A demora para renovar os convênios do policiamento comunitário em Caxias do Sul, o que prejudica 20 localidades que perderam seus núcleos ainda em 2017, e a falta de respostas é apontada como uma demonstração óbvia do desinteresse da prefeitura, segundo vereadores e lideranças comunitárias presentes na audiência pública da última segunda-feira (21). A prefeitura não enviou representante para o debate.
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— É um projeto que dá certo e mobiliza a comunidade. A casa estava lotada, diversos presidentes de bairros e pessoas envolvidas (com o projeto) desde o início, quando Caxias foi (projeto-) piloto deste programa que aproxima a polícia da comunidade. O lado negativo é a ausência do município. Não sabemos qual é a visão do município — lamenta a vereadora Paula Ióris (PSDB), presidente da Comissão de Segurança e Proteção Social.
O vereador Alberto Meneguzzi (PSB) foi mais enfático em sua manifestação e comparou o valor mensal do policiamento comunitário com as despesas de viagens da prefeitura.
— Não tem policiamento, não tem vontade política. Tem um prefeito que só viaja. Um secretário de Segurança que não participa, que não tem vontade nenhuma de fazer com que o policiamento comunitário vá adiante. É R$ 30 mil por mês. O prefeito já gastou quase R$ 200 mil em diárias e passagens, este ano. Daria muito bem para financiar o policiamento comunitário — criticou.
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O projeto de Policiamento Comunitário foi implantado em Caxias do Sul em 2005. Em 2011, houve uma remodelação dentro de um projeto do governo do Estado, onde foram criados os núcleos na cidade. O último convênio é válido até 24 de dezembro de 2019 e contempla 34 PMs distribuídos em 10 núcleos que atendem 17 comunidades. Em contrapartida por morar no bairro designado, cada PM recebe um auxílio-moradia de R$ 868,86 oriundo do repasse da prefeitura.
Consepro não acredita no fim
O empresário Luiz Raimundo Tomazzoni, presidente do Consepro, não acredita que o policiamento comunitário terminará. A entidade, que participou desde o início do programa facilitando a remessa dos valores para os brigadianos, lembra do histórico positivo da iniciativa em Caxias do Sul e a importância de iniciativas que aproximem policiais e comunidade.
— O valor que a prefeitura investe é simbólico. Todos são a favor (do policiamento comunitário), pois não existe qualquer argumento contrário. Caxias do Sul foi laboratório (da iniciativa), funcionou e vieram (representantes) de outras cidades e Estados para conhecer. É bom para cidade. Por que deixar acabar? — questiona Tomazzoni.
O Consepro busca por uma audiência com a prefeitura para reforçar a importância do Policiamento Comunitário.
"Irão tirar o remédio da nossa segurança?", questiona presidente do Colina Sorriso
A comunidade do Colina Sorriso participou do policiamento comunitário desde o seu princípio e é exemplo de como cada cidadão pode fazer sua parte. O orgulho está estampado em cada entrada do bairro, que também serve de mensagem aos criminosos: no Colina tem câmeras de segurança; policiamento comunitário; moradores unidos.
— A base do policiamento comunitário é a segurança, mas junto vem a integração do bairro. No nosso bairro, cada morador é um policial. Cada um cuida do vizinho. Mais confortável e segura, a comunidade se solta e mostra que quer ajudar. Assim, a cidade fica melhor para todos — explica Gilberto Carlos Zago, presidente da Associação de Moradores (Amob) Colina Sorriso.
— Por morar aqui, o brigadiano conhece os moradores, a rotina do bairro e identifica cada pessoa ou carro que é estranho. Qualquer coisa, sabemos como entrar em contato com ele — conta a vice-presidente, Marisbel Rosso Tolfo.
Os moradores participaram da audiência pública na Câmara de Vereadores, mas apontam que o encontro foi "vazio" por faltar justamente quem poderia resolver: "a prefeitura ou alguém da secretaria".
— O sentimento é que irá acabar (o programa), mas não ficaremos parados. Sou contra paralisação, mas se tiver que fazer algum movimento pacífico, iremos fazer. O policiamento comunitário deu certo. Fazem 14 anos que estamos trabalhando e, agora que está redondo, irão tirar o remédio da nossa segurança? — questiona Zago.