Os três presos, que não tiveram a identidade divulgada, optaram por permanecer em silêncio na delegacia, segundo o delegado.