Quem caminha pelas ruas de Campestre da Serra, 72 quilômetros distante de Caxias do Sul, não imagina que algo poderia abalar a calmaria da pequena cidade de cerca de 3,3 mil habitantes e onde a maioria dos moradores se conhece. Era esse mesmo o clima por lá até que o município entrou no mapa dos assaltos e explosões de agências bancárias. De alguns anos pra cá, o temor de um novo roubo ou explosão tem tirado o sono de muitos moradores, principalmente, daqueles que vivem no entorno das agências como a atendente de loja Leonilda Fortunatti Michelon, 54 anos. A casa dela fica em cima de uma das agências que existem na cidade.
— Estávamos dormindo. Eram 2h. Eles chegaram já com barulho de ferramentas e gritos. Levantamos e fomos para o outro lado da casa. É um horror. Eles começam a quebrar tudo e gritam, gritam... não ficou um vidro inteiro. Um terrorismo. Foram três explosões. Até hoje, chega aquela hora da manhã e, se estamos acordados, qualquer barulho de carro que passa já ficamos esperando (novo ataque) — lembra a moradora.
Além de causar medo aos habitantes, esse tipo de crime também gerou prejuízo ao município. Depois do último arrombamento, em 3 de junho do ano passado, o Banco do Brasil resolveu fechar definitivamente a agência na cidade, alegando falta de segurança. O ataque ocorreu no mesmo dia em que a agência do Banrisul voltou a funcionar após explosão ocorrida oito meses antes e relatada por Leonilda. Ela também ouviu a movimentação dos bandidos no Banco do Brasil que fica no outro lado da praça:
— Eu disse: "Meu Deus, de novo não".
O prefeito Moacir Zanotto até tentou manter o Banco do Brasil no município. Foi à sede, em Brasília, mas não teve jeito: o banco encerrou as atividades.
— Por falta de segurança, eles foram embora. É muito ruim porque somos uma cidade de pequenos agricultores, em torno de 800 famílias, e a maioria trabalhava com o Banco do Brasil por causa do Pronaf, empréstimos... foi um baque muito grande. Mas, o Banrisul e o Sicredi absorveram parte, 50% ou 60%, das pessoas que tinham conta no Banco do Brasil. Outros, ficaram com a agência (do Banco do Brasil) de São Marcos — contabiliza o prefeito.
Seu Teodolindo Panassol, 76, também lamenta a perda para a economia do município e para os moradores que, como ele, tinham conta no Banco do Brasil. Ele confessa, porém, que passou a dormir mais tranquilo com a saída da agência do prédio que ele mesmo construiu e que fica ao lado da sua casa.
— Estava acordado, ouvi um carro que parou e o barulho das ferramentas que jogaram na calçada. Daí, começou o assalto. Foi horrível. A primeira explosão não foi muito forte, mas a segunda foi de tremer tudo. O prédio não caiu porque fui eu que fiz — disse o aposentado, ao caminhar pelo interior do prédio vazio.
— Foi rápido, uns 10 ou 12 minutos e já saíram. Deram duas rajadas de metralhadora para cima e se foram — completou.
O idoso lembra com detalhes também do assalto anterior, em que os bandidos renderam um policial militar que ficou sob a mira de uma arma, enquanto eles roubaram a mesma agência, fizeram reféns e fugiram. Em ambos os casos, os criminosos foram presos pela Brigada Militar, que precisou unir forças com o efetivo de cidades vizinhas.
Da mesma forma que o pai, a filha de Panassol, Eliana Maria Panassol, 54, nutre os sentimentos antagônicos de lamento e de alívio com o fechamento da agência.
— O município perdeu porque a agência fechou, mas, agora, estou mais tranquila. (No último assalto) Abracei meu filho e pensei: pode ser a última vez que vamos fazer isso — disse a vendedora.
Além de Campestre da Serra, em Nova Roma do Sul, o Banco do Brasil deixou de operar com dinheiro. Mantém somente um escritório de negócios.
Efetivo já foi quase cinco vezes maior
Jorge Boeira da Silva, 57 anos, é um dos moradores de Campestre da Serra que teve a conta no Banco do Brasil transferida para São Marcos depois do fechamento da agência por causa dos frequentes assaltos. O pequeno empresário nasceu em uma localidade do interior e passou a vida toda no município. Ele lembra da época em que o número de policiais militares era bem maior. Informação confirmada pelo prefeito, Moacir Zanotto:
— Quando o município se emancipou, há 26 anos, havia 14 brigadianos. No interior, em São Bernardo, havia um posto da Brigada Militar com três policiais. O número só foi caindo. Hoje, está reduzido em três para toda a cidade.
O baixo efetivo impede que o posto da Brigada fique permanentemente aberto. Na manhã de segunda-feira, quando a reportagem esteve no município, o prédio estava fechado.
— Precisaria de reforços da Brigada. Aumenta o número de assaltantes e diminuiu o de brigadianos. Fica cada vez mais fácil para os bandidos e mais difícil para a gente que trabalha — lamentou o morador.
— A gente pede, mas dizem que municípios como nós, com até 5 mil habitantes, é três (policiais). Tem promessa, com a formatura de novos (PMs), de vir mais alguém. Estamos aguardando. Esses que têm aqui são muito eficientes, trabalham bem, mas três, fazem por três, né? — ponderou o prefeito.