Após três anos de espera e dois dias de júri popular, a morte de Lucas Raffainer Cousandier, 19 anos, tem seu desfecho. Autor confesso dos tiros contra o Ka perseguido, o soldado Emerson Luciano Tomazoni foi condenado a 11 anos e seis meses de reclusão por homicídio por dolo eventual e os crimes conexos, como fraude processual e porte ilegal de arma de fogo. Os outros dois réus foram absolvidos por homicídios e tiveram penas menores.
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Motorista durante a perseguição, o PM Devilson Enedir Soares foi setenciado a cinco anos por denunciação caluniosa e porte ilegal de arma de fogo. Como já cumpriu três anos em prisão preventiva, Soares irá para o regime aberto.
O réu Gabriel Modesto Ceconi foi condenado apenas por abuso de autoridade e, assim, tem sua pena já cumprida em razão da prisão preventiva. Para o promotor Eugênio Paes Amorim , a diferença entre as sentenças destes dois réus que não balearam a vítima pode ter acontecido porque o júri se sensibilizou com o fato de Ceconi ter perdido o pai e um irmão por câncer no tempo em que esteve recolhido.
As defesas já manifestaram que irão recorrer da decisão. O MP, por outro lado, ainda não tem uma posição. Convocado para júri após a transferência da promotora Silvia Regina Becker Pinto, o promotor Amorim, que é titular em Porto Alegre, preferiu não opinar sobre um possível recurso e afirmou que a decisão cabe a um promotor de Caxias do Sul.
Confira as reações dos envolvidos após a decisão dos jurados:
Soldado Devilson Enedir Soares
— Primeiramente, agradeço a Deus por tudo. Justiça foi feita tanto para gente quanto para a família (da vítima). Deu tudo certo, como esperávamos. Ansioso para sair da cadeia e voltar ao trabalho. A cidade precisa disso.
Soldado Gabriel Modesto Ceconi
— Meu sentimento hoje é de Justiça. Para mim, com certeza hoje a Justiça foi feita. Quero voltar para junto da minha família, que está me esperando. Estão há três anos aguardando por esse dia.
Soldado Emerson Luciano Tomazoni
Apesar da condenação por homicídio doloso e os crimes conexos, o soldado Tomazoni aparentava alívio com a decisão dos jurados com relação aos seus colegas de viatura naquela noite. Após abraçar amigos e familiares, o réu preferiu não se manifestar à imprensa e alegou estar sendo chamado pelo oficial de justiça. A defesa de Tomazoni afirma que irá recorrer em decorrência da pena.
Advogado Ricardo Cantergi, defensor do soldado Soares
— Irei recorrer dos delitos menores, pois houve uma divergência entre o Ceconi e Soares que tiveram exatamente a mesma conduta. Quanto ao fato mais grave, o homicídio, foi justo. Ceconi e Soares não dispararam contra o veículo (perseguido), está comprovado com materialidade e perícia.
Defesa de Gabriel Ceconi
Os advogados Ivandro Bitencourt Feijó e Maurício Adami Custódio aparentaram satisfação com a decisão dos jurados. Contudo, pretendem recorrer sobre a perda da função e a suspensão de outras atividades públicas por dois anos.
Mãe de Lucas Cousandier
— Não ficamos satisfeitos. Mesmo que fosse a pena maior, e esperávamos que os três fossem julgados (e condenados), não traria o meu filho de volta.Então, deixa na mão de Deus. Tenho fé em Deus e acredito mais na lei divina do que na nossa.
Promotor Eugênio Amorim
— É a avaliação que sempre faço quando participo do Tribunal do Júri. Fui chamado para Caxias do Sul para um processo muito difícil, especialmente aos outros dois réus que não foram aqueles que mataram propriamente a vítima. Desempenhei meu papel com força, vibração e técnica em nome desta mãe, pai e família. O réu que atirou na cabeça dele foi condenado por homicídio doloso. Estou satisfeito. Reconheço o direito dos jurados de absolver o que eles entenderam que não participaram do resultado morte.
Felipe Veiga
Após depor ao júri, o motorista do Ka naquela noite decidiu ir embora. De acordo com o promotor Amorim, o jovem mantinha um sentimento de culpa e não conseguia falar com a família de Cousandier, por isso preferia se retirar. A defesa, principalmente do réu Tomazoni, esbravejou que o motorista também deveria ser condenado em diversos momentos do júri.