Uma operação em Bento Gonçalves combate a lavagem de dinheiro realizada por membros de uma facção paulista que tem atuação nacional no tráfico de drogas. Foram cumpridas 22 ordens judiciais na manhã desta sexta-feira (4), sendo 13 mandados de busca e apreensão e nove medidas constritivas de indisponibilidade de imóveis e veículos. Um homem de 42 anos, apontado como um dos líderes do grupo criminoso, foi capturado no bairro Progresso. Ele era foragido da Justiça de São Paulo e era procurado desde agosto do ano passado. Segundo o MP, ele tem antecedentes por tráfico de drogas e homicídio.
A Operação Sintonia foi desencadeada pelo Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) - Núcleo Serra, e conta com o apoio de 50 policiais militares do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (3º BPAT). São quatro meses de apuração e 11 alvos já identificados.
A investigação tem como foco uma rede de pessoas ligadas à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas e de outras atividades ilícitas relacionadas a uma facção de São Paulo. No total, foram apreendidos nove bens, sendo uma casa, um apartamento e sete veículos. A residência no bairro Progresso foi descrita como de alto padrão, com comodidades como piscina aquecida, calefação, aquecimento solar e a óleo. No total, o patrimônio é estimado em R$ 2,5 milhões
De acordo com o Ministério Público, o preso chegou a ser apontado como o responsável pelo laboratório itinerante que refinava grandes quantidades de cocaína. O investigado é natural de São Paulo e estaria utilizando um documento de identificação falso em Bento, o que ainda é apurado.
Segundo o promotor Marcelo Tubino, coordenador do Núcleo de Inteligência do Ministério Público (MP), o preso deverá ficar poucos dias no sistema penitenciário gaúcho. As tratativas foram iniciadas para uma transferência, até para que o foragido possa responder pelos processos de crimes praticados em São Paulo. Confira a entrevista:
A investigação sabe o que esse foragido de São Paulo fazia em Bento Gonçalves?
Promotor Marcelo Tubino: Por enquanto, preliminarmente, a investigação mostra que esta pessoa veio para dissimular patrimônio e viver na situação de foragido. Ele adquiria e colocava esses bens nos nomes de familiares e pessoas próximas. Investia o dinheiro (do tráfico de drogas) em empresas, como salões de beleza, automóveis e imóveis. Hoje, foram cumpridos os mandados e fizemos a obstrução de nove bens, sendo uma casa, um apartamento e sete veículos. Um patrimônio total de R$ 2,5 milhões.
Qual era a função desse líder na facção paulista?
Torre (designação para liderança no grupo) é quem faz a redistribuição do dinheiro da facção e cria contatos. É uma pessoa operacional quanto à riqueza desta facção (cuida do aspecto financeiro). Não sabemos dizer quando veio para o Rio Grande do Sul, mas a investigação acontece há seis meses, tempo em que já estava estabelecido na cidade.
Quem são os outros investigados e quais os próximos passos da operação?
Todos os outros alvos são pessoas próximas dele. Claro que, nesta análise inicial, não conseguimos ampliar tanto a investigação. Nestes seis meses, o que vimos foram estas pessoas mais próximas e familiares. Com o decorrer das investigações, devemos ter mais desdobramentos. O Gaeco fará a análise dos documentos apreendidos hoje, que é uma quantidade expressiva, que devem revelar mais pessoas envolvidas, outros bens e mais patrimônio. Em um futuro próximo, acarretará no indiciamento por lavagem de capitais e, ao final, esperamos que este patrimônio seja revertido para a sociedade. No mínimo, serão mais seis meses de análise dos documentos até uma denúncia formal.
É uma preocupação o envolvimento desta facção paulista com o Estado?
Todos os representantes da segurança pública gaúcha monitoram a incidência e a instrução desta facção paulista. Mas, por enquanto, não é nada que preocupe. Tem algum ou outro caso pontual, mas nada endêmico. Neste trabalho de parceria com polícias e Secretaria de Segurança Pública, não sentimos uma preocupação. Também não significa que esses órgãos relaxem sobre a questão. Hoje, as facções do Rio Grande do Sul é que tem despertado um maior interesse. Essas, sim, exigem um total controle e dedicação das forças de segurança, pois são responsáveis por inúmeros crimes violentos.