Por mais impulsivo que possa ter parecido à primeira vista, foi com muita cautela que a lutadora de jiu-jitsu Patrícia Melo, 26 anos, imobilizou um assaltante que fugia de seguranças de uma loja na tarde de terça-feira, no Centro de Caxias. Era por volta de 13h30min quando ela saía do prédio onde mora, na Rua Marquês do Herval, quando percebeu uma movimentação estranha descendo a via em direção à Bento Gonçalves: um homem corria com uma sacola e era perseguido por quatro seguranças de um estabelecimento comercial da Rua Pinheiro Machado.
— A primeira atitude que eu tive foi tentar identificá-lo. Já moro aqui há dois anos e o tinha visto antes pela região algumas vezes. Sabia que era uma pessoa que não me traria risco de vida. Claro, ele poderia estar armado, mas eu teria percebido e agido diferente — comenta.
Foi no momento de interceptá-lo que a experiência com a arte marcial fez a diferença. Patrícia, que pratica jiu-jitsu há três anos, sendo dois como profissional, afirma que se utilizou do ensinamento de esperar pela reação do oponente antes de agir com a calma necessária para ter sucesso na ação.
— Segurei-o pelo tórax. Dei um tranque para cair e uma chave de braço para não ter problema de ele se virar — descreve.
Foi com surpresa que ela percebeu que o motivo da correria havia sido duas caixas de bombom.
— Eu evitei que ele levasse uma surra dos seguranças e até falei "Cara, se fosse por causa de chocolate, por que você não pediu que eu te dava?" — diz.
Por mais que parte da repercussão popular com o fato exalte uma suposta violência utilizada para conter o assaltante, conforme Patrícia, o objetivo foi o contrário:
— Não fiz força nenhuma, só segurei e imobilizei até a polícia chegar. Não queria deixá-lo ser agredido pelos seguranças. Eles até deram uns tapas nele, mas pedi para eles pararem e chamarem a polícia. Eu corri riscos, mas tentei ajudar tanto o ladrão quanto os seguranças — relata.
O homem preso tem 37 anos e seria morador de rua. De acordo com o 1º Distrito Policial, ele tem passagens por posse de entorpecentes, ameaça, dano, perturbação da tranquilidade e por furto de bolachas em 2014 em Vacaria.
Reação requer cautela
A experiência de Patrícia como lutadora e a calma que dedicou para analisar o cenário foram favoráveis para o sucesso da ação. A cautela, inclusive, é a postura que ela indica para quem, assim como ela, decidir reagir em circunstâncias semelhantes.
A mesma precaução é recomendada pela polícia. Conforme o titular do 1º Distrito Policial, Vitor Carnaúba, a observação é o principal requisito para o caso de vítimas ou testemunhas de ação criminosa agirem.
— Não podemos proibir a reação, mas é preciso observar com muito cuidado antes de agir. O criminoso pode estar acompanhado ou armado — comenta.
O delegado exalta o sucesso da ação de imobilização do assaltante, porém, cita que ocasiões semelhantes já terminaram em tragédia.
— Já tivemos situações em que tudo parecia favorável, mas terminou em morte de quem reagiu. Por isso, o ideal é que isso seja feito por pessoas que têm experiência e calma na hora de observar atentamente — complementa Carnaúba
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