A violência não tem fronteiras. Mulheres de diferentes idades, composições familiares, raças, religiões e escolaridades sofrem com companheiros abusivos, agressivos, ameaçadores. Mas, ainda que qualquer uma possa ser vítima desses homens, existe um perfil mais comum atendido no Centro de Referência da Mulher de Caxias do Sul: jovens adultas, brancas, cristãs e mães. É isso que mostra levantamento dos atendimentos presenciais feitos no primeiro semestre deste ano.
Os dados revelam ainda que mais da metade das vítimas de violência chegou ao Ensino Médio e a faixa de renda com mais casos de violência doméstica é de até um salário mínimo. De cada 10, sete já fizeram boletins de ocorrência na Polícia Civil e cinco têm medida protetiva, quando a Justiça determina o afastamento do agressor. Metade delas já foi ameaçada de morte e 8% foram mantidas em cárcere privado. A própria casa é o local em que mais ocorre a violência: 85% dos casos. No entanto, o restante extrapola essa barreira e ocorre publicamente, como em ruas, festas, residência de outros familiares e no trabalho, por exemplo.
Os dados foram mostrados na sexta-feira (7) durante um painel da Coordenadoria da Mulher na Câmara de Vereadores de Caxias. Durante a apresentação, a assistente social Suzane Dillenburg, gerente do Centro de Referência da Mulher, destacou que esses dados fazem parte de um perfil mais comum:
— Quando a gente fala de violência, a gente precisa deixar muito claro que não existe idade, cor e raça. Toda mulher pode estar em uma situação de violência doméstica.
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Suzane destacou que, em média, as mulheres que procuram o serviço são alvos de violência doméstica há 10 anos. Apontou ainda que o uso de recursos que afetam a saúde psicológica da mulher, como humilhações, ameaças e ataques à autoestima, são comuns antes da agressão física e, por serem sutis, muitas vezes são de difícil identificação.
— Isso (a violência psicológica) é um dos grandes fatores que determina a dificuldade de rompimento dessa violência — salientou.
O Centro de Referência da Mulher fez, no primeiro semestre, 641 atendimentos diretos. Desses, 300 foram presenciais e 341 por telefone. A soma é levemente superior à registrada no mesmo período do ano passado, quando foram 595. No entanto, conforme a gerente do Centro, esse aumento ocorreu no início do ano, antes da pandemia.
RS lança programa integrado contra violência doméstica
Na sexta-feira, dia em que a Lei Maria da Penha completou 14 anos, o Governo do Estado lançou um programa de enfrentamento à violência contra a mulher. Chamado de Agregador, ele está inserido dentro do RS Seguro. Conta com a participação do Executivo, Legislativo e Judiciário, além de 16 entidades do RS. O Palácio Piratini criou o Comitê Interinstitucional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.
Com meta de implantação total em 2021, quatro ações entraram em vigor. As medidas incluem um sistema de monitoramento do agressor, ações de conscientização nas escolas e com a comunidade em geral, além de ampliação dos grupos de reflexão de gênero em todas as comarcas do Estado.
Campanha Máscara Roxa
Uma forma de buscar ajuda de maneira discreta durante a pandemia é a campanha Máscara Roxa. Para indicar que é vítima de violência, basta a mulher pedir em uma farmácia uma máscara roxa. Em Caxias do Sul, 11 farmácias fazem parte da campanha. Também há estabelecimentos de Bento Gonçalves e Farroupilha que integram a ação.
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Outras formas de buscar ajuda
Coordenadoria da Mulher: (54) 3218-6026
Centro de Referência para a Mulher: (54) 3218-6112
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM): (54) 3220-9280
Patrulha Maria da Penha: (54) 98423-2154 (o número está disponível para ligações e mensagens de WhatsApp)
Central de Atendimento à Mulher: telefone 180